quarta-feira, 5 de novembro de 2008

A euforia "Obama"

Felizmente, Barack Obama, o novo presidente eleito dos EUA, não lançou mão de sua cor para destacar a importância de sua eleição na história da humanidade. No discurso, como mostrou a imprensa, não citou uma única vez que era o primeiro presidente negro da "América".

Obama também não fez de sua eleição a grande festa, tão acreditada pelo mundo afora. Mostrou-se sério e austero no seu primeiro discurso como presidente eleito. Semblante altivo, parecia querer mostrar ao planeta que o desafio de mudança não é realizável apenas em expressões simbólicas, a exemplo das raciais, mas em atitudes políticas concretas.

O "sonho americano" que elegeu Barack Obama, desconfio, deposita sua esperança na reconstituição da grandeza da sociedade yanquee como grande potência do mundo, sempre acostumada a ditar as regras e rumos do jogo politico e diplomático. Não sei até que ponto um país solidário possa forjar-se deste novo quadro político. Que forje-se, torço por isso.

O ponto crucial, no entanto, não é esse de todo. Ainda não consegui sentir em toda essa euforia "Obama", por todos os cantos do mundo a render louros à imensa magnitude da democracia americana, a brisa de mudança tão aclamada, quando o império que faz do mundo sua marionete tomar seu lugar sensato e coerente na conjuntura mundial, ou seja, deixar de ser a esperança última de uma humanidade mais próspera. Pelo contrário, toda essa euforia é prova inconteste que o mundo vive o sonho americano como se fosse seu.

Perdoem-me os entusiastas do american way of life, mas isso não me parece nada promissor.

sábado, 25 de outubro de 2008

Lévy defende a revolução pela tecnologia

Na última quarta-feira, 22, asssisti a uma intrigante palestra do professor Pierre Lévy, no Teatro Castro Alves, como parte da programação do evento Fronteiras Braskem do Pensamento que vem trazendo a Salvador pensadores do mundo inteiro. O intelectual tunisiano é conhecido por introduzir dentro do intercampo da comunicação e tecnologia conceitos como inteligência coletiva e ciberespaço.

Bem, a proposição de Lévy é, em resumo, a criação de uma notação linguística universal capaz de ter sentido por ela mesma, tal como o faz a imagem. Isso porque, defende o pensador, o mundo caminha, a partir do invento da Internet, para um governo universal, guiado por uma inteligência coletiva capaz de trazer as soluções necessárias ao homem.

Uma idéia bem intrigante, mas tecnófila, para me apropriar do termo usado pelo professor Muniz Sodré ao avaliar o pensamento de Pierre Lévy. Primeiro, porque tal proposição desconsidera as especificidades inerentes ao processo de forjamento da lingua em um ou outro ambiente. A linguagem não é meramento código. Segundo, porque esquece que, como já bem pontuava Milton Santos, a história da humanidade deve ser sempre entendida a partir do estado da técnica e do estado da política, e essa última parece ter sido esquecida pelo ilustre intelectual tunisiano.

Outrossim, criticava Sodré ao fazer uma análise da palestra leviniana, a Internet, apesar de toda a potencialidade de multiplicar as formas de expressão e de opinião, tem criando detro dela seus feudos ideológicos, que a exemplo do que vemos no mundo real (em oposição ao virtual), escondem estratégias de perpetuação e domínio de poucos atores, detentores da mais valia econômica e política.

Em suma, a revolução proclamada por Lévy no campo tecnológico não garante por ela mesma a evolução socioeconômica galgada na democratização dos espaços, virtuais e reais, quiçá o acesso àqueles mais prestigiados.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Ensaio sobre a condição humana, não sobre cegos

O hábito nos faz cegos, já disse o filósofo alemão Georg Hegel. Que dizer então de uma repentina epidemia que faz fechar os olhos de toda uma sociedade, a começar por algumas centenas que são levadas ao confinamento de uma quarentena para não espalhar a peste aos demais cidadãos? Trata-se mesmo do enredo do livro do genial escritor português José Saramago, "Ensaio Sobre a Cegueira", transformado em filme pelo diretor Fernando Meirelles, produto, que pelo mau hábito "cego" de quem sempre se sente marginalizado por suposto preconceito, foi criticado pela Federação Nacional dos Cegos de Maryland (NFB). Foi dito que o filme traz os cegos como debéis mentais, incapazes de fazer qualquer coisa.

A Federação não enxergou que a história, inusitada e de uma sensibilidade inauditas para esse blogueiro, transcende à mera questão de se pessoas com deficiência visual são mais ou menos incapazes que as outras. O enredo é um convite provocativo para reflexão sobre que valores a humanidade se ergue. Sobre a condição e natureza humanas frente a situações limites. Quando traz a protagonista como a única a enxergar, Saramago reforça, ao meu ver, o traço metafórico contido nas entrelinhas do enredo, a saber, como que traduzindo, de que é sofrido, duro e cruel enxergar a realidade tal como ela é, mas é também preciso saber dela com clareza para fazer valer a esperança de um futuro mais promissor. Enxergar naquele contexto era ao mesmo tempo dádiva e martírio!

Por isso é de um reducionismo tacanho trazer tal obra-prima a questões especificamente ligadas a uma deficiência, no caso, a visual. Até porque se do filme e do livro se fosse retirar qualquer questionamento pertinente seria: estamos todos cegos, mesmo enxergando, ao caminho que estamos levando a humanidade? Lembro-me (algo parecido, não consigo reproduzir fielmente as palavras usadas) da última frase intimista e reflexiva do narrador em relação à protagonista (a médica que conseguia enxergar), instantes depois de o primeiro personagem a ficar cego recobrar a visão: "Ela pode está se pergutando: agora eu voltei a ficar cega?". E eu fico pensando: precisamos apagar todas as luzes para depois procurar um bendita vela?

domingo, 21 de setembro de 2008

Debate risível e lamentável

Foto: Max Haack


Pouco se viu ontem no debate promovido pela TV Aratu, como é de praxe em debates políticos, propostas concretas para Salvador. Para a tristeza da população soteropolitana, em todo o programa ou o telespectdor ria ou se lamentava. Ria quando Hilton Coelho, candidato pelo PSOL, fazia pilérias com o nome do prefeiturável pelo Democratas (DEM), ACM, "o Neto". Ria quando a câmera flagrava a cara de tacho do atual prefeito João Henrique, que de tão desarticulado, nunca sabia gerir o tempo de sua fala (como então poderia ele gerir uma cidade?). Riu também quando João errava o nome do ultrasocialista, chamando-o de "Rilton". Essa foi a parte engraçada, ao mesmo tempo preocupante.

A outra parte é mais grave, porque lamentável. O telespectador se lamentou quando ACM Neto ficou sem resposta ao ser perguntado por Antônio Imbassahy sobre seus projetos na Câmara Federal voltados para a modernização da capital baiana. Lamentou-se de constatar que dois gestores desta cidade, João Henrique e Imbassahy, legaram à soterópolis um abismo financeiro. Lamentou-se em saber que o candidato do DEM ache positivo que sua bancada na Câmara de Vereadores tenha aprovado um PDDU polêmico e questionável por várias entidades importantes para o desenvolvimento urbano, como o Crea e o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB). E deve ter se lamentado muito em ver Walter Pinheiro não assumir o jogo político de seu partido, o PT, que, de fato, tergiversou para o atual prefeito, quando foi responsável pelas secretarias onde hoje estão os piores problemas da cidade, como a de Saúde.

E, sem dúvidas, deve ter sentido arrepios de asco, quando presenciou a cena deprimente de um ex-prefeito, responsável pelo maior rombo nas contas públicas que esta cidade já viu, sob o atual papel de radialista, Mário Kertsz, querer bancar de estrela do debate e de paladino da cidadania, cometendo barbaridades que só fizeram contribuir para empobrecer um debate já trágico e expor quanto rídiculo é exercendo a atividade jornalística. De quebra, além de ridículo, Kertsz foi ingênuo, porque permitiu ao candidato Imbassahy afrontá-lo em rede de televisão, chamando-o de mentiroso, fazendo-o deste modo sair da posição de conforto, sempre em ataque através das ondas do rádio, que ele se acostumou a estar desde que saiu da prefeitura - temerária, diga-se de passagem - para se voltar à comunicação.

Por último, sem esquecer, vou deixar minha opinião muito clara quanto ao melhor desempenho do debate. O candidato do PSDB, Antônio Imbassahy, sobressaiu-se porque não recuou quando justificou sua ruptura com o carlismo, ignorou bem as perguntas mal formuladas de Hilton Coelho e atacou com propriedade as fraquezas de ACM Neto e Pinheiro.

sábado, 20 de setembro de 2008

À Sauípe, a boa nova

Foto: George Brito


Se Sauípe Folia é sem dúvida um "feudo burguês" não esperem que seus escravos assinem a carta de alforria. Pelo contrário, eles vão pagar para acorrentar-se o tempo que possível nos pilares paradisíacos, ou melhor, afrodisíacos, daquele complexo hoteleiro que a cada ano, durante três dias, sustentam uma burguesia em polvorosa e em êxtase, alguns deles literalmente. E neste caso, desculpe-me Cazuza, a burguesia cheira muito bem. À mulher, digo, sem vícios...

A composição, acreditem os incautos, é bem assim: um conjunto de hotéis luxuosos à beira de uma natureza exuberante, música, bebida, e lindos corpos femininos com duas peças de roupa miúdas a desfilar diante de olhos masculinos atentos e às vezes incrédulos (sei, leitoras, que nas suas cabecinhas, a coisa é inversa, e trata-se de uma peça só, mas cada macaco no seu galho). Embebeda-se rindo à toa durante o dia na piscina, vê-se o anoitecer já dançando, e madruga-se ensadecido após trio elétrico e banda no palco. Neste percurso, conhece-se uma pessoa ou outra, mas, acredite, isso é um mero detalhe. A trajetória é exaustiva, mas seu quarto de frente para o mar está ali à sua espera, que besteira.

Por isso, desde de que voltei extasiado de lá, faço questão de gritar aos ouvidos dos socialistas, estes de discursos radicais, que se a burguesia é Sauípe Folia, quão encantador é ser burguês. E, creiam, que já acreditei em Cazuza, mas agora passei a sentir a fragância burguesa, sem pesares. Embora saiba que fora do "feudo" tudo ainda cheira a carnificina. Ora bolas, o que tem de mau em desfrutar das benfeitorias do dinheiro e da estrutura imponente do capitalismo?

Digo, sem modéstia, que me senti em Sauípe como Pero Vaz de Caminha, a descobrir uma nova terra, de lindas mulheres de "vergonhas" cheirosas e bem tratadas caminhando "ingênuas" sem qualquer pudor. E citando as palavras de Caminha, em letras estilizadas na recepção de um dos hotéis do complexo: " à vossa alteza a nova do achamento desta vossa terra nova que se ora nesta nau gaçom achou... a qual bem certo crea que por aformosear nem afear haja aqui de pôr mais aquilo que vi e me pareçeo".

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

A criatividade baiana registrada pelas lentes do fotógrafo Max Haack

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Um jornalista e o pensamento de Milton Santos

Começo a ter contato com e a pensar, mesmo que tardiamente, nos ensinamentos do geógrafo baiano Milton Santos. E à medida que adentro suas idéias, não consigo mais me enxergar criticamente imbuído do papel de jornalista. É preciso coragem, alertava Milton, para mudanças, sobretudo, se elas dependem de romper com aquilo a que se está umbilicalmente ligado. Colocar idéias diferentes de um pensamento único nas máquinas que engendram a perpetuação de um sistema hegemômico de natureza técnica-informacional. Este é o desafio do jornalista.

É difícil advogar a solidariedade em prol do coletivo sem bater de frente com o rolo compressor da mídia, eminentemente neoliberalista, embora vomite um discurso mastigado de que preza pelas bases sociais. Claro que no noticiário registram-se a pobreza das cidades, a violência e as desigualdades. Mas esse registro, muitas vezes frio, fragmentado, e invariavelmente efêmero, não alcança as contra-racionalidades locais que, sob a forma de uma violência estruturada, se põe como contraponto à racionalidade dominante, aquela mesma dos anunciantes que mantém o jornal. Há um contrassenso em esperar do jornalismo as ferramentas para reversões da ordem mundial. A ampliação do espaço de debate público, tão anunciado com a democratização do meios de informação, é um escárnio ao que se idealiza da democracia. Onde poucos conseguem por opinião não se pode esperar outra coisa que não a tirania do conhecimento.

Contrassenso ainda maior é que, como jornalista, talvez se esteja mais perto das contra-racionalidades locais, as quais Milton Santos atribui o poder de resistir à hegemonia técnico, científica e informacional, com o cultivo de formas próprias de vida. É nas reportagens in loco, ouvindo o povo, conhecendo diferentes modos de ser, explorando seus lugares, que se toma dimensão das especificidades possíveis de mudança. O triste é, que não raro, tais formas de vida imprimem nas páginas seu lado mais hostil, sua face de escória de um sistema perverso. Desafio o leitor a pensar em Calabar, Alto das Pombas, Bairro da Paz, Mussurunga, Engenho Velho da Federação, Planeta dos Macacos (todos bairros pobres de Salvador) sem associá-los a um desolador quadro de criminalidade. Não porque exista ali apenas violência e bandidos, mas porque a mídia no seu dever de informar põe em relevo essa faceta, de forma cínica e demagógica. Como é fácil alertar à sociedade de suas mazelas, retroalimentando-se das mesmas e de seus promotores, dominadores dos centros de decisões que dizem até onde e em que nível deve chegar o desenvolvimento.

Demorei a acreditar que o discurso jornalístico, pujante neste conflito de ser social e ser empresarial, é ascéptico e muito bem articulado. Ou não é loucura uma empresa que vive do capital e para o capital advogar por uma causa socialista? Todo jornalismo nasce de esquerda, já me dissera uma experiente repórter. Engano enfadonho, todo jornalismo é essencialmente de direita, embora se esconda em história mais longínqua em um discurso de esquerda e mais recentemente em um discurso de sustentabilidade democrática. A emersão das contra-racionalidades é um risco para o domínio oligárquico midiático, apesar de se querer maquear os objetivos finais. Pesandores da comunicação dizem que a imprensa liberta ao mesmo tempo que escraviza. Meu entendimento é: a tal escravização, sobretudo da informação, dá-se a partir da mesma liberdade. É como se, a grosso modo, tivessem nos dando corda para nos enforcar.

E, assim, por fim, pergunto-me, como dizer isso se não neste blog? Queria saber dos blogs dos veículos de comunicação o que eles andam dizendo. E queria saber dos blogs do Calabar, Alto das Pombas, Bairros da Paz, o que eles têm a dizer...

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Estado de Polícia e Criminalidade

A polícia baiana está mais presente nas ruas, isso é fato. Desde 31 de julho, os soldados percorrem os bairros mais violentos de Salvador para evitar homicídios e combater o tráfico de drogas. Sob a rubrica Operação Nazireu - a polícia adora dar nomes enigmáticos as suas ações especiais - tropas especializadas vindas do interior reduziram nas últimas semanas em 50% o número de assassinatos na capital. A euforia, no entanto, durou pouco. Nos últimos quatro dias, foram registrados oito homicídios por três vezes consecutivas, sempre dentro do período de 24 horas.

Não se pode negar que a presença policial é fundamental para se manter a ordem. Mas o fenômeno acima descrito mostra a ineficácia de se instaurar na cidade um "Estado de Polícia" agigantado, o Leviatã com farda e armas. Anos vão durar para que se rompa uma cultura de medo incorporada dentro das comunidades carentes no mesmo ritmo que se prolongue o início da reconstrução e restauração de um tecido social saudável. As duas coisas estão umbilicalmente ligadas. Quem tem medo de polícia é o mesmo que teme o criminoso. Outro dia, ouvia do capitão Rodrigues de sua perplexidade ao testemunhar uma criança dizer: "polícia aqui, não"!

É uma evidência da guerra civil velada que assola Salvador nas suas reentrâncias. As bases já estão contaminadas. A reversão não se dará sem um processo árduo e violento, o sangue de muita gente inocente deverá correr. Urge o encaminhamento de um Estado solidário, que reestabeleça novas texturas sociais. Do contrário, o sistema perverso de geração de violência se perpetuará ad infinitum, enquanto o Leviatã policial tenta conter seus fantasmas.

sábado, 16 de agosto de 2008

Dolce lista, puta fila

Que dizer de listas? Telefônicas, utéis e ao mesmo tempo chatas; de presença, necessárias e sem graça; de aniversário, é bom comer e beber de graça, dar presentes, não, é besteira. Que dizer de filas? Do INSS, estressantes e inacredtiáveis; de bancos, testes de paciência e tolerância. Tem um sem número de listas e filas. A da boate Dolce, no Boulevard 161, é algo novo, espécie de fila-lista, ou seria lista-fila?

Sei lá... Seja qual for o modo de chamá-las, elas significam a mesma coisa: ordenamento de "otários", galgando por contatos vários, na agenda do celular, um disputado espaço da fina-flor murcha de Salvador. O cara ou a mina liga para um "canal" seguro e deita a lista: "vão eu, fulano, cicrano, beltrano, se puder descolar um vip, melhor". É bom desfrutar do metier, claro, quem pensa o contrário, vá lá pagar R$ 40 só pra sorrir, ora bolas. Com nome listado, o preço cai pela metade e você, porra, está na lista... Não entendeu ainda?

Assim... Chega-se às 2h da matina e aguarda-se na fila destinada aos listados. Quem não está na lista, entra, quem está não. O jeito é esperar. E vê as excentricidades: a fila-lista vai perdendo o sentido. Um "viadinho" sorridente passa a mão na cabeça do segurança troglodita: "como você tá querido?". Olha para outra lista-fila - aquela dos "vips", quer dizer, das putinhas - esboça um sorriso, aponta para uma vadia qualquer, de shortinho e pernas torneadas, e coloca a lady para dentro. Mulher dentro da Dolce, é dama, fora é prostituta. Gostou do álibi?

Incrédulos, homens vips e listados, inquirem seguranças. Resposta: a casa lotou, agora só com a rotatividade. De putas ou de viados? Que putaria é essa? Como assim, eu, listado, vip, do metier, vou ficar fora deste brega dançante? Não se ouviu isso. O silêncio veio da educação burguesa, seria estranho naquele puteiro chique soar a baixaria de classes sociais desqualificadas.

Mas é isso. Muitos nomes da lista e vips ficaram out do melhor da noite da sexta-feira soteropolitana. Isso tudo porque foram incluídos no rol seleto da lista dolciana. Que honra, fazer parte da elite excluída, já é alguma coisa. E, sem esquecer, é mentira essa história de putas e viados dentro da boate. É tudo intriga de quem ficou fora, sem gozar, com nome dentro. Nas próximas semanas, estarão fulano, cicrano, beltrano, todos putas e viados, aguardando a chamada. Quem será o próximo da lista? Espere na fila.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Sessão intimista

Bem caros e poucos leitores, quem não arrisca uma vez ou outra uma poesia? Bem , eu arrisco... Então lá vai uma...

A palavra nos jornais
Por George Brito

Não estou afim de um registro frio e meticuloso
Estou ansioso pelo fervor de letras vivas
De emoções fortes e vívidas tintas
Mas por que não me livro desse matiz negro e insosso?

Pequeno e insípido
Soneto mal acabado
Emenda torta, timbre desafinado
Eco surdo de um peito vazio

Espero ainda um bater vibrante
Inebriante a ponto de sufocar
Mas que inércia intelectualidade
Que apura a realidade como mesquinho retalho
Sem raiz, sem terra, sem feitio?

Pareço uma piada sem graça
Em busca do sentido
Para o riso, o sorriso, a gargalhada
Incessante procura
Desapaixonada, quão desfigurada

Ainda tateio o nada às escuras meio sem rumo
Minha força, minha luz
Vagueia meio apagada, inexpressiva
Sem vida uma palavra em mim
Que me traduza, que me seja, que me extravase

E sou jornalista?
Pode ser,
Mas vivo além de páginas outras
Minhas e de mais ninguém

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Um dia em Novos Alagados


Novos Alagados vive quase um novo momento. Quase porque as palafitas há pelo menos 20 anos não configuram mais sobre as águas um cenário que, embora imprimisse nas fotos uma paisagem romântica, simbolizou para o mundo miséria e condições subumanas. Poucas palafitas resistem agora ao tempo sobre terra firme e são inconfundíveis, não tergiversam: Novos Alagados quase venceu a pobreza.

"A fé não pode perder", disse o jovem Ivan (foto abaixo), 24 anos. Guerreira a crença do povo de Novos Alagados, uma comunidade que surgiu com o nome de Beira Mangue nos anos 70, depois que muita gente do interior veio para a capital a procura de emprego, atraída pela instalação do Pólo Petroquímico de Camaçari. Mas só não se sabe fé em quê, questionou lá em meados dos anos 80 o compositor Herbert Vianna na canção "Alagados". A arte de viver da fé fez a comunidade conquistar um pedaço de chão e deixar para as cicatrizes o passado trágico de se equilibrar em pontes e casebres de madeira podre, a alguns palmos acima da água fétida.

Bárbara (foto acima) nasceu e cresceu equilibrista. Continua no seu velho barraco, o mesmo que antes se sobressaltava por estacas da superfície escura da enseada suburbana. Hoje pisa firme, sem medo de encontrar base segura. Faz a cabeça dos vizinhos, por R$ 10, com tranças descoladas. "Meu sonho é montar um salão de beleza", conta entusiasmada. O salão de Bárbara ia ser legal, com rede de esgoto, instalação elétrica adequada, alvenaria, tudo que está em falta na sua casa e em de outros moradores. Uma amiga dela comentou: "bonito que, ainda sim, ela sonha".

Sonhos submersos, de Novos Alagados, que poucos estão se importando. "O que tem lá?", perguntou-se com resposta pré-idealizada. Bem, tem uma vista maravilhosa, têm crianças, e tem a alegria de Isodélia também. É, respondendo, ali não tem quase nada, e, ao mesmo tempo, tem tudo. A história deve sempre emergir para Novos Alagados. Para Isodélia, Rosenilda, Jerrie, Bitonho, Vera Lazarotto, Maria José da Conceição, Odete, Dona Maria, Benilton, Rogério, Ivan, Bárbara... Tem vida em Novos Alagados, para além das fotos.



Fotos: George Brito e Rafaela Rodomack




quarta-feira, 30 de julho de 2008

Doha e a cruel globalização

O fracasso da Rodada Doha prova que a utopia da globalização como agente diluidor de fronteiras está longe da materialização, mesmo na esfera econômica como se evidencia com o passo atrás das negociações sobre a queda das barreiras alfendagárias, quem dirá quanto a uma integração que privilegie o desenvolvimento sustentável, termo tão caro hoje em dia, das regiões pobres do mundo. O sistema perverso e cruel, como dissera Milton Santos em 2000, vige em práticas claramente imperialistas, frustando o que defendeu e disse o ilustre geógrafo baiano ao prognosticar um futuro promissor caso uma "outra globalização" tomasse curso.

Para isso, sentenciou Santos, seria preciso que políticas fizessem valer a democratização do sistema das técnicas, dos seus elementos cognitivos e tecnológicos. Sem resultados, Doha revelou que os países desenvolvidos e mesmo alguns em desenvolvimento, como China e Índia, não estão dispostos a dar vez no mundo para mercados produtores menores, mesmo que no ramo primário de alimentos. Se EUA e União Européia seguem subsidiando seus produtores significa que alimentos produzidos em outros países mais modestos não poderão concorrer no mercado global, e sua mais valia (o motor que moveria um mundo como um bloco, disse Santos) estaria comprometida frente ao risco da crise inflacionária dos alimentos já em curso se agravar. Isso pelo simples fato de que os grandes produtores já não dão conta da demanda crescente por alimentos no mundo. Note-se ainda que, com o fracasso de Doha, estão previstos menos R$ 100 bilhões em um ano girando no grande mercado global.

Evidente está que as políticas econômicas, decisórias para os caminhos da humanidade, não se libertaram de uma visão fragmentada da dominação de territórios, hoje em dia também virtuais, mas sobretudo ainda concretos. Proteger seus mercados, patentear tecnologias, invadir reservas naturais são sinais claros que a idealizada revolução miltoniana de baixo para cima, através de uma amplitude do acesso ao sistema das técnicas, só poderá forjar-se por meio de radicalismos estruturais de natureza política. Afinal, os recursos primordiais da sobrevivência humana, o alimento e a energa, viraram o ouro da mina perdida dos grandes exploradores. A globalização só é discurso, o instrumento para poder trilhar os caminhos.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Sob a sombra da violência, a liberdade perde terreno

Em carreira curta ainda de jornalista, já cansei de ir às localidades pobres de Salvador procurar familiares de jovens assassinados e deparar-me com explícito temor dos parentes e vizinhos das vítimas em fazer valer seu direito a protestar, a se colocar, em meio democrático propenso à desnudez de distorções sociais e humanitárias, em lugar de um silêncio ensurdecedor que põe sob sombras, manchas em progressão sem controle, a cara, a identidade, a essência, a vida, a condição humana de tais pessoas. Quando se restringem ao anonimato, ou se esquivam de denunciar o ônus que a elas impinge a violência, revelam o fracasso do Estado de Direito, do processo civilizatório, em face do êxito da barbárie.

Em âmbito jornalístico, parece-me inócuo, deveras frustrado, apenas o relato do silêncio e do temor destas comunidades tomadas pelo tráfico de drogas como evidência da ausência do Estado. Ainda que a cobertura jornalística se eforce na direção de cobrar das autoridades a resolução do problema, sinto que a questão de segurança pública está consolidando-se aos moldes do que fez da educação pública brasileira motivo de vergonha nacional. Dos mais velhos, é normal escutar sobre o alto grau de excelência das escolas estaduais em tempos passados. Outrossim, o que vemos hoje é reflexo da gradual decadência de tais instituições que ao longo do tempo foram sendo abandonadas, ao passo que o setor privado ingressou na área educacional como alternativa para a geração formada em colégio públicos promoverem aos seus filhos educação de qualidade.

Espanta-me que o mesmo erro se repita na problemática da segurança pública - que vem como óbvio reflexo ingrato da falta de investimento em educação. Vejo uma classe média e alta e o próprio Estado se refugiarem em recursos tecnológicos de segurança - como carros blindados, câmeras, aparelhos GPS - como alternativa razoável para preservar uma saudável integridade cidadã (física e psíquica). O engano é que isso não é nada salutar. Enquanto nos protegemos, ou melhor nos encolhemos, em espaços cada vez mais demarcados e "minados" por estratégias de segurança, um mundo selvagem cresce ao redor, ditando com sangue, até onde e em que nível podemos exercer nossa liberdade. Isso porque, com desculpas pelo mau presságio, não será possível conter sob limites territoriais, como ocorreu nas escolas públicas, o que legamos à escória social. Desta vez, o que não queremos vê baterá em nossas portas e adentrará nosso porto seguro sem pedir licença.

E, para não me alongar muito, é errôneo achar que um Estado, exercendo mais forte seu poder de coerção, possa arrefecer as agruras de uma sociedade em "guerra civil" velada. Assusta-me vê ser necessário um Estado vigilante, quase onipresente, chegando próximo à ficção de George Orwells, em "1984". Nada mais porque isso é sintoma de uma sociedade empobrecida, em decadência. Lembrando, e tomando como base, as idéias anárquicas do saudoso escritor e psicanalista Roberto Freire (1927-2008), quanto mais precisemos de nos vigiar, ou de um Estado que o faça por nós, menos livres seremos. A liberdade deve ser a responsabilidade do bom senso.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Crônica de Independência

No dia de 2 de Julho, o menos importante são políticos em campanha querendo tirar proveito eleitoreiro da data, e mesmo as representações das personagens históricas, a exemplo de Maria Quitéria, General Labatut e outras. Fui pela primeira vez, em 26 anos, às ruas, conferir de perto os festejos da Independência da Bahia, que completou 185 anos. Claro que há aqueles patriotas fervorosos, e as crianças admiradas com tanta gente na rua e com os carros alegóricos - este ano o público foi menor, avisaram marinheiros de outras viagens.

Mas, noves fora, o povo vai mesmo é para se divertir, e tome arrocha, pagode, paquera e muita cerveja - se vão dirigir depois, isso lá é problema da SET, que amanhã começaria as blitzen, mas já soube que há fiscalização nas ruas desde hoje. E quando o povo se diverte, não tem político que roube a cena, já diria o prefeito João Henrique. Lá pras tantas do desfile, na Av. Sete de Setembro, à altura da Rua do Rosário, perdeu em popularidade para Severiano Mussurunga. Este senhor, que todo 2 de Julho se veste de Papai Noel, distribuía cumprimentos e tirava fotos com populares, enquanto o prefeito recebia uma saraivada de vaias. "Estou com o prefeito, não sou candidato", esquivou-se Mussurunga do pleito eleitoral.

Pelo trajeto do desfile, da Câmara Municipal à Praça Dois de Julho, no Campo Grande, o candidato à reeleição João Henrique também recebeu aplausos, e tirou fotos com crianças no colo, como é de praxe. Mas os momentos de vaias sempre eram mais intensos. O prefeito caminhou bem atrás, distante dos carros alegóricos e de outras autoridades, como o governador Jaques Wagner. Não sei se foi estratégia. Na verdade, o povo estava ligando pouco para isso, e que venha mais uma latinha de cerveja, senão não tem santo que aguente 2 de Julho, ainda mais que espera-se a independência chegar a bons termos: moradia, educação, saúde, segurança... Enquanto isso, só mesmo boas doses de patriotismo para cantar orgulhoso "Nasce o sol a Dois de Julho, brilha mais que no primeiro, é sinal que neste dia, até o sol é brasileiro".

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Eleições de Salvador e os oportunistas do ar

A mídia como quarto poder já é um entendimento do senso comum. Em qualquer esquina de bar, não se duvida do grau de influência que uma rede Globo, por exemplo, teve em ascensões e quedas de presidentes da República. Similar esquálido vem se apresentando na capital baiano ao passo que as eleições municipais se aproximam, e pululam manobras, negociações e alianças políticas para garantir votos no pleito.

Da televisão, dois nomes de peso têm cartas altas na mesa: Raimundo Varela e Zé Eduardo, o Bocão. Pela imprensa, já se divulgou que Varela tentou vender sua candidatura para Antônio Imbassahy, manobra vetada pela liderança nacional de seu partido, o PRB. Aposta-se que mais uma vez o apresentador vá conceder seu apoio a um terceiro candidato em troca de favores, cuja natureza se imagina qual seja. Por trás dele, seja como real candidato a prefeito ou a vice em outra chapa, nada menos do que o bispo Edir Macedo, magnata religioso da Rede Record, que terá ampla influência direta política em Salvador, caso Varela ponha de algum modo suas garras no Palácio Thomé de Souza. Não se pode esquecer o quanto o radialista deve ao bispo. Foi Edir Macedo, ou melhor, os milhares de fíeis da Iurd, quem financiou as caras cirurgias que salvaram a vida do apresentador.

Já Bocão, sucessor inconteste de Varela, foi recentemente consultado por nada menos que o deputado federal ACM Neto se aceitaria em ser candidato a vice-prefeito na chapa do partido Democratas. Em troca do apoio, o popular apresentador pediu coisa pouca ao neto do ex-senador ACM: a direção da TV Bahia. O deputado ficou de analisar o pedido.

O mais temerário disso tudo é que ambos jornalistas têm popularidade tão grave quanto as suspeitas que rondam seus preceitos éticos. Bocão teve seu nome envolvido com denúncias de suborno. Ele supostamente cobraria para não falar mal de empresas no ar. Já Varela é tachado como oportunista inescrupuloso, por não ter qualquer pudor em vender apoio político.

Em Salvador, o poder da mídia tem chances de sair do quarto nível para a esfera dos três oficialmente efetivos. E isso não é novidade numa cidade que já teve como prefeitos dois comunicadores: Mário Kertesz e Fernando José. E é bom lembrar que o primeiro deixou o maior rombo nas contas públicas que a soterópolis já sofreu; e o segundo sequer matou a cobra, quanto mais mostrou o pau.

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Juíza proíbe Marcha da Maconha em Salvador

Balde de água fria em cima dos defensores da legalização da maconha. A juíza Rosemunda Souza Barreto, da 2ª Vara Privativa de Tóxicos proibiu a realização da "Marcha da Maconha" programada para ser realizada no próximo domingo, no Campo Grande.

Quem arriscar em dá sua "fumadinha" e apoiar a marcha poderá ser preso por descumprir ordem judicial, alertou o delegado de Tóxicos e Entorpecentes, Carlos Habib.

A magistrada baseou a decisão no inciso XVII do artigo 5º da CF, que prevê a liberdade de reunião, mas desde que para fins lícitos. No entendimento da juíza, participantes da Marcha estariam fazendo incitação ao uso de drogas, e por tabela, incentivando o tráfico.

Faltou sensibilidade à V.Exa. Dr. Rosemunda Souza Barreto, requisito básico para qualquer juiz. Em tempos em que o mundo discute abertamente a legalização da maconha - a Argentina, inclusive já está neste caminho - impingiu à liberdade de expressão um forte golpe.

Se a Marcha eventualmente extrapolar seus fins sociólógicos e políticos, qual seja a discussão democrática sobre a legalização e liberdade de escolha dos cidadãos, estará ela como qualquer um passível de punição legal.

Mas a alegada preocupação da juíza em evitar apologia às drogas não passa de mau senso que beira à prévia censura, e pior, censura togada, a qual, pela lei ao seu lado, ganha uma dimensão devastadora.

Em tempo, não vejo como se posicionar a favor da legalização da maconha sem correr o risco de ser acusado de apologia às drogas. Embora estejam em jogo as liberdades e as responsabilidades dos indivíduos.

Com informações do jornal A Tarde

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Crescer ou não crescer, eis a questão

Economia é no mínimo curiosa. A duras penas, nos últimos anos, o Brasil vem mesmo que precariamente se preparando para desenvolver-se. Vieram medidas de ajuste fiscal, monetário e cambial, agências reguladoras, estabilidade da moeda e por aí vai. O somado de muitas controvérsias por anos a fio desembocou no atual momento de índices mais sólidos de crescimento, com expansão do PIB - de 5% em 2007 - que há muito não se via.

Mas quando tudo levava a crer no tal desenvolvimento sustentado - que espero ainda um dia entender - "pressões inflacionárias" colocam o ritmo de aceleramento da economia em risco. O Banco Central cumpre seu papel e toma a medida paliativa: aumentem-se os juros básicos e segure-se a inflação. Isso porque os ventos econômicos até então favoráveis fizeram com que a demanda interna crescesse em descompasso com a capacidade de produção, avaliam especialistas. É aquela velha coisa, se a demanda é maior que a oferta, os preços sobem.

Ora, se o mercado requer aumento de produtividade para se auto-sustentar como resolver o problema desestimulando, por meio de juros mais altos, o poder de investimentos do setor produtivo? Segurar a inflação seria um passo atrás para um passo à frente, já que evitaria-se a redução do poder de compra do mercado interno, garantindo assim a saída das mercadorias? Questões angustiantes estas.

Como o é relembrar a teoria malthusiana de que enquanto a população cresce numa escala exponencial, a produção de alimentos vai a reboque numa proporção aritmética. É mesmo curiosa a economia. O desenvolvimento, o progresso, aquela palavrinha de ordem lá da bandeira nacional - o que não nega nosso legado positivista - é inexorável, não pode parar. A busca por novos mercados mobiliza os empresários, gira os motores econômicos e é ponto de vista certeiro de que grandes conglomerados apostam nas classes pobres como saída de uma provável estagnação de mercados.

Engraçado, pelo que dizem ambientalistas e críticos do capitalismo selvagem, se o mundo chegar próximo aos padrões de consumo dos EUA (o maior mercado mundial), a economia planetária entra em colapso. E mais engraçado é que o Brasil parece entender bem essa perspectiva. Do contrário, já estaria apostando em ampliar a infra-estrutura, em aumentar a capacidade instalada das indústrias, etc, para fazer a economia fazer frente aos seus consumidores.

Disso tudo, como não sou especialista, jogo ao vento uma última questão: é preciso crescer ou parar de crescer?

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Advogados defendem inocentes e não criminosos

Não ia escrever uma vírgula sobre o assassinato da garotinha Isabella Nardoni. Mas - enquanto a imprensa fazendo seu papel de informar acaba por contribuir para julgamentos antecipados - veio-me à mente uma grande interrogação: os advogados de defesa acreditam na inocência do casal?

É do senso comum condenar os advogados que defendem acusados de crimes cruéis e bárbaros, aqueles que comovem a opinião pública, do mesmo modo que a mesma antecipa julgamentos (todos da ordem moral) sobre os suspeitos que não raro são previamente levados à condição de "assassinos". Por isso Alexandre Nardoni e Ana Paula Jatobá já são culpados, seja qual for o veredicto do Tribunal do Júri no final de todo esse drama. Os "advogados" de Isabella Nardoni, o povo, não aceitarão outra sentença, que não a condenação.

O ponto é que advogados, assim como todas as pessoas, têm direito de acreditar na inocência e culpabilidade dos suspeitos, quaisquer que sejam eles, imagine se clientes seus. Mesmo ainda se todas as provas e indícios acusem o pai e madrasta de Isabella de terem a assassinado.

Claro que numa perspectiva ética indagaria-se a possibilidade dos advogados defenderem o casal mesmo que estejam inclinados a acreditar na sua culpa. Ora, as brechas de uma investigação policial mal feita e vários recursos jurídicos podem ser habilmente utilizados para conquistar um julgamento favorável, independentemente das crenças pessoais em jogo.

Já de um ponto de vista mais pragmático, indagaria-se até que ponto é válido ir até o fim na defesa de suspeitos sobre os quais caem todas as provas disponíveis sem que haja uma motivação concreta que possa refutá-las.

Não sei se pelo casal Nardoni advoga-se por uma causa perdida. Também não tenho mínima idéia se os advogados acreditam ou não na inocência dos dois.

Uma reflexão sobre a ética de tais advogados é inócua, porque é de foro íntimo deles escolher quem deve ou não defender. Se defendem, estão aparados pelo Estado de Direito que prevê que suspeitos de crimes perversos e imperdoáveis tenham a possibilidade de defesa perante à Justiça.

E a Justiça tarda sempre, às vezes falha como acerta, seja para o bem ou para o mal. Enquanto isso, é bom lembrar que Alexandre Nardoni e Ana Paula Jatobá são inocentes até que se prove o contrário. Melhor dizendo, advogados sempre defendem inocentes.

Que rumos tomar?

As bases econômicas que levaram o mundo a um vigor de livre mercado estão em xeque. Lançadas lá trás na história como premissas para um progresso inevitável, dão agora sinais de desgaste. É o que fazem crer as notícias recentes.

O maior mercado do mundo colocou a língua pra fora. Os EUA estão em recessão. Os efeitos da crise imobiliária não indicam breve arrefecimento, apesar do otimismo depois da Casa Branca ter tomado medidas de estímulo ao crédito. O desemprego pela terra do Tio Sun aumentou e o poder de compra dos americanos diminuiu. A grande economia da Terra parou de crescer, as novas projeções apontam para expansões do PIB abaixo de 2% nos próximos anos.

As fontes de energia também surgem curiosamente como entrave. Por um lado, o preço do petróleo atinge números extratosféricos, numa sequência de recordes históricos. A Agência Internacional de Energia (AIE) já mostra preocupação com uma recessão econômica global provocada pela escassez de petróleo. De outro lado, as ações políticas voltadas para fontes de energia alternativas - entre as quais o biocombustível tem destaque - enfrentam sérias dificuldades.

Organismos internacionais importantes, como Bird, Banco Mundial e ONU, alertaram ao mundo sobre o risco que o uso dos biocombustíveis pode trazer, agravando a fome pelos países mais pobres. Já chegam a falar de mais 100 milhões de pessoas sem o que comer pelo mundo. Em paralelo a tal questão, a economia mundial já passa por um forte movimento de alta dos preços dos alimentos. A demanda cresce e a produção nã dá conta do recado.

São indícios de que estamos num processo de transição. Deverão estar na agenda geopolítica: quebra do protecionismo dos países desenvolvidos, cooperação tecnológica para explorar fontes energéticas mais viáveis , transferência de tecnologia e know how aos países subdesenvolvidos, incentivo à produção de transgênicos, entre outras coisas.

Porque, apesar da pseudoglobalização ainda pintar o mundo com fortes cores imperiais, o mercado, inteligente, deverá notar, como o vem fazendo, que sua expansão saudável depende de novos mercados consumidores e eles estão potenciamente instaladados nas regiões pobres. Seria burrice deixá-los à margem do desenvolvimento, quanto mais deixá-los morrer de fome.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

"Não há atuação externa desvinculada da política interna"


Um olhar para fora que não se descuida das questões internas brasileiras. O horizonte de Tatiana Carvalho Teixeira, 25, está hoje intimamente ligado a essa perspectiva. Formada em Direito, essa soteropolitana está há pelo menos um ano em Brasília se preparando para concorrer a uma vaga no Instituto Rio Branco. Quer seguir a carreira diplomática.

Para tanto, a segunda entrevistada do quadro "Jovem Pensa o Brasil de Amanhã" enxerga com otimismo as atuais e futuras possibilidades de atuação feminina na defesa dos interesses nacionais. E quais seriam eles? Tatiana aposta na política de desenvolvimento de fontes limpas de energia - ligadas ao biocombustível - como passo irreversível para que o Brasil consolide sua importância no cenário internacional.

Dentro das fronteiras sulamericanas, o Brasil deve seguir sua tradicional pacífica política diplomática, sem que naturalmente perca a posição de grande líder do Mercosul. Direto da capital federal, via MSN, Tatiana Teixeira falou ao Nota Livre sobre estes e outros temas.

Nota Livre
- Que política externa o Brasil deve seguir agora que vem ganhando importância como potência econômica?

Tatiana Teixeira - Se analisarmos a política externa brasileira no século XX, observaremos que as suas principais características permaneceram inalteradas. O Brasil sempre buscou se pautar, à exceção de alguns momentos pontuais (e breves), pelo universalismo, pela busca de solução de conflitos no “leito diplomático”, pela legitimidade, pela articulação de consensos e pela tradição principista (respeito aos direitos internacionais). Essas características estiveram mais ou menos ressaltadas, a depender do contexto em que o mundo se encontrava. Frente aos desafios atuais (pós-guerra fria), com a ascensão de novos temas (desarmamento, direitos humanos, meio ambiente), globalização econômica e redemocratização, o país vem tentando abrir espaço, afirmar-se e estabelecer seu papel de destaque no cenário internacional. Podemos dizer que o Brasil é, sozinho, um país pequeno demais para exercer influência nas questões internacionais, mas, ao mesmo tempo, grande demais para ficar a par das discussões.

NLNeste sentido de país pacifista, o Brasil tem enfrentado dificuldades de estabelecer efetivamente as amarras do Mercosul. O país não pode perder a chance de no futuro se consolidar como líder na região, ante o atual posicionamento mais ponderado?

TT - Desde o governo FHC, o Brasil defende que o Mercosul goza de absoluta prioridade em nossa agenda externa. Devemos ter em mente que o bloco é formado por quatro países que passaram por processos de redemocratização recentemente, e com instituições ainda não muito consolidadas. Não há dúvidas de que o Brasil lidera o Mercosul, não só pela robustez de sua economia, mas também pela maior força de suas instituições se comparadas aos demais membros. Lembremos que a crise argentina do início da década foi em muito catalisada pela crise do Real. Um dos principais objetivos do processo de integração regional é a redução de assimetrias, e essas são significativas na região. Mesmo com a TEC (tarifa externa comum) permeada de exceções, o Brasil é o país que mais se favorece comercialmente no bloco. Paraguai e Uruguai desejam beneficiar-se do processo também. Corremos o risco de esses países simplesmente desistirem do Mercosul, firmando tratados de livre comércio que os EUA vem oferecendo por toda a América do Sul (e, ressalte-se, os EUA já conseguiram firmar alguns com Chile, Colômbia e Peru). O Brasil, ao atuar como líder, tem de arcar com os “custos da liderança”. O posicionamento ponderado do Brasil está em conformidade com as regras de direito internacional que o país defende. Precisamos invadir e anexar o Uruguai (como feito por D. João VI no século XIX) para que nos consolidemos como o líder da região? Essa não é a alternativa mais acertada.

NLHá uma grande animação com as novas perspectivas de política energética, com o desenvolvimento de fontes limpas. Na sua opinião, o Brasil deve entrar de cabeça no seu potencial agro-energético?

TT - Sua pergunta envolve dois temas altamente em voga: energia e meio ambiente. O exponencial crescimento de países como China e Índia, aliado aos atuais padrões de consumo dos países desenvolvidos e em desenvolvimento, gera demanda nos dois sentidos: garantia de segurança energética e preocupação com o meio ambiente. Os biocombustíveis, nesse sentido, permitem fornecimento de energia com menor dano ao meio ambiente, sem comprometer o crescimento dos países. Acredito que chegaremos a um ponto em que fontes de energia renováveis não serão mera opção, e o Brasil tem interesse no desenvolvimento dessa fonte energética em todos os sentidos. Em seu discurso na Assembléia Geral da ONU em 2007, o presidente Lula defendeu o uso de biocombustíveis como meio de crescimento para países subdesenvolvidos, principalmente na America Latina e na África, na medida em que os países desses continentes podem produzir por meio da agricultura familiar e exportar o combustível limpo para o mundo. O discurso brasileiro não é de que utilizemos toda a nossa terra arável para plantação de cana-de-açúcar/oleaginosas, mas que desenvolvamos e exportemos essa tecnologia para outros países. A crítica de que a produção de biocombustíveis ameaça a segurança alimentar, a meu ver, é descabida. Já foi demonstrado que é possível aumentar a produtividade das plantações e que o espaço necessário a essas culturas não compromete a produção de alimentos. Mas a bacia de Tupi, recentemente descoberta, tem um potencial ainda desconhecido. Se o Brasil conseguir explorá-la, vai ter que compatibilizar a defesa dos biocombustíveis e do combate ao aquecimento global com sua capacidade exportadora. Por isso devemos ser cautelosos na crítica aos combustíveis fósseis.

NLFrente a essa visão de Brasil no mundo, como uma mulher jovem na diplomacia pode incutir idéias novas para perspectivas novas?

TT - Com a recente ampliação dos quadros do Itamaraty, aumentou o número de mulheres que ingressaram na carreira. Esse aumento, contudo, ainda não é significativo, nos últimos dois anos, cerca de 20 dos 100 aprovados no certame foram mulheres. Mas, olha, as perspectivas para jovens e mulheres no Ministério das Relações Exteriores têm aumentado muito. O ministério vem se renovando. Aliás, o ex-chanceler Azeredo da Silveira tem uma frase clássica: "a maior tradição do Itamaraty é saber renovar-se". E isso é verdade. Mulheres têm ocupado cargos significativos na Casa, e a nomeação de embaixadoras já é comum. Já podemos observar manifestações desse novo perfil, ainda que de forma incipiente, nas atuais iniciativas do Itamaraty. Esta tendência deve permanecer.

NLSaindo da visão para fora e partindo àquela para dentro. O País não pode continuar crescendo sem que suas instituições acompanhem as mudanças. A reforma política deve seguir qual direção?

TT - Não podemos conceber uma atuação externa totalmente desvinculada da política interna. Note que a atuação do Estado brasileiro externamente está voltada ao desenvolvimento do nosso país. As viagens do presidente e do chanceler são sempre acompanhadas de comitivas de empresários. Para tanto, é necessário fortalecer as instituições do país, vencer os gargalos que obstaculizam nosso crescimento. Como? A elaboração de uma legislação transparente é importante, mas não é suficiente. Acredito que o principal desafio do Brasil está na efetivação, na fiscalização, na garantia das leis. As discussões, geralmente, focam na atividade legislativa e descuidam do cumprimento. Isso é temerário, porque corremos o risco de envidar enormes esforços na consecução de uma reforma política, e esta se tornar letra morta.

TT - Você falou de desenvolvimento político e econômico, imbricado com um entrelaçamento de instituições fortes a uma política externa desenvolvimentista eficaz. Mas há uma corrente se formando que já vê o esgotamento do modelo capitalista, sobretudo agora com a crise do mercado imobiliário americano. Há uma tendência de que o Estado interfira mais na economia ou que o mercado mais robusto prossiga ditando as regras do jogo, num afã eminentemente capitalista?

TT - O Estado não pode se eximir de participar do jogo econômico. Mas já vivemos a experiência de Estado empresário no século passado e vimos que ela não se sustentou. A participação no capitalismo deve ser feita de forma inteligente. Lembremos do liberalismo do governo Collor. Para isso existem as agências reguladoras. Da mesma forma que a estatização não se sustenta, o liberalismo em sua forma ricardiana (referência a David Ricardo, pai do liberalismo clássico) prejudica os setores mais vulneráveis.

NL - Como Tatiana se vê dentro de um projeto de Brasil?

TT - Pode ser como futura chanceler? (risos). O prazeroso em estudar para a carreira diplomática é que a preparação exige um profundo conhecimento do país. Conhecer a história, a geografia, a estrutura social do Brasil é importante para definirmos nossos objetivos, interna e externamente. O meu projeto é justamente o de ter essa bagagem em mente quando for representar e defender os interesses do meu país no exterior. É assim que poderei fornecer minha contribuição para o projeto Brasil.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Amazônia para sempre

16% da Amazônia já foi devastada, o equivalente a duas vezes o tamanho da Alemanha

Os atores Victor Fasano e Christiane Torloni estão à frente do movimento "Amazônia para Sempre", que está colhendo assinaturas por todo o Brasil, com o intuito de levar um manifesto subscrito por milhares de brasileiros contra o desmatamento da floresta ao presidente Lula.

Quem quiser colaborar com sua assinatura acesse o site aqui.

Crônica: O refém virtual

Em pleno café da manhã, descobri num clique que tenho pendência de R$ 2.307 junto ao SPC, que meu CPF está suspenso pela Receita Federal e que posso aumentar minhas dívidas em R$ 1.996 caso não honre com este débito nas lojas Americanas.

Não lembrava de ter feito compras lá. Estava convicto de ter-me declarado isento no último Imposto de Renda. E tinha certeza que meu nome nunca iria parar nos registros daquela sigla maldita.

Em desespero, recorri ao telefone, que a mim se adiantou tocando. - Alô! - Aqui é o Carlos da Dinheiro Fácil Bank, o senhor gostaria de ter nosso mais novo serviço? - Ligue mais tarde, agora não posso te atender. Mais um serviço financeiro e amanhã são eles que estarão cobrando.

Um primeiro telefonema, o primeiro conforto. Denilson, do SPC, disse que eles não fazem cobrança via email. Suspiro aliviado de 30 segundos. O telefone toca. - Bom dia, senhor, sou a Daniela, e o senhor acaba de ser contemplado numa promoção do Banana Bank. - Não tenho interesse.

No site da Receita, certifico que meu CPF está em situação regular, imprimo o comprovante. O telefone tilinta mais uma vez. - Senhor, aqui é Joana da Central do Altruísmo e contamos com sua coloboração para ajudar nossas crianças. - Desta vez não vou poder, estou sem dinheiro.

Corro até o banco, e o extrato não acusa nenhuma compra nas Americanas nos últimos três meses. Confiro o boleto do cartão de crédito, e lá também nada da loja. Volto num misto de aliviado com desconfiado ao computador. Mordo o resto do pão com manteiga e bebo os últimos goles de café, a esta altura frios.

Movo, sacudo, balanço o mouse. Aperto todas as teclas. E nada! Uma tela preta continua estática tomando meu monitor. Segundos depois, letras garrafais vermelhas anunciam a catástrofe: Você acaba de transferir R$ 10 mil para a conta 2424, agência 24! Em segundos seu computador será desligado! A tela se apaga, o computador desliga.

Toca o telefone: - Senhor, por apenas R$ 100 a Informática Ágil recupera seu hardware. - Me manda um email explicando.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Larry Coryell trio faz show em Salvador

O guitarrista Larry Coryell, um dos criadores do Jazz Fusion, faz apresentação na próxima sexta-feira e sábado, 11 e 12 de abril, às 21h, no Teatro Jorge Amado. O artista é considerado pela imprensa especializada um dos guitarristas mais importantes do gênero. Abre o espetáculo o guitarrista Mou Brasil.

Ingressos a R$ 40 (meia) e R$ 80 (inteira) à venda na bilheteria do Teatro Jorge Amado, na Av. Manoel Dias. A classificação é de 16 anos.

Contato do teatro: (71) 3225-9708

Aviso do Nota Livre: Comentários


Estimados leitores,

Peço-lhes que ao fazer os comentários se identifiquem para que possa ser estabelecida via de mão dupla entre mim, vocês e os demais leitores do blog. Ademais, estaremos, assim, respeitando o inciso IV do artigo 5º da Constituição Federal que diz: "é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato".

Atenciosamente,

George Brito, signatário

Exército brasileiro não garante Amazônia, diz general

O comandante militar da Amazônia, general Augusto Heleno, afirmou ontem em rede nacional de televisão que os 28 mil homens do exército ao seu comando na região amazônica e principalmente a estrutura que eles dispõen não estão à "altura da estatura estratégica" do Brasil.

Em participação do programa de debates "Canal Livre", da Band, o general afastou qualquer ameaça por hora à soberania nacional, mas admitiu que interesses estrangeiros, costurados através da presença de ongs e missões religiosas, por exemplo, estão muito presentes na região. No seu ponto de vista, o Brasil urge de estruturar tecnologicamente as forças armadas, sucateadas "há mais de duas décadas", principalmente, para garantir a primazia brasileira em áreas estratégicas como a floresta amazônica e ainda para seguir o país na condição de potência moderadora.

O comandante mostrou também grande preocupação com a política "indigenista" que estaria colocando em risco a autonomia do exército como guardião da segurança nacional em favor da determinação dos povos indígenas. O general leu dois trechos de documento assinado pelo Brasil junto à ONU que materializa as diretrizes brasileiras em promever a auto-determinação, incusive política, dos índios em suas terras. "Os índios chegaram a fechar uma rodovia federal", afirmou.

Adendo:
Em resposta ao comentário do leitor "Visão", reafirmo que o general, apesar de ter repetido sobre a grande capacidade do soldado brasileiro na selva e que não há atualmente ameaça contra o território brasileiro na região, deixou no entanto claro que a estrutura do exército seria insuficiente para assegurar os 11 mil quilômetros de fronteiras da Amazônia, o que equivale a afirmar que a floresta não está segura contra eventuais investidas mais ousadas.

quinta-feira, 27 de março de 2008

O povo se vê na Câmara?


É muito comum, e nem por isso errado, de que os líderes de um povo refletem o grau de discernimento político de uma sociedade. Quem nos governa e nos representa estão legitimados pelo escrutínio da população. Muito tudo correto, mas às vezes frustrante ou até mesmo desolador. Veja só que imagem a sociedade soteropolitana constrói a tomar como base sua Câmara Municipal de Vereadores.

É uma das menos transparentes do Brasil. Ainda não disponibiliza em detalhes os gastos dos vereadores, sobretudo quanto às suspeitas verbas indenizatórias. Ano passado, promoveu a precipitada aprovação do PDDU, de forma tão açodada que agora o plano diretor é alvo de uma fundamentada ação civil pública, impetrada pelo advogado Celso Ricardo de Oliveira. As emendas parlamentares aderidas em última hora ao texto original simplesmente desrespeitam legislações estadual e federal, sobretudo relacionadas à proteção ambiental da Mata Atlântica. É que querem desenvoler o potencial imobiliário da Av. Paralela.

Foi isso, inclusive, que argumentou o desastrado e patético vereador, em terceiro mandato, Pedro Souza dos Santos, conhecido como Pedrinho Pepê - canditado baiano tem essa mania de apelidar-se para quebrar formalidades tal qual se faz no mundo do crime, embora as comparações não sejam imediatas, longe disso. Mas em entrevista à repórter Katherine Funke, do jornal A Tarde, Pepezinho afirmou que chegou a conversar com dois amigos ambientalistas para caminhar emenda ao PDDU que, na prática, reduz a área de proteção ambiental da Mata Atlântica. Agora, sua emenda, aprovada pela Câmara em dezembro último, é alvo da ação, por ferir a Lei do Bioma da Mata Atlântica.

Segundo a repórter, Pepezinho disse: "admito que quis dar um avanço na cidade, mas como a lei federal me cassa, o Legislativo municipal tem que se render". Assumiu o erro e o engano de achar que "na supressão (da Mata), a Av. Paralela levasse vantagem". Simples e direto, Pedro Souza dos Santos ilustra bem a quantas anda a representatividade do povo soteropolitano.

Este blogueiro lembra bem quando participou ano passado de uma das audiências públicas sobre o PDDU. A desordem era total, uma dificuldade tamanha apenas para encontrar a lista de presença da sessão. A Câmara parecia mais a "casa da mãe Joana", com todas as conotações que carrega tal expressão. É de se perguntar o quanto a população de Salvador coaduna com a bagunça e até que ponto seus cidadãos estão interessados com as políticas de diretrizes da capital. Um povo festivo e hospitaleiro, mas de poder intelectual baixo, já disse o antropólogo Milton Moura.

Em tempo, a foto aí em cima é de Pepezinho, para o eleitor não se esquecer dele no processo eleitoral. E aqui vai como o vereador se apresenta no site da Câmara: "Sou Vereador começando o 3° mandato com 12.145 votos com relevantes serviços prestados às comunidades de Salvador, com Projetos e Indicações que beneficiam vários segmentos além de atender diretamente os eleitores".

segunda-feira, 24 de março de 2008

"A criatividade do brasileiro é mal administrada"

Muito antes deste novo movimento de brasileiros cada vez mais apostarem a sorte no mercado financeiro, o administrador de empresas Marcelo Araripe Dantas, 25, já lançava suas primeiras fichas no mundo especulativo. Com apenas 15 anos, ficou na terceira colocação no ranking simulado de apostadores da FolhaInvest. Não é à toa que até hoje é um grande estudioso do mercado de ações e sonha em ser um grande empreendedor, atuando no setor de fundos de investimento privado.

Funcionário hoje de uma empresa multinacional, Marcelo Dantas é o primeiro convidado a participar do quadro “Jovem pensa o Brasil de amanhã”, que estréia hoje no Nota Livre. A cada semana, um jovem falará de como pensa o País, sobre seu contexto socioeconômico e cultural, e de como se vê para a construção de um projeto nacional. Serão entrevistados jovens de todos as classes sociais, dos mais ricos aos mais pobres, dos mais a menos politizados, e por aí vai.

Nesta entrevista, Marcelo Dantas frisou a importância do Brasil ampliar seus investimentos em setores mais estratégicos, como ciência e tecnologia, para deixar de depender tanto de sua natureza agrícola. Defensor de um mercado mais autônomo e robusto, o administrador se baseia no pensamento do prêmio Nobel de Economia John Nash, para mostrar como o incentivo ao empreendorismo pode promover desenvolvimento em todas as frentes.

Nota LivreO Brasil sempre foi visto como o país do futuro, ficando sempre na promessa. Agora, neste novo contexto econômico, muitos acreditam que chegou o momento do País. Como você percebe, como jovem, as perspectivas do Brasil, sendo parte de um processo de desenvolvimento?

Marcelo Araripe - Inicialmente, acredito que nós somos pessoas de sorte. Por a gente ter a idade certa no momento certo. Acho que o Brasil está vivendo um momento atípico daquilo que eu conheço de história e vivi de história, nos meus 25 anos. Acho que o Brasil tem a perspectiva de se transformar na terceira economia mundial nos próximos 20 anos. Mas para o País chegar lá é preciso, primeiro, combater a corrupção. Depois, é preciso se fazer a reforma tributária, que já devia ter sido feita há muito tempo.

NLComo você vê as medidas tomadas nesta reforma tributária?

MA – Foram duas. A do Imposto sobre Operação Financeira (IOF) e a da cobertura cambial, que, na minha opinião, eles não deviam nem ter dito que desfizeram isto, porque foi uma medida estúpida tomada em 2006 que dificultou os exportadores. Já a questão do IOF, para querer controlar o fluxo de dólar para o Brasil, eu também não concordo, porque puniu os investidores estrangeiros, apesar de ajudar a Bolsa -cobrar só para fundo de renda fixa estimula a ida de capital para o mercado financeiro. Mas receio que vá afugentar os investidores estrangeiros e não é isso que vai melhorar a questão da desvalorização do dólar, uma tendência mundial. Então, o Brasil não consegue hoje enxergar a longo prazo que reduzindo determinadas receitas para as empresas brasileiras, ele vai conseguir a maior legalização destas empresas.

NLMas há uma contradição. Você desonera as empresas para investir, o que gera uma saúde financeira, gera maior formalização do emprego. Em contrapartida, diminui-se a qualidade das condições de trabalho, quando se reduz os direitos trabalhistas. Você acha que o Estado intervém muito na economia ainda? Você segue a linha de Adam Smith?

MA – Bom, como trabalhador, acho ótima a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). Mas acho que o Estado intervém muito na economia ainda. No entanto, eu sou mais do lado de John Nash. Que é a mistura. Vejo poucas pessoas comentarem dele ainda. Na verdade, tem que haver o pensamento individual e no grupo, não tal como o livre comércio que Adam Smith pensa, que cada um fazendo o que é melhor para si o mercado se auto-regula. Inclusive, estou lendo atualmente o livro “A Era da Turbulência”, de Alan Greenspan (ex-presidente do Banco Central Americano), no qual ele defende em alguns momentos Adam Smith. Só que eu acho que a tendência é outra... Hoje, se você parar para analisar, toda a Internet é baseada na teoria de John Nash (teoria do equilíbrio), ligada à idéia da cooperação de informação. Você faz o que é melhor para você e para o grupo. Youtube, os blogs, tudo segue esta mesma linha. Tem haver com a globalização. Sou a favor de uma menor intervenção do Estado, principalmente porque a quantidade de encargos pagos pelos empresários brasileiros é altíssima e não condiz com a realidade de nenhum país emergente. Temos que valorizar os empregados, mas não desta forma, porque onera muito as empresas.

NLNeste contexto do empresariado brasileiro, você acha que o Brasil concentrar seu poder econômico em commodities (matéria-prima com cotação no mercado internacional) é ruim?

MA – Não. Não é que seja ruim. O Brasil hoje é um país agrícola, e a maioria dos commodities é agrícola, então ele tem sim que aproveitar. O que me preocupa é o Brasil enxergar isso como principal fonte de riqueza, e investir pouco no lado tecnológico. Hoje você vê cientistas brasileiras fazendo grandes descobertas, mas ainda são muito pontuais. Você não vê investimento de empresas fortes no Brasil, desenvolvendo tecnologia para ser exportada. E, como foi nos EUA, China e Índia, ter tecnologia de ponta é fundamental para o crescimento econômico. O Brasil precisa diversificar seus investimentos.

NLMuito se fala que o jovem brasileiro de hoje é despolitizado. Numa entrevista recente, Zé Márcio Camargo, economista que formulou o Bolsa Família, afirmou que o Brasil está num momento de se desligar da herança política da ditadura, e passar a ter novas lideranças políticas, que não sejam filhos daquele momento histórico, como Lula e José Serra. O que você pensa sobre isso e como seria um líder com um novo pensamento?

MA – Deve ter isso interessante essa reportagem. Nunca tinha pensado nesse aspecto. Mas acredito que, primeiro, nossa juventude é despolitizada porque nossos jovens estão um pouco cansados. A sensação é essa, de cansaço exacerbado com tanta corrupção. A gente hoje, com o avanço da informação, quer gastar tempo com que é produtivo, e achamos que gastar tempo com política não dá futuro, porque não vai mudar. Então pensamos: vamos estudar, trabalhar e nos dedicar ao nosso trabalho, fazer a nossa parte. O governo que se auto-regule, não sei, é essa minha sensação. Em relação a presidentes para cima, faço um link com o que acabei de falar sobre tecnologia. Essa questão de estar atrelado às commodities agrícolas tem um pouco haver com um pensamento de colônia. Mas a diferença que eu vejo em Lula hoje é que ele é um líder. Não tem muito conhecimento, não é expert em nada, e por isso acredita que tudo é possível, não se deixando convencer por teorias que dizem que certas coisas não são possíveis. Ele tem pulso e consegue convencer seus subordinados, estimulando-os a pensarem. Essa é a essência da liderança, fazer seus subordinados pensar diferente. Mas ainda falta ao Brasil exportar, além de produtos agrícolas, pessoas, capital intelectual e tecnologia de ponta. Esse deveria ser o caminho do Brasil.

NL
Como você se vê para construção desse caminho? Atuando em que setor, por exemplo?

MA – O setor, inclusive por isso votei em Cristovam Buarque em 2006, é a educação. O brasileiro hoje é carente em educação. Nossos pais são nossos professores, não naturalmente nossos pais. Para os jovens brasileiros serem diferenciados é preciso haver essa visão para o futuro que está nascendo agora, para as crianças de 7 a 14 anos. Fazer com que eles comecem a pensar diferente. Tem que haver referências fortes, para levar a educação em forma de atacado, para ser mais rápido. Não adiantam atitudes e manobras de pouco em pouco. Porque quando você muda as estruturas educacionais você só chega ao resultado em cinco anos, então requer investimentos a longo prazo. O Brasil ainda não investe porque os políticos de hoje ainda pensam na próxima eleição, e não têm tempo hábil para fazer ver esses resultados. Mesmo assim, sinto que algo está mudando, não pelo Governo. O terceiro setor hoje, de forma socialmente responsável, investe em educação, pensando na continuidade dos negócios no futuro, buscando jovens que pensem diferente. As empresas brasileiras investem em educação visando seus negócios, porque senão elas vão ter que importar pessoas, comprar capital intelectual, e isso se torna muito mais caro. As empresas apostam em empreendedorismo.

NLFoi bom que você desenvolveu o tema educação. Mas queria saber como você se vê dentro da construção de um projeto para o País.

MA – Hoje, enxergo que quero ter uma influência política forte. Tenho certeza que daqui a alguns anos da minha vida, vou ter a necessidade de mudar. Quando eu penso isso... Penso na questão da educação, a questão da visão, da forma do brasileiro pensar. Hoje me enxergo com excelentes oportunidades profissionais. Quero ser um grande empresário e aproveitar as grandes oportunidades que o Brasil tem e não consegue enxergar. Eu me espelho em alguns brasileiros, dos quais o mais falado é Eike Batista, ele é altamente visionário, não só porque é o homem mais rico do Brasil, mas porque ele tem o “culhão” de apostar em algo que ninguém enxerga. Como empresário, investiria em cultura, em educação e tecnologia.

NLPara terminar, como Marcelo vê Marcelo?

MA – Numa previsão, aos 35, 40 anos, me vejo empresário do meu próprio negócio. Tenho paixão pelo mercado financeiro, queria ter um negócio relacionado a isso. Minha idéia no futuro é aproveitar grandes idéias especulativas e poder investir em pequenas empresas, ajudá-las a se desenvolverem e crescer com elas. Acho que o brasileiro tem um poder de criação incrível. Essa criatividade hoje é mal administrada e mal investida. Aos 40 anos, quero ter uma empresa do setor private ecurity ­(segmento de fundos de investimentos privado), para poder investir em pequenas empresas com alto poder de criação e inovação e ajudar o Brasil mais a frente, não só em termos de economia, mas também de visão de futuro.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Medida provisória e limites de poder

Está em discussão no Congresso Nacional a elaboração de novas regras para tramitação das medidas provisórias. O presidente Lula já começa a dialogar com líderes do governo e da oposição da Câmara e do Senado sobre as possíveis mudanças, mas, claro, não abre mão dos instrumentos que permitem na prática o Executivo legislar. "Governar sem medidas provisórias é humanamente impossível", afirmou.

Os parlamentares, sobretudo os oposicionistas, tentam a seu turno recuperar a autonomia e preponderância do poder Legislativo - o qual dentro do regime democrático tem em tese a maior importância por institucionalmente representar o povo. Já se fala no Congresso, inclusive, de uma vez expirado o prazo (hoje de 120 dias, sendo que em 45 há trancamento de pauta em caso de não apreciação da medida), a MP cairia automaticamente, ao invés de barrar os trabalhos legislativos ordinários. Há outras alternativas, como extensão do prazo para 150 dias e condicionar à análise da MP seu caráter de urgência e relevância. Avaliada pela Comissão de Constituição e Justiça, só depois chegaria ao plenário.

Noves fora, parece que a batalha em torno das MPs é uma luta política que, além do seu valor prático para o País (afinal tratam-se aqui de leis), gestaciona novos capítulos da novela da governabilidade. Este termo, tão usado para se medir a capacidade política dos governos, empenha políticos na barganha de espaços de poder para além dos limites originários. Sem a possibilidade das MPs, o Governo perderia força dentro do "balcão de negócios" estabelecido na sua relação com bases aliadas e bancadas oposicionistas. Por isso a insistência de Lula sobre o trancamento de pauta, embora cogite amenizá-lo.

Não é de agora que a oposição usa das brechas de regimentos internos e regras de tramitação para colocar pressão sobre o Governo para levar a cabo seus interesses políticos. Não obstante, o uso das MPs coloca dificuldades em muitas destas articulações, e amplia o poder do Executivo e de seus partidos aliados, que naturalmente já é avantajado por ter a máquina estatal em mãos.

Dentro deste contexto de governabilidade, o debate sobre as MPs conota duas prerrogativas políticas, ambas ligadas aos limites de poder. Numa primeira perspectiva, poderá dar mais saúde à casa legislativa, o que é positivo no aspecto democrático. Num segundo viés, poderá ampliar a brecha para achaques de parlamentares para cima do governo, em troca de apoio aos seus projetos de lei. Significa que, a depender das novas regras, a exemplo da queda automática da MP, estratégias da oposição terão mais facilidade para brecar "o poder de fogo" do Governo em promoções muita vezes tachadas de populistas.

O fortalecimento do Congresso Nacional é salutar à democracia brasileira, mas o atual cenário político brasileiro ainda não é propício para que as MPs saiam de cena e nem se tornem refém dos engenhos parlamentares. Ainda é mais fácil ao povo julgar as ações do Governo do que a integridade e idoneidade política dos nossos maiores representantes.

terça-feira, 18 de março de 2008

Holanda libera sexo nos parques durante a noite

A Holanda sempre está à frente quando o assunto é políticas liberais. A província, localizada nos Países Baixos, já é famosa por sua liberalidade quanto às drogas, já que se é permitido fumar um "baseado" livremente pelas ruas. Já ficou conhecida também por seu shopping pornô a céu aberto, onde as manequins nas vitrines são de carne e osso, e algumas muito carnudas por sinal.

Nesta semana, as autoridades holandesas resolveram revolucionar mais uma vez. Ficou liberada a prática de sexo ao ar livre e puro dos parques públicos de Amsterdam, mas, calma, sacanagem mesmo só pela noite. E todos terão a obrigação de recolher suas camisinhas ou outros eventuais apetrechos. Além disso, as senhoritas deverão conter seus gemidos e os cavalheiros seus urros para não incomodar os vizinhos. Tudo na mais perfeita moralidade.

Civilização moderna é assim. Se faz "putaria" com elegância sem nenhum puritanismo, apesar do legado protestantista. Imagine só tal liberalidade aqui na Bahia. O atentado ao pudor é crime, e não cansamos de ver carros pululantes pela orla afora, ou mesmo casais mais afoitos por estacionamentos e pátios universitários. No Carnaval, então, o cara vai dá uma "mijada" e se vacilar volta contabilizando uma boa "bingolada".

É... Literalmente não dá para liberar sexo ao ar livre por aqui, o controle de natalidade já precário ia mesmo pro espaço. E a prefeitura ia ser obrigada a estender seus esforços de distribuição de preservativos no carnaval para ad infinitum. Sem esquecer, quantas milhares de fotos e vídeos não iriam aparecer pela rede virtual tais como "safada da FTC dá para professor no parque Pituaçu". Que problemão, já pensou?!

sexta-feira, 14 de março de 2008

Secretária dos EUA está em Salvador

Desde ontem na terrá do axé, a secretária de Estado do Estados Unidos, Condoleeza Rice, faz hoje visita ao Centro Histórico. Antes de aportar em Salvador, para conversar com o governador Jaques Wagner assuntos turísticos entre a capital baiana e seu país, Rice esteve com o presidente Lula tratando das recentes tensões diplomáticas entre Venezuela, Equador e Colômbia.

Os EUA é um forte aliado do governo Colombiano para o combate, como já é notório da política externa norte-americana, ao terrorismo internacional. O governo Bush enviou bilhões de dólares ao presidente Alvaro Uribe como apoio financeiro à militarização das fronteiras, com fins de minar as forças terrorristas guerrilheiras.

Rice deixou a Lula um recado inequívoco: "a questão da Colômbia e Equador ainda não está resolvida", afirmou. E endossou a estratégia yanque de isolar o presidente Hugo Chávez, para, segundo a secretária, garantir um processo de desenvolvimento pacífico da América Latina.

Como se antecipando ao "chumbo" que está por vir, Chávez anunciou um encontro marcado ainda este mês com o presidente colombiano Alvaro Uribe, com o objetivo de selar acordo bilaterais de natureza política e econômica.

Após estada em Salvador, que se encerra hoje, Rice parte para o Chile, onde deverá reafirmar as visões dos EUA para os latinoamericanos junto à presidente daquele país, Michele Bachelet.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Uma homenagem aos 10 anos sem Jordan*


Este ano completará dez anos do último título do Chicago Bulls, do lendário Michael "Air" Jordan, conquistado em 1998, quando o quinteto chegou ao sexto campeonato da NBA em cima do Utah Jazz, da inesquecível dupla Stockton-Malone.

O legado que este super-atleta deixou ultrapassa seu repertório vasto de jogadas e cestas fantásticas. Pelo menos para este blogueiro, o mais precioso de "rever" Jordan em ação pelos diversos vídeos do Youtube é o delicioso e intransferível deleite de saber ter acompanhado aquele momento em andamento. Em outras palavras, ter crescido apreciando aquele gênio e vibrando com ele. Fazer parte da era Jordan. Sem precisar de memórias alheias para degustar uma obra sublime, tal qual muitos jovens brasileiros se acostumaram com relação a Pelé.

Devido ao avanço dos registros de imagem, eu não precisarei bancar no futuro desses "coroas" que hoje narram com olhos brilhantes as peripécias de Pelé. Meus filhos terão arquivos vastos para apreciarem Michael Jordan. Mas vá lá, cá pra nós, que não é a mesma coisa. Então, mesmo assim, vou precisar dizer que promessas do "novo Jordan", a exemplo das que ocorreram com Kobe Bryant e Lebron James, são apenas esquálidas comparações, e reafirmar que durante anos, anos e anos um jogador de tamanho gabarito não voltará a pisar em qualquer quadra de basquete pelo mundo.

Será este sempre meu veredicto inquebrantável, não importem quantos números e jogadas possam dizer o contrário. Este último julgamento deixo para os adoslecentes de agora e para os jovens de amanhã, por direito natural. A mim não me cabem nem caberão análises racionais, mas somente a recorrente lembrança de um jogador de tirar o fôlego. Na memória, não tem espaço para números, estatísticas, mas para os assombros, o entusiasmo, a empolgação e a convocação do coração e do espírito. É neste patamar, que o esporte deixa de ser mero ofício para se tornar arte.

*Michael Jordan parou de jogar basquete profissionalmente em 2003, pelo Washington Wizard, mas foi em 1998 que ganhou seu último título, pelo time com o qual marcou a história do esporte.

Leitor brasileiro não prestigia autores nacionais

O brasileiro lê pouco romance de autores nacionais, indica pesquisa realizada pelo Instituto Cultural Aletria em seu site. Num total de votos não divulgado, cerca de 53% leu de um a cinco obras nacionais em 2007.

A enquete apontou ainda que, de 13% das pessoas que ano passado leram em média dois livros por mês, metade não teve acesso à leitura de nenhuma obra de autores brasileiros. O resultado da pesquisa se assemelha à lista dos livros de ficção adulta mais vendidos no Brasil, em 2007, que foi bem baixa, segundo o jornal O Globo em matéria de 30 de janeiro último.

Das obras nacionais lançadas no ano passado, apenas uma delas, “Elite da Tropa”, consta no levantamento. O sucesso na vendagem do livro se deu, em grande parte, por meio do filme “Tropa de Elite”, do diretor José Padilha, que alcançou grande sucesso de bilheteria. O livro ficou em oitavo lugar, atrás de obras de autores do Afeganistão, Austrália, Índia, Estados Unidos e Espanha.

Com informações do Comunique-se.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Cidades de automóveis: o gargalo da modernidade

A civilização urbana é caótica. Prova disso é que estamos no Brasil desenvolvido a ponto do gargalo moderno: as grandes cidades não suportam o fluxo alucinante de carros, estão faltando ruas. No mundo todo, alcançamos a impressionante cifra de um bilhão de automóveis. Dariam para acomodar quase toda a população mundial, de 6,6 bilhões de pessoas. Uma utopia já que, apesar de poderem arbrigar até seis passageiros, os carros de passeio são usados normalmente por um egoísta motorista.

Os noticiários são inquestionáveis. São Paulo registrou ontem o maior engarrafamento de sua história, com 186 km de trânsito lento. Em Brasília, cidade referência de planejamento urbano, a frota de veículos aumentou 50% nos últimos oito anos e os congestionamentos viraram rotina na sua principal avenida, a dos três poderes. Problemas graves no trânsito também já são tônica em Belo Horizonte e aqui em Salvador.

Os atuais projetos para solucionar os transtornos do tráfego aparecem e parecem mirabolantes: infinitos viadutos, anéis rodoviários, vias portuárias, os famosos Rodoanel, etc. São buscas paliativas para amenizar o caos do trânsito, que sempre estão nos calcanhares do problema central, pois não alcançam o bojo da questão. Outras reais soluções como investimentos maciços em transporte público, a exemplo de redes extensas e sofisticadas de metrô, são consenso entre especialistas e autoridades, no entanto não surgem como propostas concretas e viáveis. Na capital baiana, o metrô virou um grande elefante branco.

Em suma, é nécessário que o expansionismo automotivo urbano desacelere, caso contrário é bom começar a pensar em cidades tais quais as ilustradas em Minority Report, com edifícios servindo também de ruas. Ia ser uma mão na roda, literalmente, unir a solvência dos congestionamentos à idéia de crescimento vertical, tão prestigiado no PDDU soteropolitano. Mas desacelerar produção de automóveis implicaria numa mudança de uma cultura consumista, que nutre a singularidade, a liberdade, esses valores, que distorcidos, fomentam posicionamentos indivulalistas.

Tal visão é tão predominante, que em palestra na Ufba, ano passado, o ativista da causa verde, o francês Paul Renier, foi tachado de antiquado ao pronunciar uma defesa radial desto modo capitalista de vida. Já este blogueiro, quando entrevistando a secretária municipal do planejamento, Kátia Carmelo, foi indagado incisivamente ao sugerir que era preciso políticas públicas com fins de frear este desenvolvimento automobilístico alucinante. "Como? Proibir as indústrias de produzirem?(risos)", rebateu a secretária.

Tempos de desenvolvimento sustentado. No horizonte, é assustador e paranóico parar de progredir. Loucos, quem pensem algo inverso. Como vou vender meu carro mesmo...