quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Atestado de qualidade: a "eugenia" do Harém

Antes mesmo do início da festa, muitas menininhas já estavam em clima de folia. É que, carimbadas no braço com a marca do bloco, garotas desfilavam pelas ruas da cidade exibindo seu atestado de qualidade: era uma convidada do Harém, ou seja, é uma beldade com certificado.

A tatuagem com os escritos do bloco garante a natureza pessoal e intransferível do abadá - nada de passar para outra pessoa ou vender a fantasia no mercado paralelo. Mas, para as mentes mais maldosas, o "brasão" do Harém é um instrumento de selecionar as menininhas e "limpar" o bloco. Será por isso - deu para constatar ontem nas ruas -, que as branquinhas predominam quase unânimes no bloco?

Parece que as mulheres negras não fazem parte do paraíso, pelo menos não deste de Peixe. Está aí a "eugenia" carnavalesca. E não é pela primeira vez, lembrem que o Ilê há muitos anos sai nas ruas sem uma alma branca - com a justificativa da tradição de luta da afirmação da negritude. No caso do Harém, não há causa sociopolítica nem cultural. Vai ver que as negras são feias e ponto final.

Em tempo, os critérios do Harém pecam no próprio fim: muitas meninas brancas feias ganharam o abadá e saíram por aí como vacas caminhando no pasto, ferradas. Pouco importa, o pedigree já estava assegurado.
Obs: Este texto é essencialmente opinativo, não há informações contundentes e irrefutáveis que possam sustentar que o bloco Harém se utilize de critérios de cor para selecionar suas convidadas. Já as mulhereses brancas feias referidas no texto são feias para este signatário, podendo ser diferente para outros muitos.

Em primeira mão: hotel será instalado perto do aeroporto

A rede Sol Express deu início à construção de um novo resort. As obras já estão em andamento nas proximidades do aeroporto internacional de Salvador. Será o quinto hotel da rede na capital baiana. Já funcionam Sol Victória Marina, Sol Barra, Sol Plaza Sleep, e o Stella Maris Resort and Convention, este último inaugurado em dezembro do ano passado. A Sol Express é hoje a maior rede hoteleira genuinamente baiana.

Por enquanto, há poucas informações sobre a estrutura do hotel: quantos andares, área, número de quartos, etc. O projeto ainda não foi oficialmente anunciado. Espera-se que caso se torne realidade, o empreendimento não gere problemas parecidos com os do Oscar's Hotel em São Paulo, do empresário Oscar Maroni, que foi fechado depois de repentinamente a prefeitura constatar que fora o prédio construído bem próximo à pista de pouso do aeroporto de Congonhas.

Só para adiantar a polêmica, no novo PDDU de Salvador, aprovado a toque de caixa pela Câmara de Vereadores no apagar das luzes de 2007, a área onde o aeroporto está localizado não é considerada como "destinada preferencialmente à hotelaria". Considerando as proximidades em volta do aeroporto, o novo hotel ou está sendo construído em área "não sujeita à restrição de gabarito" ou em região onde a restrição do gabarito (altura limite dos edifícios) é de oito metros, mais ou menos um prédio de três andares. É esperar para vê.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Pré-Carnaval I: Na feijoada da Dadá, baiano não tem vez

A feijoada da Dadá já é tradição em Salvador na temporada de verão antes da chegada do Carnaval. Na tarde do último domingo, 27, o Bahia Café Hall, na Paralela, ficou lotado para saborear o gostoso prato tradicional na Bahia e curtir Voa Dois, Netinho e Tatau. Tudo muito bom, tudo muito organizado. O único problema, contaram alguns "convidados" da festa: algumas baianas do acarajé estavam privilegiando os turistas, em detrimento dos seus conterrâneos. No verão e Carnaval é assim: gringo fica com nossas mulheres, com nossas ruas (camarotes e blocos), com nossas praias, e agora, a mais nova, ficam com o acarajé de Dadá.

Pré-Carnaval II: Foliões arcam com ingresso e doação no Ensaio Geral



Folião do Ensaio Geral se surpreende com doação compulsória de um quilo de alimento (ou pagamento da taxa de R$ 2) para retirada da camisa que deu acesso à festa realizada em Praia do Forte, no último sábado, 26. O estudante de Administração Milnei Dias escreveu ao "Nota Livre" registrando sua indignação.


Doação: questão de escolha?


Na última sexta-feira, 25, deparei-me com uma situação no mínimo curiosa. Estava na Central do Carnaval com meu ingresso do show do Chiclete na mão em busca de pegar a camisa que dá acesso à festa, quando fui abordado por um dos colaboradores da referida empresa:

- O senhor trouxe a doação?
Respondi negativamente.

- O senhor pode comprar o “vale” naquele balcão.
Fui informado.

Chegando lá, a simpática mocinha disse-me que o vale custava R$ 2,00 e que sem este eu não poderia pegar a camisa da festa que estava sendo vendida pela bagatela de R$ 150,00. Olhei para o lado e vi o cartaz do “Carnaval solidário”. Quero enfatizar aqui que nada tenho contra qualquer campanha solidária, mas o que me surpreende é a obrigatoriedade da doação. Juro nunca ter visto em minha vida algo parecido. “O senhor está obrigado a nos fazer uma doação”, pensei cá com meus botões.

A quantia pequena também não me chateou, mas, vender um ingresso de show que diferentemente da doação custava muito caro e ainda obrigar o comprador a fazer a doação, acho um desaforo. Como se não bastasse a quantidade de dinheiro que a Central do Carnaval ganha, ela com as “doações” ainda posa de bacana para a imprensa e governo às custas de nós, pobres (mas nem tanto) foliões. Por que a digníssima empresa não faz suas próprias doações? Como diz o velho, ríspido e pornográfico ditado: “Tá querendo gozar com o p... dos outros”.

Adendo do Nota Livre: a condição da doação para retirar a camisa constava do ingresso, avisando previamente ao consumidor da taxa de R$ 2,00 ou do quilo de alimento. O signatário deste blog compartilha da indignação do sr. Milnei Dias por achar que as campanhas de doação devem atuar para estimular a solidariedade, mas, de forma alguma, podem coagir qualquer cidadão a realizar uma doação. Em tempo, o verbo doar significa ceder gratuitamente, conforme verbete do diciónário da língua portuguesa. O que a Central do Carnaval fez foi cobrar a doação, o que a desconfigura como tal.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Só se vê na Bahia

Foto: Max Haack


Não se trata do famoso fusca Herbie, aquele mesmo das telas do cinema americano. É genuinamente baiano. Estacionado na Av. San Martirn, é um esboço da criatividade baiana. Veja você mesmo. Ah, se meu fusca falasse!

ACM Neto faz 29 anos: será ele o futuro líder da Bahia?

Os tambores tocaram mais forte na sala de recepção do hotel Fiesta, na última quinta-feira, 24, por volta das 19h, quando o deputado ACM Neto adentrou o salão cercado por repórteres, fotógrafos e câmeras, além dos "correligionários" admiradores do político sucessor do legado polítco de ACM Ternura - aquele falecido senador. O ranger dos atabaques e repiques, na verdade, anunciava o início da festa do 29º aniversário do deputado.

Foi inteligente: transferir o momento de comeração pessoal para uma homenagem à cidade, e sobretudo, "à nossa gente", como não se cansou de repetir ao microfone o mestre de cerimônias. E perspicaz também, claro. A corrida eleitoral já começou, portanto uma dose bem oportuna de marketing político não deixaria de ser aproveitada. O evento teve como tema "Gente que faz a Diferença", com exposição fotográfica assinada pelo fotógrafo baiano Max Haack. No trabalho, Haack fotografou pessoas de seis bairros periféricos que ajudam voluntariamente sua comunidade. A sacada foi muito boa: mostrar a importância da gente sofrida e trabalhadora para o provável candidato do DEM a prefeito de Salvador em outubro deste ano.

Mas o sucesso da estratégia de marketing parece não ter se repetido no âmbito estritamente político. O auditório não ficou repleto, apesar da confraternização ter sido aberta ao público. Diverso ao seu avô, que em qualquer lugar que aparecia, sobretudo de cunho eleitoreiro, movia multidões, ACM Neto não mobilizou muita algazarra na platéia anônima. Também não foram vistas dezenas de caravanas trazidas por vereadores e outros correligionários. Nomes de peso da política baiana somente: o presidente do PR, senador César Borges (que pelo visto vai apoiar o deputado à prefeitura), o ex-governador Paulo Souto e o senador ACM Júnior.

ACM Neto deverá ser o líder dos Democratas na Câmara Federal. Sua força política parece ganhar contornos mais bem definidos, na verdade, isso começou a acontecer desde que o deputado vociferava na Câmara contra os desmandos éticos petistas no caso do mensalão. Há um porém: seu vôo político será tão alto quanto do avô? Dois poréns: sua voz ecoará em alto bom som caso ele se desgarre do legado carlista?

A depender da confraternização de quinta, o horizonte não é nada promissor. ACM Neto deverá ter cuidado para os microfones do Palácio Tomé de Souza ou do Congresso não falharem na hora H. Talvez ele não tenha a mesma compostura de improviso da cantora contratada no seu aniversário - enquanto ela cantava o hino do Carnaval "Chame Gente", simplesmente seu microfone parou de funcionar, uma gafe. A cantora convocou o público a cantar junto e o constrangimento até diminuiu.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Lojista narra indignado polêmica que envolve o Aeroclube

Veja abaixo o texto enviado pelo lojista Rogério Horlle ao "Nota Livre" sobre o processo de licitação do Aeroclube Plaza Show, iniciado desde 1996, que vem gerando polêmicas sobre a licitude dos procedimentos adotados no acordo entre o Consórcio Parques Urbanos e a prefeitura de Salvador. Recentemente, as obras de reforma do Aeroclube foram embargadas pela justiça federal (leia o texto "Aeroclube: Que dívidas são essas?" publicado neste blog), por conter irregularidades.


Aeroclube paralisado - sucessão de ilícitos


Nos causa profundo constrangimento como lojistas e cidadãos de Salvador com o que ocorre dentro do Aeroclube . Em 1996, quando 140 sonhadores lojistas resolveram se instalar naquele que prometia ser o "o Maior Festival Center da America Latina", todos imaginávamos que estávamos fazendo o melhor negócio de nossas vidas, pois quem estava à frente do empreendimento era o grupo Iguatemi.

Logo no início já nos deparamos com atraso de 32 meses para entrega das lojas para podermos abrir nossos negócios (depois viemos a saber que este empreendedor não tinha cumprido exigências legais com os órgãos públicos, e já invadia mais de 5 mil metros de área não licitada), nos prejudicando totalmente, pois ficamos sem capital de giro para iniciar as operações. Ao longo dos anos fomos constatando que o tal de grupo Iguatemi não era uma “Brastemp". Permitiram a entrada de todo tipo de marginalidades "dentro" de toda área do shopping, em especial a prostituição generalizada, acompanhada de tráfico de drogas, cambistas de abadás ilegais, sonegação de impostos, até chegar a assaltos contínuos, seqüestros relâmpagos, tiros dentro da loja Magic Games, cabo do exército enforcado nas cordas do estacionamento, e para destruir totalmente a imagem do shopping , o estupro de uma estudante de 13 anos em frente ao cinema UCI. A partir dali (2005) , o shopping acabou!

Os administradores de forma maquiavélica , usaram os pobres e endividados lojistas e seus poucos funcionários para pressionar a Câmara de Vereadores para alterar a Lei Municipal para supostamente "ajudaria” os lojistas sobreviventes (a esta altura ,já tinham despejado mais de cem lojistas) . TUDO MENTIRA! Na verdade, já tinham feito um “acordo” (por baixo dos panos) com um tal de Pedro Guerra (procurador-geral do município de Salvador), e tão logo a lei foi votada, em junho de 2006, começaram a despejar violentamente os lojistas restantes para desocuparem seus estabelecimentos para revenderem os "Pontos ou Luvas" para novos empresários, que trariam de fora. Com a nova Lei em vigor , mais uma vez foi iniciada uma nova seqüência de MENTIRAS: nos prometeram entregar um "NOVO AERO" em março de 2007 . E nada de obras. Foram nos enrolando, para que ficássemos mais endividados junto ao seu departamento financeiro.

Em paralelo, em janeiro de 2007, fechavam o melhor negócio da história em um acordo , sem a presença de testemunhas , o representante do Iguatemi, senhor Marcos Dórea, zerou todas as dívidas que o Aeroclube tinha junto à Procuradoria do Município de Salvador, em torno de R$ 35 milhões! Assim, com todas suas dívidas anistiadas, este grupo resolve investir R$ 21 milhões de dinheiro do povo (que deveriam estar nos cofres públicos , para pagar os funcionalismo que vive recebendo atrasado) para recuperar a SUCATA do falecido Aeroclube. Inventaram um novo nome para ver se colava, Aeroclube Office, e chegaram a ponto de trocar o nome de um parque que não lhe pertence, de Atlântico , para Parque dos Ventos (sem consultar a Câmara de Vereadores, que parece que dorme). Chamaram mais uma vez a imprensa para anunciar a nova data de reinauguração do Aeroclube (07/12/2007), desta vez massacrando os restantes lojistas existentes: fecharam todos os acessos principais, de veículos, da praça do DJ (que nunca teve DJ , só prostituição) e lacraram toda praça de alimentação! PRONTO! Desse jeito, o plano se livrar dos últimos lojistas estava perfeito.

Ao invés de "revitalizarem" os lojistas existentes, de novo partiram para uma nova série de ilícitos: retiraram toda sucata das obras do shopping, e atiraram no meio do parque público, juntamente com montanhas de terras e entulhos, sem se preocupar com as conseqüências. Sem segurança alguma (que era de sua obrigação contratual junto à prefeitura que parece que também dorme), uma nova série de ilícitos se multiplica no parque: prostituição, assaltos, maconheiros, crianças bebendo bebidas alcoólicas e, para desespero das famílias de Salvador, entre aquelas montanhas o parque virou o maior "motel" público do País. Coqueirais soterrados, crime ambiental e por fim matança de animais: galinhas, bode sem cabeça, abutres, um verdadeiro filme de terror. Tudo patrocinado pela omissão do grupo Iguatemi e das autoridades locais e estaduais, que parecem que dormem!

Por debaixo dos panos, agora foi revelado pela imprensa, o administrador "ganharam", de presente da Sucom e Seplam, a autorização de invadir mais 32 mil metros de área não licitada, e rapidamente correram para construir um magazine das Americanas, em área que é do parque público, cientes de que os órgãos municipais e estaduais dormem. Mas como tudo que é feita a escondida vem a ser revelado, o caso chegou as autoridades federais, que não estavam dormindo, e deu no que todos hoje já sabem: embargo das obras ilegais, retirada dos entulhos do parque, e reconstituição das terras invadidas para construir o que parece iria se chamar "Avenida Ewerton Visco” (responsável pela Aliansce, empresa que administra o Aeroclube), entre as Americanas e a praia do povo, que clamava por uma intervenção pesada para acabar com esta máquina de cometer ilegalidades, chamado Aeroclube.

A nós lojistas só nos resta aguardar a melhor solução. Quem sabe a troca dos atuais gestores, que realmente ainda não aprenderam que o crime não compensa e buscar uma justa indenização por toda esta longa série de crimes que ali se repetem, ano após ano. Como cidadão, é triste saber que tudo ocorria, aos olhos de todos, em especial de nossas autoridades que deveriam zelar pelo patrimônio da Bahia, em nossa maravilhosa orla marítima, que todos sabem é bem tombado pelo Instituto de Patrimônio Histórico Nacional (Iphan), o que atrai turistas do mundo todo para desfrutar desta beleza natural, que alguns homens insistem em destruir. Por fim , a imprensa tem noticiado que , o "grande acordo" fechado pelo nosso Procurador (se bem entendi , procurador do município deve defender os interesses do Município, não é isso?) com o Aeroclube foi altamente benéfico para os cofres públicos: de um aluguel de R$ 150 mil por mês passou para R$ 4 mil reais por mês, em dezembro de 2007.

Realmente, tudo isso só podia ocorrer nos contratos do Aeroclube. Assim, só nos resta parabenizar a Justiça Federal por ter agido com rigor. É hora de botar tudo em pratos limpos; botar a policia federal, Ministério Público Federal para botar na cadeia aqueles que se envolveram em toda esta série de crimes que por ali se passaram: rufianismo (de rufião: indivíduo dado a brigas), prostituição infantil, improbidade administrativa, corrupção passiva e ativa .... E é bom preparar grande quantidade de algemas, pois parece que tudo se parece com formação de quadrilha . Que pena Salvador, que pena Bahia, que pena população soteropolitana

domingo, 20 de janeiro de 2008

Feira em Pituaçu preza qualidade de vida

Neste domingo, 20, o parque Metropolitano de Pituaçu amanheceu mais uma vez movimentado pelas tendas de artesanato e culinária, e apresentações teatrais que têm como intenção estimular hábitos e formar consciência para a melhoria da qualidade de vida.

O cenário tem nome: Feira Reviva Parque, e desde 09 de dezembro vem acontencendo, como resultado de uma iniciativa da Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Estado (Semarh), em parceria com organizações não-governamentais (Ongs).

A coordenadora da Feira, Ana Javes, avisa que qualquer pessoa que tenha trabalhos com produtos orgânicos e reciclados pode participar da iniciativa. Para isso, deve se direcionar à sede do parque Pituaçu, às terças e quintas, das 9h às 12h, para realizar sua inscrição. Até agora, a feira - que funciona de 7h às 17h - conta com uma média de 150 inscritos a cada domingo.

Lá pode-se encontrar trabalhos interessantes. É o caso dos álbuns, convites, abajur, agendas e cartões de visita de Manoel Paulo Pinto. O artesão fabrica tais produtos a partir de fibra de bananeira, e ornamenta a mercadoria, em alguns casos, com cascas de cebola. Os preços vão de R$ 25 (agendas e álbuns) a R$ 100 (iluminárias). Pinto realiza cursos para quem quiser aprender a arte, ao custo de R$ 300 por pessoa, formando turma a partir de cinco pessoas.

No último domingo, 13, a Feira Reviva Parque contou com uma atração especial. A Ong Animal Viva, em parceria com a entidade Célula Mãe, relizou doações de 30 gatos e cachorros, que foram resgatados nas ruas e foram tratados em instituições de proteção a animais.

O trabalho de doação tem o propósito de "desafogar as entidades que cuidam dos animais e achar um dono que tenha consciência do carinho e atenção que eles precisam", explicou Roberlina Mercuri, uma das organizadoras. Ontem e hoje, o mesmo trabalho de estimular as pessoas adotarem os bichinhos, segue com mutirões nas ilhas de Itaparica e Mares. As ações já foram realiadas nos bairros de Cajazeiras, Cosme de Farias e Itinga.

Fotos: Érika Becker e George Brito

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Aeroclube: que dívidas são essas?


A decisão judicial de embargar a obras do Aeroclube Plaza Show, além da coerência pelos desrespeitos dos empreendedores a uma área tombada desde 1959, serviu para colocar holofotes em como a prefeitura de Salvador contraiu dívidas de até R$ 23 milhões com o Consórcio Parques Urbanos, que ganhou a licitação em 1996, no governo de Lídice da Mata, para explorar a área na construção de um shopping a céu aberto, e ainda ter em troca da prefeitura o compromisso desta em fazer o Parque dos Ventos - na área onde hoje está aquele monte enorme de terra e entulhos, os quais devem ser retirados em 72 horas, sob pena de desobediência à justiça.

Sobre as dívidas, poucas explicações até agora. O procurador-geral do município, Pedro Guerra, que deu seu aval ao novo contrato em que a prefeitura enfim passou, atrasada, a responsabilidade da construção do Parque dos Ventos para o consórcio, garantiu que o acordo entre o governo municipal e o consórcio foi benéfica à administração pública, porque esta livrou-se de uma dívida de R$ 15 milhões. O valor é resultado de uma conta obscura: como "espólio" do primeiro contrato de 1996, o Consórcio ficou devendo à prefeitura R$ 8 milhões, só que em contrapartida esta ficou devendo áquele R$ 23 milhões. O motivo: desequilíbrio contratual financeiro, seja lá o que isso significa. Com o perdão da dívida remanescente de R$ 15 milhões, João Henrique foi perspicaz em fechar o atual acordo, livrando-se do débito e do Parque dos Ventos, argumentou o procurador.

Engraçado, a concessão de explorar uma área tombada depende de autorização do Iphan, CRA (por se tratar de orla marítima) e da prefeitura, pelo menos. Abre-se um processo licitatório, pelo qual a administração pública concede, valendo-se de seu poder discricionário, o que implica a legitimidade em fiscalizar e exigir contrapartidas ao interesse público, e, no final disso, é ainda a prefeitura quem deve e se diz esperta por conseguir indulgência de dívidas à iniciativa privada concessionária. Vá entender quem ganhou com tamanha benevolência administrativa.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Venda casada será alvo de investigação

Bebuns, regueiros e baladeiros fiquem esperto. A cobrança simultânea de ingresso e consumação mínima, conhecida como venda casada, é proibida pelo Código de Defesa do Consumidor e pela Lei nº 8.137/90, no artigo 5º, inciso II.

A prática é criminosa com pena prevista de até cinco anos de detenção. Apesar disso, as casas de espetáculos, barzinhos e boates de Salvador insitem em fazer a cobrança, numa demonstração inequívoca de abuso.

A partir dos próximos dias, o Procon vai realizar diligências pela cidade para fiscalizar se as casas noturnas estão realizando venda casada. O procedimento atenderá uma solicitação do Ministério Público Estadual (MPE), que vem centrando esforços para combater o abuso. Quem for flagrado fazendo a dupla cobrança estará sujeito à aplicação de multa pelo Procon, e responderá inquérito civil a ser instaurado pelo MPE.

O contato do Procon é 3321-9947


terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Febre amarela: que risco corremos realmente?



O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, já foi à televisão, em cadeia nacional, comunicar que o País não corre o risco de epidemia de febre amarela - desde 1942, o Brasil já afastou essa possibilidade, com a erradicação da doença. Em 2000, houve um surto da doença, com 40 casos registrados. Mas os que aparecem hoje na imprensa são de pessoas mordidas pelo mosquito na mata - por isso dizer que a febre amarela é silvestre - além disso, a doença não é transmissível entre humanos de forma direta.

A vacinação só deve ocorrer em áreas de risco, em regiões próximas à florestas e cerrados ou fronteiriças a esses locais. A secretaria estadual de Saúde da Bahia (Sesab) divulga pela televisão, desde o último dia 11, comunicado de que os habitantes de municípios que fazem fronteiras com regiões onde há riscos de contaminação já foram quase todos vacinados. Não há necessidade de moradores de Salvador se direcionarem aos postos de vacinação, senão aqueles que se "deslocarem para as regiões Norte e Centro-Oeste ou para países onde a vacinação é obrigatória". Nos últimos dias na capital baiana, houve uma debandada aos postos de saúde e a vacina faltou em alguns deles.

Em Feira de Santana, um motorista faleceu ontem e há suspeitas de que ele tivesse contraído a febre amarela. Ele havia viajado para Minas Gerais há dez dias, onde há casos registrados da doença. Não há, no entanto, motivos para pânico. Para contrair o vírus, estando em Salvador, você não vacinado há mais de dez anos tem que ser picado pelo mosquitinhho da dengue, o famoso Aedes aegypti, que antes já havia mordido alguém também não vacinado há mais dez anos e que fora mordido pelo mosquito silvestre transmissor da febre amarela.

A possibilidade de você contrair febre amarela é remota, mesmo no Carnaval, de onde chegará gente de todos os lugares. Agora, caso veja um mosquitinho, aquela velha moriçoca, rondando por perto, não vacile, dê logo um safanão.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

De volta a novela dos juros


Os bancos já começaram a subir os juros. As taxas para empréstimos pessoais já estão mais altas em pelo menos três instituições financeiras, o mesmo acontencendo com relação ao cheque especial, a exemplo do Banco do Brasil que elevou a taxa de 7,52% para 7,56% ao mês.

O Comitê da Política Monetária do Banco Central (BC) desde outubro mantém a taxa básica de juros, a Selic, em 11,25%, o que rompeu o processo de declínio iniciado em setembro de 2005. A medida é vista como cautela para evitar pressões inflacionárias. Há algumas semanas, para compensar o fim da CPMF, o Governo deciciu elevar de 7% para 15% a Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL) - medida ainda ser aprovada na Câmara Federal. Pronto, foi o bastante para os bancos tomarem suas providências, como garantia de que o dinheiro não vai sumir de seus caixas.

Em entrevista ontem ao programa Canal Livre, da rede Bandeirantes, o ex-ministro da Fazenda, Delfim Neto - um dos orquestradores do milagre econômico brasileiro na era da ditadura militar - mostrou-se otimista com o cenário econômico nacional. O economista ressaltou que o crescimento do PIB, em 2007 de 5%, é resultado de um mercado interno em expansão. "A virtude de Lula foi soltar os animais que são os empresários", afirmou em referência ao crescimento da indústria nacional. Delfim aposta num crescimento de 6% do PIB este ano. (Confira também aqui entrevista com especialista do Instituto de Pesquisa de Economia Aplicada - Ipea).

A possibilidade do crescimento produtivo interno se deu justamente por conta da queda dos juros. Ela estimula empresários realizarem investimentos - a partir de financiamentos a juros baixos. Mais recursos investidos provocam maior uso da capacidade instalada, que fechou 2007 em 87%. A consequência é geração de mais empregos, o que possibilita maior renda para fortalecer o mercado consumidor interno.

Se os juros páram de cair e, pior, voltam a subir para controlar a inflação, fica em risco a manutenção do crescimento. Bom lembrar que duas coisas vitais impulsionam a inflação neste começo de ano: alimentos, que foram os grandes puxadores da alta inflacionária, e a energia, que, com a queda dos níveis de água nos reservatórios, já está mais cara para o empresariado.

Segurança pública: Carnaval, novidades e questões


O Carnaval de 2008 que se aproxima - faltam apenas 17 dias para o início da festa momesca - não terá grandes novidades, o mesmo modelo de folia de décadas se repitirá mais uma vez. Coisa nova mesmo só para os foliões mais exaltados que se meterem em brigas e para os assaltantes de plantão que costumam perambular pelos circuitos. Se vacilarem, vão parar em contêineres que funcionarão como celas durante todos os seis dias carnavalescos.

O Governo do Estado ainda não decidiu onde serão instalados os módulos prisionais móveis - como são tecnicamente chamados os contêineres. As opções são em trechos dos próprios circuitos festivos, ou próximo às delegacias da cidade. Ao todo, serão 20 unidades. A medida tem como intenção não agravar a já combalida situação das delegacias, hoje superlotadas por toda Salvador, devido à defasagem do sistema prisional. Outro ponto é que os módulos podem evitar as fugas no período, quando os presos se aproveitam da atenção dada pela polícia à segurança da festa para colocar em prática planos de fuga.

Módulos prisionais já são utilizados em pelo menos três estados - Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo - e têm gerado resultados positivos. No entanto, a decisão do Governo em adotar as unidades tem gerado polêmica, sobretudo, relacionada à questão dos direitos humanos. A pergunta que aparece por aí é se a estrutura do contêineres é adequada ao propósito de servirem como celas. Um questionamento no mínimo curioso quando se põe em pauta as atuais condições das carceragens pela Bahia afora.

O certo mesmo era perguntar ao preso: onde prefere ficar, nos contêineres ou nas delegacias? Mas deixe sua opinião aí do lado, respondendo a nossa enquete: os módulos prisionais são uma boa alternativa ou é uma idéia absurda que fere direitos humanos?

Mercado municipal de Itapoã vai ser reformado

As obras de reforma geral do Mercado Municipal de Itapoã devem começar no início de março, informou a secretaria municipal de Serviços Públicos (Sesp). Segundo o coordenador de feiras e mercados, Yuri Amorim Dias, o projeto de reforma está em fase de elaboração e dever ser apresentado à Câmara Municipal de Salvador e à Associação de Moradores do Bairro de Itapuã logo após o Carnaval. Leia mais aqui.

domingo, 13 de janeiro de 2008

Chico César empolga Parque da Cidade

O cantor e compositor pernambucano Chico César embalou centenas de pessoas na manhã deste domingo, 13, no anfiteatro do Parque da Cidade. O local, com capacidade para abrigar 1,5 mil espectadores, recebeu um público numeroso e entusiasmado. Músicas, como "Penso em Você", de autoria do artista recentemente gravada por Daniela Mercury, ecoaram no anfiteatro nas vozes da multidão. O show durou 1h40, com Chico César entoando canções de outro artistas, como O Rappa e Luiz Gonzaga. O espetáculo faz parte do projeto "Música no Parque".


O sol forte não foi obstáculo para o público. Muitos se abrigaram sob as sombras das árvores, alguns até embaixo de guarda-sol, mas a maioria enfrentou a "lua" do meio-dia

sábado, 12 de janeiro de 2008

Varela: a popularidade é ferramenta política incerta


O apresentador Raimundo Varela, que tem candidatura certa às eleições municipais de 2008 pelo PRB, pode ter dado um tiro no pé, com a denúncia, até agora sem provas, de que os 41 vereadores da Câmara Municipal de Salvador receberam cada um R$ 300 mil do governo João Henrique para aprovar o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU) 2007.

Em um primeiro momento, no seu programa Balanço Geral exibido pela TV Itapoan (Record), Varela afirmou enfático que a propina teria rolado solta e em espécie. Num segundo lance, já após a indignação geral que tomou a Câmara, onde o vereador Alfredo Mangueira (PMDB) foi incisivo contra as acusações do apresentador, o também radialista tentou um passo para trás estratégico. Tentou associar o suborno de R$ 300 mil, que teria sido capitaneado pela secretária do Planejamento, Kátia Carmelo, à liberação de verbas para obras. Ou seja, acabou reafirmando que o vereadores foram comprados, só que agora dentro dos meandros políticos.

Não deu certo. O PSB resolveu recolher assinaturas para instalar uma Comissão Especial de Inquérito (CEI) com intuito de destrinchar as negociações em torno da aprovação do PDDU. Já a secretária Kátia Carmelo resolveu interpelar o apresentador e vai entrar na Justiça. Por sua vez, a Mesa Diretora da Câmara iniciou os procedimentos, por meio de sua assessoria jurídica, para obrigar Varela a provar suas acusações.

Na última semana, Raimundo Varela movimentou os bastidores políticos. Recebeu nos estúdios do seu programa o também apresentador Zé Eduardo, o Bocão, que assinou contrato com a Record, depois de deixar a TV Aratu (SBT) sob especulações e comentários nada honrosos - o jornalista supostamente extorquia empresários para não achincalhá-los no seu programa "Se Liga Bocão", foram as suspeitas não comprovadas. Varela mostrou profundo interesse em ter seu pupilo Zé como candidato a vice-prefeito na sua chapa.

Diante das ações de Varela, pode se perceber que o apresentador aposta tudo na popularidade conquistada na TV para alcançar o cargo mais alto do Palácio Tomé de Souza. As últimas pesquisas o colocaram na frente da corrida eleitoral, com base nas intenções de voto. Neste viés, Zé Eduardo seria um forte aliado. Mas os parênteses existem e Varela parece esquecer deles. Primeiro, ainda não se sabe se os boatos em torno de Bocão vão surtir efeitos negativos à imagem do jornalista. Segundo, as acusações até agora infundadas de Varela criam um abismo entre sua candidatura e o poder legislativo municipal, quando nesta casa estão puxadores de votos importantes para qualquer candidato à prefeitura de Salvador.

Por último, só para lembrar, um apresentador popular já esteve à frente da cidade soteropolitana, o inesquecível Fernando José, que matava o pau e mostrava a cobra, e depois encolheu a verve em casos de corrupção na sua administração. Em tempo, anda circulando por aí que Raimundo Varela tem semelhanças com Zé Eduardo que vão além de um programa televisivo popular. Por enquanto é o que se pode dizer, para não correr o risco de cometer barbaridades tais a do nosso famoso apresentador-candidato.

Leia aqui a nota de repúdio da Mesa Diretora da Câmara

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Será campanha contra a obesidade?



Mais uma discussão séria, seríssima, entra em cartaz em Salvador, semanas depois do conturbado debate pouco debatido do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU), que foi aprovado sob uma estranha urgência urgentíssima.

A pauta de extrema relevância agora é o peso do Rei Momo para o Carnaval deste ano. A gordura tradicional foi enxuta, em nome de Clarindo Silva, nomeado majestade profana neste sexta-feira, 11. Na sua esbelta silhueta, o magro Rei está provocando críticas e protestos: afinal de contas como ousa um magricela adentrar assim o terreno dos gordinhos, em tempos que a obesidade é um mal que assola os brasileiros, sobretudo, crianças?

Motivos para tal mudannças não faltam: como Salvador tem a segunda pior arrecadação per capita do País, não poderia se fazer uma significativa economia poupando gastos com as vestimentas normalmente dismensuradas dos antigos rei gordos momos? Talvez. Mas parece que o argumento que corre é que, com o exemplo da majestade delgada, se estaria investindo em campanhas em prol do combate à obesidade, sobretudo aquela que mata, chamada mórbida.

É uma forma de se conquistar mais espaço. O negócio é de peso.

"BBB 8": sexo é o interesse do público


Na pintura de Tamara de Lempicka, o nu é arte e revela beleza e mistério. O quadro é sugestivo para ilustrar que erotismo pode ser e é interessante, sem necessariamente ser banal e obsceno.


Em tempos que a presidente da TV pública brasileira, Tereza Cruvinel, discute o modelo e características da programação a ser adotada na Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), o Big Brother Brasil, símbolo de altos índices no Ibope, levanta uma correlação interessante entre audiência, corpos nus e interesse do público.

Os telespectadores e as revistas de nú artístico (com eufemismo assim chamadas, mas são aquelas de mulher pelada mesmo) estão decepcionados com os dotes físcos - as entrâncias e reentrâncias - das "sisters" do Grande Irmão* televisivo. Talvez venha daí a explicação para que a oitava edição do "BBB" não ter levantado vôos altos - até agora não ultrapassou 40 pontos do Ibope, como esperado.

A relação entre estímulos sexuais e sucessos de audiência é uma vertente já irreversível do programa, e mesmo da televisão brasileira. Em detrimento do conteúdo de qualidade, a predominância comercial dialoga com as expectativas "essenciais" do público, e nada mais natural e orgânico que satisfazer a libido. Novelas sempre se valem de cenas picantes para atrair mais olhares.

O prazer de observar belos corpos há muito não concorre com a satisfação e deleite do desafio e enriquecimento intelectual. A educação e cultura não são jogadores à altura do grande tabuleiro do entretenimento midiático. Em outros termos, quando belas bundas, calcinhas, seios empinados sem sutiã foram menos atrativos do que palavras inteligentes, belas e enigmáticas? O interesse do público se empolga com a "quintessência" das belezas femininas e masculinas em franca exibição, e se entedia com a inexpressividade de idéias inssossas, porque não sensíveis ao paladar que se pode degustar com os olhos e com a imaginação libertina.

A solução nem sempre poderá ser dá ao público o que ele deseja. No entanto, frustrações ao interesse público são arriscadas, se o não previsto é incapaz de fazer esquecer o previsível. A possibilidade da TV pública conquistar audiência - fator imprescindível como Cruvinel admitiu - é se fazer acontecer pela contradição entre os regimes da escassez e ambundância hoje postos na mídia.

Do excesso de entretenimento descartável e erótico da televisão comercial e da ausência quase plena da formação de cultura, nascerá a grande virtude da TV pública: a troca de corpos seminus malhados e pseudo-sensuais, por informação vestida e assexuada. A mesma estratégia não é válida para a Globo, muito menos no caso do Big Brother.

*Tradução em português de Big Brother. O termo foi cunhado pelo escritor Geroge Orwel no livro "1984"

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

No começo, nem tudo são flores

Uma abertura de boas-vindas seria mais adequada no primeiro texto deste modesto blog que acaba de entrar no ar. Mas tomei a liberdade de postar o seguinte relato acerca da situação do bairro de Tancredo Neves, que traduz o reflexo sobre nossa urbis soteropolitana de insegurança e abandono, resultado de políticas públicas ineficientes e paliativas. Vamos à matéria, para depois seguir em frente iniciando o debate sobre segurança pública.

Tensão em Tancredo Neves

Helicópetro da polícia sobrevoa área em busca de criminosos
FOTO: MAX HAACK



Tiroteios e operações policiais viram rotina em Tancredo Neves

No bairro, onde a briga já foi pelo nome do local, população convive com clima de tensão: polícia vai atrás de bandidos em procedimentos “hollywoodianos” constantes

Final de tarde numa segunda-feira (07) ensolarada no bairro de Tancredo Neves. Pedestres, vendedores, carros e ônibus transitavam com tranqüilidade e a vida cotidiana do bairro seguia. Aproximadamente 17h, mais de dez motocicletas do Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos (Garra) saem barulhentas rumo ao final de linha.

Pelas ruas, viaturas não identificadas contornavam apressadas os quarteirões. Policiais civis armados se encontravam a postos nas esquinas, observando o movimento. E no céu, um helicóptero rondava a região, fazendo círculos por quase uma hora, o que chamou a atenção e curiosidade da população.

Antes de dá partida na sua moto, um dos policiais diz a reportagem: “não aconteceu nada, é apenas procedimento normal”. A Centel, órgão de inteligência das polícias baianas, também não concedeu informações detalhadas. Apenas que nada poderia ser informado, porque “a operação é sigilosa”.

Pelo bairro, os moradores já se mostram acostumados a este tipo de procedimento policial. Enquanto olhava atento ao movimento do helicóptero em meio a mais de dez vizinhos, Francisco (nome fictício – o morador não se deixou identificar) dizia com um sorriso, misto de sem graça com irônico: “Aqui morrem dois hoje e logo depois já estão mais dois amarrados para amanhã”. E só, nada de depoimentos. A lei do silêncio parece fazer parte da vida dos moradores do antigo Beiru (hoje o nome oficial é Tancredo Neves, depois de decisão judicial em 2005, que gerou protestos no bairro). Lá, as pessoas falam muito pouco sobre violência, e quando abrem o bico não querem dá nomes. “Agora, de oito em oito dias, eles estão fazendo isso por aqui”, comentou um morador sobre a operação da polícia.

No meio daquela tarde, segundo relatos da comunidade, ocorreu tiroteio pelo bairro. Uma fonte da polícia informou que um homem morreu na troca de tiros. No último sábado, 5, já havia ocorrido duas mortes em confrontos entre a polícia e jovens “nativos”. Carlos André de Oliveira, 19 anos, e Nivaldo Moreira de Jesus, 21, foram mortos por policiais militares das Rondas Especiais da Polícia Militar (Rondesp).

O bairro do Tancredo Neves tem sido palco de pequenas batalhas civis. A violência cresce no lugar. Motoristas de ônibus se mostram inseguros no final de linha. “Infelizmente, o que mais acontece é falta de segurança. Assaltos à mão armada são freqüentes”, conta Lino Santos, que dirige ônibus há pelo menos 11 anos. E tem sido freqüente troca de tiros entre policiais e bandidos.

A região é considerada uma das mais perigosas de Salvador. No ano que passou, foram registradas no bairro 37 mortes, dos 957 assassinatos contabilizados pela polícia em 2007. Em dezembro último, 38 presos fugiram da 11ª Delegacia de Policia, localizada no bairro. São os policiais da 11ª que também estão atrás dos foragidos que atiraram no módulo policial do Cabula VI, no último dia 4. A preocupação dos moradores que já foi de manter Beiru como nome oficial do bairro, agora não dorme tranqüila com o clima de tensão instalado no local com as constantes investidas de policiais e criminosos.