quinta-feira, 29 de maio de 2008

Eleições de Salvador e os oportunistas do ar

A mídia como quarto poder já é um entendimento do senso comum. Em qualquer esquina de bar, não se duvida do grau de influência que uma rede Globo, por exemplo, teve em ascensões e quedas de presidentes da República. Similar esquálido vem se apresentando na capital baiano ao passo que as eleições municipais se aproximam, e pululam manobras, negociações e alianças políticas para garantir votos no pleito.

Da televisão, dois nomes de peso têm cartas altas na mesa: Raimundo Varela e Zé Eduardo, o Bocão. Pela imprensa, já se divulgou que Varela tentou vender sua candidatura para Antônio Imbassahy, manobra vetada pela liderança nacional de seu partido, o PRB. Aposta-se que mais uma vez o apresentador vá conceder seu apoio a um terceiro candidato em troca de favores, cuja natureza se imagina qual seja. Por trás dele, seja como real candidato a prefeito ou a vice em outra chapa, nada menos do que o bispo Edir Macedo, magnata religioso da Rede Record, que terá ampla influência direta política em Salvador, caso Varela ponha de algum modo suas garras no Palácio Thomé de Souza. Não se pode esquecer o quanto o radialista deve ao bispo. Foi Edir Macedo, ou melhor, os milhares de fíeis da Iurd, quem financiou as caras cirurgias que salvaram a vida do apresentador.

Já Bocão, sucessor inconteste de Varela, foi recentemente consultado por nada menos que o deputado federal ACM Neto se aceitaria em ser candidato a vice-prefeito na chapa do partido Democratas. Em troca do apoio, o popular apresentador pediu coisa pouca ao neto do ex-senador ACM: a direção da TV Bahia. O deputado ficou de analisar o pedido.

O mais temerário disso tudo é que ambos jornalistas têm popularidade tão grave quanto as suspeitas que rondam seus preceitos éticos. Bocão teve seu nome envolvido com denúncias de suborno. Ele supostamente cobraria para não falar mal de empresas no ar. Já Varela é tachado como oportunista inescrupuloso, por não ter qualquer pudor em vender apoio político.

Em Salvador, o poder da mídia tem chances de sair do quarto nível para a esfera dos três oficialmente efetivos. E isso não é novidade numa cidade que já teve como prefeitos dois comunicadores: Mário Kertesz e Fernando José. E é bom lembrar que o primeiro deixou o maior rombo nas contas públicas que a soterópolis já sofreu; e o segundo sequer matou a cobra, quanto mais mostrou o pau.