quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

A estupidez do povo israelense

Os milhares de palestinos mortos pelos ataques israelenses à Faixa de Gaza anunciam um massacre, não um combate. Quem tentar dizer o contrário, faça bem longe de mim. Por isso, o apoio do povo de Israel à esmagadora ofensiva do exército do ministro de Defesa, Ehud Barak, é um dado preocupante. Quando a sociedade sustenta a violência capiteanada pelo Estado armado tem-se a morte da democracia e dos Direiros Humanos, e líderes autocráticos, populistas e belicistas com altos índice de popularidade revelam um grau mínimo e perigoso de civilidade de uma nação.

Se o povo de Israel apoia o massacre não é, como defenderia alguns, porque ele sente na pele os efeitos trágicos dos foguetes lançados pelo Hamas, senão seria muito mais razoável defender o acordo de paz. Ele motiva o massacre porque tem incrustado em sua cultura narcisista que é um povo superior aos palestinos e, de fato, deve ser soberano em detrimento de um Estado palestino. A mesma estupidez acometeu os yanques quando do ataque dos Estados Unidos ao Afeganistão e ao Iraque - George Bush, em um primeiro momento, foi apoiado pelo povo americano e teve ali seus melhores índices de popularidade.

Pela atrocidade cometida, Bush deveria sofrer impeachment e ser banido da política, do mesmo modo que o aplaudido Barak hoje. Os dois são exemplo de que aquele velho adendo continua valendo como nunca: o povo tem o líder que merece.

O trabalhador paga a conta

Ao abrir os jornais locais nesta manhã, deparo-me com a perspectiva dos empresários baianos e paulistas - Fieb e Fiesp - de reduzir a jornada de trabalho e realizar cortes nos salários dos trabalhadores, como uma das medidas de um pacote de solução para enfrentar a crise econômica e evitar um "mal maior".

Não sou dos melhores entendedores de política econômica, pelo contrário, mas fico aqui com meus botões: este corte vai ser baseado em que critérios, porque a redução do poder aquisitivo dos trabalhadores não pode colaborar para um mais rápido desaquecimento do mercado consumidor interno, este que segurou as pontas do Brasil, quando todos os outros países viam suas divisas irem pelo ralo?

Vejo o presidente Lula a todo momento instigando os brasileiros a comprarem e provocando os empresários a não serem covardes e apostarem, com criatividade. E nada menos que o economista Delfim Neto disse que Lula é "o maior economista do País". Na contramão deste otimismo - benéfico porque qualquer um sabe que o famigerado mercado financeiro, dito autorregulável (escrita à luz do novo acordo ortográfico) tem como um dos seus pilares o quesito subjetivo da confiança - os empresários já bateram pé firme e não vão considerar a contrapartida de manutenção dos postos de trabalho em troca das ações do Governo que beneficiaram as empresas neste momento de crise, como a desoneração de impostos e o aumento das linhas de crédito oferecidas pelo Banco do Brasil, Caixa e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.

Isso soa curioso. Lembremos que a redução da jornada de trabalho versus cortes de salários e benefícios é um das oposições cruciais da tão arrastada reforma trabalhista. Muito longe de ser um fator sazonal, este impasse é inerente ao modelo desenvolvimentista, este que por comodidade ou conveniência intelectual não se coloca em questionamento. A economia tem sempre a obrigação de gerar mais empregos, que se traduz em força de produção, pouco importa a que preço para o proletário - seja ele cognitivo ou ainda braçal.

Fico aqui visualizando milhares de trabalhadores cumprindo um expediente de seis, cinco, ou quatro horas , e ganhando, sei lá, 30% ou 40% menos. Estes asseclas do capitalismo vão ter que procurar um segundo emprego para manter sua vida, enquanto outros milhares vão se degladiar para conseguir ocupar as vagas deixadas pelos outros. Ou seja, um grande carrossel de desesperados girando à procura de um impulso econômico mentiroso. Enquanto isso um discurso chifrim tenta convencê-los que a redução do custo trabalhista às empresas é indispensável para o desenvolvimento do País. E a desoneração dos impostos, caras pálidas, não adianta de nada?

Frente a tal postura e ao cenário econômico atual minha conclusão é triste e para muitos superficial, porque pode parecer chavão dos guetos socialistas. A "aldeia global" capitalista move-se pela lógica da opressão às classes produtivas de base, embora esconda-se sob um discurso de desenvolvimento sustentável e de Estado de Bem Estar Social. A crise do mercado financeiro deixa isso bem claro e trouxe um lição: quando o Titanic capitalista começa a afundar, os botes salva-vidas são destinados aos donos dos dólares e as portas são fechadas para a plebe proletária. E quando as ondas do naufrágio chegarem às costas brasileiras, os empresários puxarão a prancha dos trabalhadores e deixarão a eles a conta da lancha.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

A grande sacada da virada do ano


Desde de novembro não escrevo uma linha sequer neste espaço que se pretende uma janela para minhas idéias. A vida de jornalista é uma obstinação da escrita tão grande que não se tem mais vontade de escrever depois de dias a fio "batendo" matérias. O primeiro dia do novo ano então chamou-me de volta. Por que fico aqui pensando com meus botões o que de fato significa esse amanhecer de mais um dia, considerado a grande virada.

Inteligente e sensível, o escritor Mário Traquina disse que o Ano Novo é talvez a invenção mais feliz do homem. É o tempo certo para investirmos toda nossa energia em torno dos nossos sonhos e metas e quando esgotados, vem a renovação das espectativas através da grande virada do ano. Por isso, desejamo-nos votos de prosperidade e felicidade.

Concordo com Traquina. Em termos de pragmatismo, o calendário tem lá sua importância para a vida dos homens, sobretudo no que tange às relações formais. Mas, em suma, o grande lance é o ganho psicológico. O importante de virar o ano é abraçar as pessoas e simbolicamente compartilhar de um mesmo desejar, que estamos caminhando para algo bom e especial que está guardado em algum lugarzinho e momento do futuro. É como iludir-se de que a transformação começa ao raiar do primeiro sol do ano.

Não sei se algum de meus poucos leitores já tentou guardar as imagens dos rostos das pessoas no momento que rompe o ano novo. O que visualizo, como em um pequeno filme curta metragem na minha cabeça, são pessoas sorrindo umas para outras, olhos de cumplicidade mirando-se reciprocamente, para depois, no ápice, abraçarem-se e logo em seguida desejar algo bom ao pé do ouvido da namorada, do namorado, do amigo, do irmão, da mãe, do pai, do avô e por aí vai.

Essa é a grande mágica da virada. Naquele instante, à parte o preço da Champangne, o glamour da praia, o valor do 13º salário, a cor a constratar com as vestes brancas, a humanidade vibra a uma só nota, como em um grande acorde harmônico. E daí a força deste momento.