quarta-feira, 25 de março de 2009

Da janela de um avião, sonhei...

Mirando de um pequeno vão quase oval, a 38 mil pés da face terrestre, eu era um marinheiro, quer dizer, tripulante de primeira viagem, cujos 27 anos foram suavizados num comportamento infantil, pelo encantamento que a vista celeste me causou. Só tinha viajado de avião ainda bebê, por isso ignorava as benesses desta invenção brasileira fabulosa! Deus abençoe Santos Dumont!

Apertei-me ainda mais naquela pequena poltrona, e segurei firme as mãos de minha namorada (com quem eu tive a honra e o prazer de compartilhar tamanha experiência), quando aquela máquina espetacular arrancou literalmente "avionada" para instantes depois alçar voo. Passado o susto, grudei a cara na janelinha quase oval e adentrei um mundo de fantasias, foi essa exatamente a descrição imediata que fiz ao olhar àquela imagem de Google Earth superreal. Minha vontade era transgredir os limites, trascender da minha condição corpórea e sair flutuando entre as nuvens tal qual um Peter Pan extratosférico. E quem sabe encontrar anjos tocando arpas, sentados sobre as nuvens, tal como Véu, minha namorada, brincou.

De volta à terra, a cada vez que um avião risca o céu, sinto-me convocado a sonhar. Voar de avião é uma extraordinária aventura que o homem banalizou ao torná-la ação diária e utilitária. Foi uma das coisas que o jornalista Alexandre Garcia quis dizer no texto Sentar-se à janela (que Mil, um amigo, me passou via email): "Cresci, me formei, e comecei a trabalhar. No meu trabalho, desde o início, voar era uma necessidade constante... Perdi o encanto. Pensava somente em chegar e sair, me acomodar rápido e sair rápido". Alexandre inscita a todos a sentar na janela da vida para não perder seus encantos.



Grande conselho! Da janela do avião, acredite, podemos nos distanciar da marcação temporal cruel e rigorosa de nossas vidas. Uma oportuniade imperdível de contemplá-la. E como é muito paradoxal isso! Porque a invenção avião é daquelas que cansamos de ouvir serem chamadas de coisas dos tempos modernos, que permitem a compressão do tempo e espaço. Viagens que durariam dias são realizadas em horas. E quantas vezes não nos pegamos correndo desesperados para não perder o voo. Mas, taí. Dentro do avião, criação do homem, sentimos a mão forte de Deus pairando sobre nossas cabeças. A imensidão azul, o tapete branco de nuvens, os rios serpentiando as terras verdes... Sempre admirei o céu, espiando-o daqui de baixo. Não imaginava que o aqui embaixo fosse tão fabuloso lá de cima.
fotos: George Brito