sexta-feira, 18 de setembro de 2009

O Coliseu Midiático

Com a imprensa alçando ao posto de celebridade a professora de educação infantil Jaqueline Carvalho dos Santos, 28, por sua perfomance "enfiada" e despudorada em casa noturna da velha soterópolis, não restam mais dúvidas. O Coliseu está de volta, mas agora com uma arena midiática, cuja audiência foi elevada a enésima potência, a priori via youtube e agora através do grande conglomerado empresarial de comunicação de massa.

Tanto na Roma antiga quanto hoje na Bahia de todos nós, o espetáculo da barbárie é o motor de atração de um bem valioso outrora e valiosíssimo agora: a atenção das pessoas. Antes, os olhos se voltavam para as sangrentas lutas entre gladiadores, ou mesmo para homens franzinos tentando fugir das garras de grandes leões. Em nossos tempos, a curiosidade está direcionada às sanguinolentas imagens do automassacre de excluídos do sistema de produção e circulação de capital, cultura e desenvolvimento social; ou para a depreciação da reserva moral em nome de uma visibilidade, a qualquer preço.

Diante de tal constatação, talvez ninguém possa deixar de considerar a linha de pensamento do escritor americano John Gray, autor de "Cachorros de Palha". Neste livro, Gray defende que do homo neandertal até o homo sapiens houve todo o tipo de evolução (econômica, social e tecnológica, sobretudo) menos aquela ligada à moral e à ética.

Não à toa, se na Roma antiga os reis e os nobres se divertiam com leões devorando plebeus, na Bahia de todos nós a grande massa de telespectadores não pisca os olhos diante de programas como "Se Liga Bocão" e "Na Mira", para ver a desgraça não de uma outra classe social mas dos seus vizinhos, amigos e parentes.

Interessados na vida cotidiana que os cerca, ali bem explorada nas telinhas pelos falsos jornalistas, esses pobres telespectadores enriquecem, com o próprio sangue, dor e sofrimento (no quer pode ser considerado espécie de sadomasoquismo social) os nobres da mídia com muitos pontos de Ibope a serem trocados por vultosos anúncios publicitários.

Para tal enfadonho cenário, a única saída é evitar ao máximo estar na platéia e principalmente no centro da arena de tão perigoso coliseu midiático.

sábado, 12 de setembro de 2009

Terror: Salvador sob ataques

Onze ônibus queimados, nove módulos policiais atacados, três policiais feridos e três viaturas danificadas. É o saldo triste de ações orquestradas por asseclas do narcotráfico em Salvador, sob ordens de seus líderes de dentro dos presídios. Em resposta, a polícia matou dez homens e prendeu 19 suspeitos de executarem os ataques. Tudo isso em apenas seis dias.

Como agravo, as últimas 24 horas, com uma sexta-feira, 11.9, fechando oito anos dos atentados às Torres Gêmeas em Nova York, foram pinceladas com tons de tensão, receio e apreensão. Circularam boatos de que uma bomba havia sido implantada em um shopping da cidade. Ontem, este blogueiro chegou a saber que um funcionário do gabinete do governador Wagner havia tido informações de que a Polícia Federal recebeu a denúncia do explosivo e equipes haviam se deslocado para invetisgar.

Por volta das 21h, houve movimentação anormal de policiais em frente ao shopping Itaigara. Mas tudo, felizmente, não passou de especulações, pelo menos até um segundo momento. Nos jornais, a ameaça de bomba não foi noticiada. E o A Tarde confirmou a falsidade das denúncias. Mas os boatos fizeram pessoas desistirem de ir ao shopping e ao jogo do Bahia. O clima de tensão também foi visto na reação dos rodoviários que ameaçaram recolher os ônibus nas garagens caso os ataques continuassem.

Os fatos e a repercussão deles na rotina dos soteropolitanos configuram uma cidade de reféns do que já pode ser chamado de terrorismo. A situação ganhou tamanha dimensão que já foi parar nas páginas de jornais internacionais como o El País. O diário espanhol registra que a Bahia está tomada pelo narcotráfico e pontua o assassinato de mais de mil civis só este ano e de 34 policiais militares no ano passado.

Cidade aclamada de forma desvirtuada pelo clima festeiro e "preguiçoso" de baías receptivas e provincianas abertas ao mundo, Salvador agora impressiona além fronteiras nacionais uma imagem de violência, aos moldes de uma antiga Bogotá, quando outrora dominada pelas guerrilhas. Pior que, diferente da distorção de tachá-la malemolente, a pecha de cidade do crime agora se cria com bases bem reais. O que aconteceu nesta semana nada mais é do que uma narcoguerrilha urbana com fortes tendências terroristas.