quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Iraque "invade" You Tube - A luta pelo espaço da informação

O primeiro a ter notoriedade pelo bom aproveitamento político na Internet foi o atual presidente dos EUA, Barack Obama. Inclusive, pela perfomance no mundo virtual, ganhou à época do pleito yanque a alcunha de candidato 2.0. Depois, mais recente, veio a Petrobras, com uma página na web onde responde diretamente às interpelações da imprensa, no intuito de driblar os filtros interpretativos da mídia, indo, assim, direto ao público.

Agora é a vez do governo do Iraque. O primeiro ministro Nouri Al-Maliki lançou ontem um canal oficial iraquiano no You Tube, com o objetivo de desmentir "as mentiras da mídia". O canal, curiosamente, não permite aos usuários fazer comentários, como se pode checar acessando a página. O vídeo com o primeiro ministro anunciando  o novo canal do governo recebia até às 00h55 de hoje 4.665 visitações.

Leva a refletir como a Internet, considerada por muitos a ferramenta crucial para democratização da informação, tal comos os casos Obama e Petrobras fazem crer, pode acolher usos aparentemente não tão democráticos assim. Levou-me a pensar também que a rede mundial de computadores restringe-se a uma mera ferramenta, e não pode ser vista como um organismo político e social vivo, autônomo e independente, capaz de se transformar na fonte de informação prima. O que, portanto, lhe exime da obrigatoriedade de provocar reviravoltas macro.

Extendendo a questão a outras utilizações da mais moderna ferramenta de mídia, a exemplo das redes sociais (Twitter, Facebook, Orkut), vale ressaltar que a hegemonia da produção de informação, embora aclame-se pelos quatro cantos a liberação do pólo emissor, continua nas mãos das grandes corporações de mídia, as quais, inclusive, invadem cada vez mais esses espaços inicialmente alternativos e fagocitam os meios e produtores independentes que ganham alguma notoriedade, caso do próprio You Tube, hoje propriedade da Google.

É uma luta por espaço ainda muito desigual. E daí, e por outros tantos motivos, milhares de leitores conectados na rede não se informarem através de outros produtores (até porque é custoso produzir informação genuína, de qualidade, e que inspire credibilidade). Os blogs de grande audiência acabam por quase invariavelmente parar na midiaesfera, saindo assim de seu espaço original, a blogsfera, só para ficar neste exemplo.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Jornalista desmistifica o pensamento positivo

"Abaixo a ditadura do pensamento positivo". Esta é uma das frases mais inteligentes ditas recentemente no mundo. É da escritora e jornalista americana Barbara Ehrenreich, 68, entrevistada pela repórter Maíra Magro, na última edição, dia 18, da revista Istoé. Após enfrentar um câncer, quando recorreu aos livros de autoajuda, Barbara chegou à conclusão de que o pensamento positivo é um engodo que, superexplorado pelo mercado, aliena as pessoas, podendo muitas vezes prejudicá-las, ao invés de ajudá-las.

Vale a pena ler a entrevista. Mas um trecho esclarece de forma inequívoca aonde mora o perigo deste positivismo que varre o mundo hoje: "Estamos acostumados a ouvir que, se pensarmos positivamente, as coisas boas virão. Muita gente pobre ouve isso nas igrejas evangélicas: Deus quer que você seja rico, Deus quer que você tenha uma casa maior. E aí, se alguém lhe oferece uma hipoteca que pareça milagrosa, que você não tenha que provar renda ou pagar uma valor de entrada, isso é visto como uma benção".

Isso vale para pessoas mais esclarecidas, muitas que viram como uma novidade hiperrevolucionária as baboseiras do livro e vídeo "O Segredo". A cada comentário sobre o best seller eu me perguntava: "Será que é preciso tamanho estardalhaço para dizer que precisamos acreditar em si mesmos?" Incomodava-me ainda ver serem vendidas ideias de que você pode ser e fazer tudo, basta acreditar e pensar positivo para o universo conspirar a seu favor. Que idiotice mais absurda!

Bom, agora estou sossegado. Alguém também pensa que o segredo não existe, mas sim a vida como ela é, para nos brindar com linhas bem realísticas e inimagináveis que este mundo nos traz, como já retratava o saudoso Nelson Rodrigues.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Ladrão virtual: sujeito inexistente 2


Domingo, 15 de novembro de 2009. Por volta de 13h30, eu e minha namorada Verena nos dirigimos ao caixa eletrônico do Bradesco, um quiosque localizado em frente ao Shopping Itaigara. Queria fazer um saque. Dentro do quiosque, Verena observou que o painel estava visivelmente afundado. Passou a mão pela brecha deixada e tocou um fio estranho. Desconfiados de algum golpe, não iniciamos a operação. Agachei-me e verifiquei a presença de uma microcâmera conectada por um fio a um aparelho, o que em princípio parecia ser um celular,  mas depois se revelou um MP4 da Sony.

Bingo! Algum filho da mãe instalara equipamentos eletrônicos para capturar os momentos que os usuários ingênuos digitavam suas senhas. Várias vítimas devem ter sido surrupiadas pelo ladrão virtual. Algumas foram poupadas naquele início de tarde dominical graças a um casal calejado, observador e solidário. Eu, no caso, faço parte dos dois tipos de vítima: a consumada e a potencial.

Bingo, mais uma vez! No domingo anterior ao feriado de finados, estive no bendito quiosque verificando meu saldo. Não recordo, por desatento, se o painel já estava afundado à época. Mas tudo indica que o bandido, esse sem nome, conseguiu ali meus valiosos códigos bancários. Feita a dedução, chamei a polícia militar e registrei queixa na 16 Circunscrição Policial (Delegacia da Pituba). O aparelho foi apreendido e deve passar por perícia.

Mera formalidade. "Isso só em seriados americanos", disse-me uma agente policial após eu questioná-la da possibilidade de se chegar aos meliantes virtuais a partir das digitais impressas no MP4. Até porque, pasme, o caixa eletrônico, fora o do ladrão, não conta com sistema de câmera. Tudo bem, pelo menos cumpri meu papel de cidadão.

E, sem esquecer, meu rico dinheirinho, os R$ 780 roubados, já voltou à minha conta, agora sob nova senha, é claro. Ainda que, "por mera liberalidade", como versa o instrumento de ressarcimento do banco, o Bradesco resolveu cobrir meu prejuízo e depositar minha grana.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Caetano faz comparação descabida

As declarações de Caetano Veloso sobre o presidente Lula hoje, além de deselegantes e desnecessárias, não esclarecem o que ele de fato quis dizer com "Marina é Lula e é Obama ao mesmo tempo. Ela é meio preta, cabocla e inteligente como o Obama. Não é analfabeta como o Lula, que não sabe falar, é cafona falando, grosseiro. Ela fala bem". Se o jornais não cortaram o restante da frase, ficou faltando um tanto de coerência para o artista.

Em que sentido e características Marina é Lula, já que ela possui o dom da palavra, enquanto o presidente, segundo Caetano, tropeça na retórica? Não tenho a mínima ideia. Marina está longe de ser Lula, embora tenha como ele uma trajetória de uma pessoa que saiu da miséria e da ignorância para entrar no rol das grandes personalidades mundiais. Não tem e muito dificilmente terá uma carisma de tamanha dimensão do presidente ou mesmo a habilidade política do ex-sindicalista e ex-petista Luís Inácio, que de tão preponderante, forja a passos rápidos outra matiz ou linha política no Brasil, chamada por cientista políticos de lulismo.

Marina tem um quê de radicalismo bem parecido com a verborragia de Heloísa Helena, por um lado superpositiva como resistência e destituição de práticas oligárquicas patrimonialistas bem em vigor ainda no País, e de outro hipernegativas, por trazer o risco de colocar a perder um equilíbrio de forças capaz de manter o Brasil no rumo do desenvolvimento econômico.

Em tempo, voltando à delegância de Caetano, houve jornalistas que defendesse o compositor, ressaltando que o cantor teria usado de sua inteligência para dá peso à campanha de Marina, e o endossasse nas críticas ao presidente, já que Lula seria um ser desprovido de erudição e conhecimento. Engraçado, um jornalista, que deveria ter uma sensibilidade inteligente, consegue dizer tamanha burrice, pois confunde cultura escolástica com inteligência, uma não resulta necessariamente a outra. Este jornalista não consegue perceber ou admitir uma inteligência tão loquaz como a que Lula adquiriu com as dificuldades da vida e com os contratempos e sobressaltos da política (vale ler o texto de Eugênio Bucci sobre o gênio Lula).

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Ladrão virtual: sujeito inexistente

O mundo virtual tem umas peculiaridades um tanto excêntricas. Pode-se estreitar relações entre pessoas a priori conflituosas, como o jornalista Carlos Castilho noticiou recentemente (ver texto abaixo); pode-se encontrar amigos que há muito tempo não se via, como acontece no Orkut; pode-se expor ideias em potencial acessíveis a um mundo de espectadores inimaginável, em escala planetária, como se faz pelos blogs e pelas redes sociais. As possibilidades são incontáveis. Até aí nada de anormal.

Entretanto, confesso-lhes que tal dinâmica, constituída de uma fluidez informacional que suprime tempo e espaço, me tirou do sério hoje. Pela primeira vez, como milhares de outras pessoas, me apercebi que de um dia para outro um fulano, beltrano, ou, com devida licença, um filho da puta mesmo, levou-me cerca de R$ 800, simplesmente sacando meu rico dinheirinho da minha conta, do meu cofre virtual, como queiram. Ainda não tive a confirmação do banco, mas tudo indica que fui vítima de clonagem.

Disso resultam raiva, perplexidade, indignação e, sobretudo, impotência, diante de tamanha excentricidade. Nos tempos da era da informação digital, um inocente roubado perde absolutamente a oportunidade de conhecer o seu algoz, de ao menos suspeitar de quem ele seja, e em última instância ou, vá lá, de primeira mesmo, para os mais reativos, de sapecar-lhe uma boa surra.

Já ouço quem defenda, sustentando-se na natureza virtual de tal fenômeno, uma maior segurança dos vitimados, já que eles deixam de cair na tentação de brigar com o ladrão e acabar perdendo a vida. Na verdade, bons defensores, tenho de concordar com a análise. O larápio moderno, ou melhor, contemporâneo, pode ter a fineza de roubar sem nos machucar, sem nos constranger física e moralmente. Sou capaz de quase ouví-lo pedir licença antes de utilizar seu cartão, na verdade o meu, digitar calmamente a senha de seis dígitos, e assobiar tranquilo enquanto pensa no valor a ser sacado. De até imaginá-lo (mas quem?), após realizada a operação, sair calmamente da agência, sem pesares, com a grana no bolso.

Ele é esse não sei quem, esse sem nome, esse sujeito inexistente, esse humano virtual (no sentido de vir a ser) que nunca nos será atual, ao menos que tenhamos a sorte da câmera do caixa eletrônico ter o filmado, ter a chance de o banco nos permitir ver as imagens, e de a polícia um dia prendê-lo.  Cá pra nós, eu queria mesmo era ter podido dar-lhe um bons murros e pontapés, enquanto ele passava a mão na minha carteira.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Conversas Impossíveis

O jornalista Carlos Castilho, uma antena ligada aos usos, possibilidades e impactos das novas tecnologias no mundo, publicou hoje um artigo superinteressante no site Observatório da Imprensa. Ver aqui. O texto traz notícias de uma dimensão assustadora, por impressionante, que as redes sociais estão atingindo, rompendo com fronteiras de outro modo intransponíveis.

Agora, pelas redes ou pela blogosfera, veem-se extremistas conservadores e radicais, do âmbito religioso ao político, trocarem figurinhas com um suposto objetivo ainda muito especulativo de estabelecer um diálogo amistoso que leve a soluções de conflitos delicados e consequentemente à paz. Escreve Castilho: "O potencial da Web para integrar horizontal e descentralizadamente comunidades sociais em conflito mútuo está tornando cada vez mais frequentes e intensos os chamados diálogos impossíveis pela internet, como o que está sendo travado via blog por uma especialista australiana em antiterrorismo e um dos principais artífices da estratégia Taliban, a guerrilha afegã que hoje é a principal dor de cabeça dos Estados Unidos no mundo".

Sem dúvida, é um fenômeno no mínimo curioso, cujos efeitos práticos são ainda impossíveis de mensurar.