domingo, 26 de julho de 2009

O atendimento sem volta

Depois de passar a adotar uma máxima atribuída ao fundador da Wal-Mart, o empresário Sam Walton, comecei a ficar preocupado. Agora, sempre ao não me sentir bem atendido em uma loja, bar, restaurante, etc, não ponho nunca mais meus pés de volta no lugar. Era isso que supostamente Walton fazia para punir o mau atendimento. Muito coerente. A preocupação é que as opções estão a cada dia menores diante de tamanho "rigor" de consumidor.

O atendimento ao cliente em Salvador tem se mostrado tão ruim que às vezes beira o ridículo, porque desrespeitoso. Há alguns dias fui à livraria Siciliano, no shopping Iguatemi. Escolhi um livro e fui para o caixa pagar o produto. Como era um consumidor razoavelmente assíduo da livraria, contava com um cartão do programa de relacionamento da loja, pelo qual você soma pontos a cada compra e a partir de determinada pontuação pode ganhar descontos ou mesmo gratuidade em alguns livros.

Para meu espanto, a atendente informou-me que aquele cartão não tinha mais validade e que todos meus pontos de bônus haviam se perdido, pelo simples motivo de que a Siciliano havia sido comprada pela rede Saraiva. Pergunto-me ainda sem resposta: "Eu entro numa loja cujo nome no letreiro luminoso é Siciliano, cuja nota fiscal está em nome da Siciliano, e tenho um cartão da Siciliano invalidado porque agora ela não é mais Siciliano e sim Saraiva"?!! A gerente me disse que sim, infelizmente. Pronto. Fui para casa com o último livro comprado por mim naquela loja, onde jamais comprarei novamente.

Outro dia, fui devolver os filmes locados na GPW. Foram três CDs - um deles de bônus, porque a cada dois filmes você leva um terceiro de graça. Mas ele no final das contas me custou R$ 9,90, devido a uma multa por atraso na entrega. Tudo muito justo se o atendente tivesse informado que o maldito filme, do bônus, deveria ser entregue um dia antes, no caso um sábado, e não no domingo como os outros dois. Tanto não o fez como ainda enfatizou que a entrega seria no domingo. Tampouco chamou a atenção do cliente para observar os prazos de entrega na nota, dado que havia dois prazos e não apenas um.

Queixei-me ao gerente, sugerindo-lhe que nestes casos o atendente alertasse o cliente. Uma cortesia, gentileza que cativaria e não custaria nada. O gerente ironizou: "Vale a sugestão, mas da próxima vez sugiro que o senhor olhe as datas de entrega na nota". Bem, ainda não me decidi se voltarei a tal locadora.

Em outra feita... Não haverá espaço neste blog para tantas poucas e boas que já passei como consumidor. Por outro, sobrará espaço para listar os locais soteropolitanos que valem voltar a colocar os pés. Daqui para frente, vou anotar os nomes, e compartilhá-los.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Cláudia Leitte e o cerco da independência

No dia de comemorações aos 186 anos da Independência da Bahia, 2 de Julho, a cantora Cláudia Leitte fez uma homenagem às avessas. No Farol da Barra, por volta das 19h30 de ontem, estava montada uma megaestrutura, tudo a contento a uma grande festa comemorativa, que no entanto tornava-se inadequada por um simples e grande detalhe: o gramado do Farol estava fechado, virou um camarote destinado apenas a convidados, muitos deles integrantes do fã-clube da cantora.

É no mínimo curioso que em uma homenagem de independência, que devia estar atenta aos ideais de liberdade e justiça almejados naquela data história de 2 de Julho de 1823, sejam determinadas fronteiras, segregando o que deveria ser um público só. Claudinha Leitte ao privilegiar seus convidados acabou por tornar mais evidentes as diferenças de classe, estas ainda remanescentes em um Estado cujo processo real de independência ainda está em curso.

Foi triste ver se repetirem os modelos de festa tradicionais da capital baiana que insistem, com seus camorotes e espaços vips, em colocar a grande massa no segundo plano. Engraçado, é justamente o grande público que sustenta as vendagens de discos destes artistas ditos populares.

Em artigo recente na sua coluna na Folha de S. Paulo, o jornalista Gilberto Dimenstein chamou a atenção para o uso, embora legal, de verbas públicas por grandes nomes da música popular brasileira. Ivete Sangalo e Caetano Veloso, lembrou Gilberto, são uns que sempre se valem da Lei Rouanet para promover seus luxuosos espetáculos. Enquanto isso, artistas pequenos vão atrás de empresas privadas para patrocinar suas investidas.

Tudo isso é prova de que há uma inversão de valores em nome da sustentação de um mercado fonográfico. Nada contra. Nem mesmo contra os camorotes. O que não se pode perder de vista é que os espaços privados não podem se sobrepor aos públicos, do mesmo modo que os interesses particulares não podem aniquilar os coletivos, quiçá a liberdade do povo para ter garantido um lugar mais confortável no dia de comemorar sua luta de autoafirmação.