quinta-feira, 27 de maio de 2010

Dois anos e 40 cigarros na boca

Duas coisas impressionam na historia de Aidi, um menino de apenas dois anos da Indonésia que fuma 40 cigarros por dia. Isso mesmo, uma criança que sequer controla suas necessidades fisiológicas já tem a capacidade mecânico-motora de sustentar um cigarro entre os dedos e "manipulá-lo" com os lábios a ponto de dar uma tragada.

Um gesto banal e burro dos homens adultos vira emblema da magnífica inteligência corporal humana. Isso realmente impressiona. Mas vem em conjunto com a percepção de que tal habilidade e competência corporais são  formatadas pelo exercício do hábito. Neste caso, a força do hábito, mesmo que  tenha consequências nefastas, é legitimado pela letra da lei. O pai do garoto estimulou o vício quando a criança estava aos 18 meses e acha natural a prática, também não cometeu qualquer crime. Isso realmente impressiona e muito.

A conclusão é uma só: vemos o espetacular potencial da inteligência corporal humana sendo desperdiçado pela inapetência de uma cognição absurda sob a influência de uma  "cultura" estúpida, em princípio inexplicável, mas desde que ela tenha no hábito seu ponto de sustentação.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Um viva aos meninos da Vila!

Três jogos foram suficientes para eu me tornar um santista de carteirinha. Eu que desde 1999 abri mão de torcer para o Flamengo e para qualquer outro time, traumatizado pelas exaustivas, esgotantes e irritantes discussões futebolísticas com meus colegas de escola. Pouco tempo depois, contaminado pelo exercício do pensamento lógico a que estamos submetidos nessa sociedade extremamente cartesiana, resolvi colocar a paixão pelo futebol a um patamar de perda de tempo estúpida.

As concessões e exceções cabiam aos jogos da seleção brasileira, movidas pelo sentimento de nacionalismo. Mas agora perenizam-se por se renderem ao futebol-arte dos meninos da Vila. A lógica que me fez desconsiderar as trocas extremamente ricas entre torcedores e times de futebol só se admitiu derrotada quando a experimentação estética da beleza futebolística santista trouxe à tona, como um rompante, o lado emocional que define o ser humano e que o faz se apaixonar pelo inexplicável. Viva aos meninos da Vila, que têm ressuscitado a magia alegre do nosso futebol e inflado corações outrora murchos pela padronização da mediocriade e da operacionalidade reducionista dos jogadores modernos.

É uma pena que a coerência lógica do treinador Dunga não tenha se curvado aos dribles, passes, gols, enfim às peripécias de Ganso, Neymar e André. Na seleção, Robinho terá que comandar o espetáculo sem seus parceiros acrobatas da bola.

sábado, 15 de maio de 2010

Jornalista deve assumir o que escreve sempre

Jornalistas devem ter muito cuidado com aquilo que escrevem. Uma palavra errada, mal escolhida, erroneamente reproduzida, ou colocada fora de lugar, pode trazer consequências desastrosas, à sociedade, à fonte e ao próprio repórter. Mas o erros sempre vão aparecer. E, diferente da postura que a mídia brasileira tem adotado, de se colocar acima de qualquer suspeita, o comportamento ético, honesto e digno é o de assumir os equívocos, não ignorá-los ou escamoteá-los.  

Por isso, sem pesares e abertamente, assumo a imprecisão de minha matéria "Empresas disputam lixo de Salvador", publicada na edição de ontem do jornal A TARDE, especificamente na reprodução direta da declaração da subprocuradora-geral  do município, Angélica Guimarães, que fiscaliza o andamento legal do processo de licitação pública que irá definir a empresa a prestar o serviço de limpeza urbana da cidade. A saber, a declaração publicada: "Há muita pressão porque os empresários que estão atuando na área não querem sair". A subprocuradora referia-se a uma avalancha de impugnações movidas por empresas que hoje prestam o serviço (dominam o mercado há mais de 20 anos), questionando o processo licitatório com intuito de retardar ao máximo o processo.

Bem, na matéria não tive o cuidado de explicitar inequivocadamente a que a declaração se referia, embora tenha escrito acima dela sobre a possibilidade das empresas impetrarem  novas ações e sobre as diversas impugnações anteriores.  A saber: "A subprocuradora-geral do município, Angélica Guimarães, afirmou que espera receber novos questionamentos sobre o processo de licitação. Antes da abertura da concorrência pública, o edital foi alvo de várias impugnações".

A palavra "pressão" não contextualizada inequivocadamente deu margens a interpretações como a o do site Bahia Notícias, que comentou sobre a declaração: "'Há muita pressão porque os empresários que estão atuando na área não querem sair', afirma Angélica Guimarães, a subprocuradora do município, sem entretanto explicitar quais tipos de pressões sofre do empresariado". Em nenhum momento da matéria falei sobre pressões por fora, extras ou sobre qualquer outra natureza de pressão, que poderia colocar a integridade da subprocuradora em jogo. Mas não culpo a maliciosidade emprestada ao meu texto, porque ele realmente deixou brechas interpretativas.

Sem mais, está aí um bom exemplo, vivido na pele, de que é necessário o repórter ter um cuidado redobrado com o que escreve.  Sempre soube disso, mas não sou infalível, e reconhecer tal condição penso ser a melhor maneira para evitar a repetição dos erros.