sábado, 23 de outubro de 2010

Luz aos acontecimentos, enfim

O Estado de São Paulo lançou um pouco de luz ao abismo em que o cidadão brasileiro vem caindo nesses dias de recorrentes trocas de acusações mútuas entre petistas e tucanos e, mais grave, de um imenso bombardeio de matérias jornalísticas com versões partidárias, interesseiras e distorcidas. Estávamos à beira de uma república niilista, diante de uma histórica descrença pública nos políticos brasileiros, salvo raras exceções, e do descrédito total a uma imprensa de um lado golpista (Globo, Veja, Folha de S. Paulo) e de outro quase chapa branca (Istoé, Carta Capital, Record).

Tiro o Estado de São Paulo do bolo não por inclinações ao jornal, mas porque teve a coragem de divulgar o depoimento na íntegra do grande protagonista dessa sujeirada eleitoreira a que estamos submetidos nos últimos dias. Falo do jornalista Amauri Ribeiro Júnior. À Polícia Federal, ele de fato afirmou que investigava José Serra, em nome do jornal Estado de Minas, que pretendia proteger Aécio Neves das investidas investigativas do presidenciável tucano, cujo objetivo era produzir um dossiê contra o político mineiro a fim de pressioná-lo a desistir da sua candidatura à presidência.

Amauri Ribeiro também confirma que o material coletado das suas investigações apontam para o envovimento de José Serra nas operações suspeitas de privatização de estatais brasileiras na era FHC, inclusive da filha do tucano, Verônica Serra, através de contas em paraísos fiscais. Mas o PT também não é poupado. O jornalista aponta para uma briga interna dentro do partido, cujo epicentro de conflito seria o controle da comunicação da campanha de Dilma Roussef. Tal conflito teria gerado o vazamento dos dados sigilosos de familiares de Serra e outros tucanos à imprensa.

Veja aqui o depoimento na íntegra. 

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

A democracia mostrou seu fígado

Minha opinião diverge de todos os discursos moralistas e assépticos sobre esse momento da política brasileira. A campanha eleitoral em nível abaixo da linha de cintura, para usar um jargão do boxe, expõe nosso fígado, quando digo nosso, estou falando da democracia brasileira. E serve para assustar os mais crédulos desse nome que é igual a picolé na boca de criança, uma vez com ele não se quer mais largar. Também serve para alertar os mais céticos, de que o veneno de cobra pode funcinar, em doses controladas e certeiras.

Em meio a essa sujeirada toda, levada a cabo por petistas e tucanos, ficamos atentos que era preciso aprimorar os mecanismos de guarda dos dados sigilosos da Receita Federal. Embora já fosse notório o vão do sistema, a mídia só na eleição jogou o problema à esfera pública na dimensão que carecia, embora por caminhos tortuosos e distorcidos, balizados pela disputa eleitoreira e não pelos certames da segurança jurídica e fiscal dos brasileiros.

Pelos mesmos subterfúgios, e aí devam-se, em parte, os louros à imprensa tupiniquim, desmascarou-se a Erenice Guerra e seus tentáculos na Casa Civil e lembraram-se os esquemas de um certo Paulo Preto e suas relações com o candidato José Serra, servindo para tirar de exclusivos do lulopetismo os atos mais suspeitos e escandalosos. Isso é saudável ao processo político, não estou blefando. A politica em nenhum momento serviu-se do altruísmo para fazer valer suas premissas, por mais humanitárias e justificáveis se apresentassem. E a imagem pudica a qualquer político profissional não pode corresponder sempre, nem ajudar, a uma democracia em construção, como a nossa.  

Mas não bastassem tantos suplementos à robustez do poder de nosso povo, veio a "tsunami" ou seria "marola" do engajamento e poder religiosos, travestido da questão sobre o aborto. Pronto. Expusemos nosso fígado, jogamos ele para fora. A política está condicionada a um pathos. A nada mais brasileiros estão tão assujeitados que suas próprias convicções de fé, e, portanto, também religiosas. Resumindo, nossa política é pessoal, personalista e patológica. 

Daí porque a polêmica serviu para escancarar que a democracia brasileira é tão racional quanto a laicidade do entendimento do povo, ainda que seu Estado, por definição, seja laico. Se o povo reza, ora e pede a Deus, não há democracia agnóstica que inverta a ordem das coisas. E, lembro, a religiosidade é a maior questão politica do mundo hoje, bem sabe a dita maior democracia do Mundo, com seu presidente negro, suas vítimas de atentado terrorista,  sua expansão imperialista belicista e seus discuros intramuros raivosos, racistas, protestantes e ultraconservadores de plantão.   

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Marina oferece uma nova política para o Brasil

Marina destoa de tudo velho, para anunciar boas novas e trazer sangue renovado às veias viciadas e desgastadas da política brasileira. Seus quase 20 milhões de votos são uma expressão inequívoca de um novo anseio político vicejando nas entranhas da sociedade brasileira. Não é apenas mero fruto de um casuísmo político das atuais eleições, impulsionado por denúncias de tráfico de influência na Casa Civil, de posicionamentos polêmicos acerca do aborto atribuídos à candidata Dilma Roussef, nem de uma consequente adesão do público religioso à candidatura do PV, devido à religiosidade de Marina.  

É muito mais. Caso contrário, não seria ela a "roubar" os votos do PT, mas Serra. Caso contrário, cientistas políticos e jornalistas analíticos não estariam, por assim dizer, aconselhando petistas e tucanos a adotarem o programa e discurso ecosustentáveis em suas campanhas neste segundo turno. 

A minha empolgação sobre Marina tem razão de ser. Ela, felizmente, plantou um sentimento forte de que o Brasil pode voltar a ser um País altamente politizado, sobretudo sua juventude, e reverter um processo de despolitização ou burocratização do discurso político, recentemente limitado às burras arestas tecnocratas, gestacionais e administrativas. Ela deixou claro que é possível outra onda de mudança e projeto políticos, assim como fez Lula de 1989 até o ano que foi eleito em 2002. Marina teve grande votação na classe C - a nova classe média - e entre os universitários.

Não seria exagero declará-la a "Lula de saias", ainda que Marina, por sua trajetória própria e personalidade forte, não careça de bases referenciais. Seu chão é sua história e a crença em um modelo atual de desenvolvimento sustentável. Sobre ela, não se pode apregoar radicalismos, como sempre tentaram anexar a Lula, tachado muitas vezes de "comunista". 

Serena, altiva, elegante, com o desenho do povo brasileiro em seus traços fortes de gente aguerrida do Norte,  Marina sinaliza um cenário promissor na política brasileira. Pinta como o grande quadro político do Brasil do século XXI. Lembrem que Lula, em 1989, com todo seu capital político associado à luta dos trabalhadores, teve 16 milhões de votos, três milhões a menos que Marina agora. 

É hora de alçar novos voos. Estamos há 16 anos sob o governo do PSDB e do PT. O Brasil precisa de uma terceira via. Marina nos espera em 2014. Torço por isso. "Estamos em primeiro lugar no turno de uma nova política que se inaugura no Brasil”, afirmou ontem Marina Silva.