domingo, 16 de janeiro de 2011

Do plágio à dependência intelectual

A matéria da edição de A TARDE de hoje, sobre a venda indiscriminada de monografias, dissertações e teses pela Internet, revela a indisposição crescente para o culto do pensamento e a patente inaptidão intelectual da nossa sociedade. Vivemos à esteira da ideologia do menor esforço e da estratégia para resultados mais fáceis e rápidos.

Sob a cultura da inteligência coletiva - esse termo conceitual caro à sociedade da informação digital desenvolvido pelo sociólogo Pierre Lévy - o abuso das citações bibliográficas culminou na apropriação indébita, sem pesares, de raciocínios, de ideias, na cópia desavergonhada e vergonhosa de trechos, páragrafos, capítulos, livros inteiros.

Mas tal prática não deveria causar tamanha surpresa e espanto. A indústria das universidades e dos centros de pesquisa, capitaneada pelo fetichismo do diploma (termo que ouvi pela primeira vez do querido professor doutor Monclar Valverde), já legitimou, com aplausos e honrarias, a quantidade de fontes e citações como critério para medir a qualidade de monografias, dissertações e teses, como também pôs em marcha, aparentemente irreversível, a política da divulgação e publicação científicas - levando a cientistas Brasil afora a dizerem algo mesmo quando não têm nada de relevante a dizer, tudo no afã de conquistar as verbas das agências fomentadoras de pesquisas.

Ainda lembro de um dos professores da recente banca para ingresso no Mestrado de Ciências Sociais, na qual fui reprovado. Ele considerou meu projeto "impressionista", ou seja, pautado por impressões pessoais desprovidas de embasamento teórico. Talvez tenha razão. A qualidade teórica do meu projeto não vem ao caso agora - sei que estudei pelo menos oito autores do tema tratado, mas nunca tive a intenção de usá-los como muletas.

No entanto, após algumas reflexões, minha opinião, sim, isso mesmo, minha opinião, é de que os pensadores deste País tenham perdido a coragem de dizer realmente o que pensam, de criar um pensamento autônomo. Preferem, na maioria da vezes, esconder-se nas elocubrações alheias, eivadas de um tecnicismo conceitual burocrático e alienante, sem paralelo com a realidade, sem qualquer traço de um diletantismo à arte do pensamento.

Daqui a alguns anos, o quadro será ainda mais trágico. Não se tratará apenas da falta de coragem, ou vontade de independência intelectual, mas de conhecimento. Eu penso todos os dias no impressionismo do meu projeto e não tenho medo de enfrentá-lo.