sexta-feira, 3 de julho de 2009

Cláudia Leitte e o cerco da independência

No dia de comemorações aos 186 anos da Independência da Bahia, 2 de Julho, a cantora Cláudia Leitte fez uma homenagem às avessas. No Farol da Barra, por volta das 19h30 de ontem, estava montada uma megaestrutura, tudo a contento a uma grande festa comemorativa, que no entanto tornava-se inadequada por um simples e grande detalhe: o gramado do Farol estava fechado, virou um camarote destinado apenas a convidados, muitos deles integrantes do fã-clube da cantora.

É no mínimo curioso que em uma homenagem de independência, que devia estar atenta aos ideais de liberdade e justiça almejados naquela data história de 2 de Julho de 1823, sejam determinadas fronteiras, segregando o que deveria ser um público só. Claudinha Leitte ao privilegiar seus convidados acabou por tornar mais evidentes as diferenças de classe, estas ainda remanescentes em um Estado cujo processo real de independência ainda está em curso.

Foi triste ver se repetirem os modelos de festa tradicionais da capital baiana que insistem, com seus camorotes e espaços vips, em colocar a grande massa no segundo plano. Engraçado, é justamente o grande público que sustenta as vendagens de discos destes artistas ditos populares.

Em artigo recente na sua coluna na Folha de S. Paulo, o jornalista Gilberto Dimenstein chamou a atenção para o uso, embora legal, de verbas públicas por grandes nomes da música popular brasileira. Ivete Sangalo e Caetano Veloso, lembrou Gilberto, são uns que sempre se valem da Lei Rouanet para promover seus luxuosos espetáculos. Enquanto isso, artistas pequenos vão atrás de empresas privadas para patrocinar suas investidas.

Tudo isso é prova de que há uma inversão de valores em nome da sustentação de um mercado fonográfico. Nada contra. Nem mesmo contra os camorotes. O que não se pode perder de vista é que os espaços privados não podem se sobrepor aos públicos, do mesmo modo que os interesses particulares não podem aniquilar os coletivos, quiçá a liberdade do povo para ter garantido um lugar mais confortável no dia de comemorar sua luta de autoafirmação.

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