quinta-feira, 23 de abril de 2009

Apolítica: da seca à chuva!

Os opostos chuva e seca são joio do mesmo trigo. Exercem sobre a humanidade consequências implacáveis, mitigadoras das mínimas condições de vivência de famílias, pobres, frise-se, pelo Brasil afora. São antípodas paradoxalmente de convergência natural, pela gênese fenomenológica que as provoca e pelo (sub) desenvolvimento sociopolítico que as retroalimenta em proporções agigantadas.

Quantas discussões sobre a transposição do Rio São Francisco, com posições a favor e contra, já foram realizadas, e não são de hoje, mas desde lá do Brasil Império, as notícias de projetos sobre o "Velho Chico" para acabar de uma vez por todas com o problema da seca nordestina, carrasca de milhares de vidas tupiniquins. Seguimos no século XXI com (ou será sem?) esta nuvem pesada sobre nossas cabeças.

Também não é de agora, que cidades metropolitanas sofrem em períodos chuvosos. Para se ater ao exemplo mais próximo, Salvador não dura debaixo de meros 10 minutos de chuva forte. Esgotos transbordam, casas desabam ribanceira abaixo, as ruas ficam alagadas, e o trânsito torna-se intrafegável.

Curioso é que, embora não se possa impedir a inevitabilidade natural dos dois fenômenos climáticos, suas consequências são bem mais fruto de uma apolítica irresponsável e acomodada do que resultado de um estado de mudança da natureza.

Ressalte-se que a prefeitura de Salvador não conseguiu cumprir ano passado o cronograma de obras das enconstas das áreas de risco de desabamento. Tampouco o governo municipal, e digo historicamente, foi capaz de engendrar um desenvolvimento social capaz de acolher um exôdo migratório interior-capital, com milhares de "novos soteropolitanos" chegando à capital e se amontoando sobre as encostas para consegui um lugar ao sol. Nem mesmo o Estado (Federal e estadual) foi capaz de evitar este êxodo, com políticas desenvolvimentistas descentralizadas, possíveis de reter a massa em suas cidades-natal com emprego e renda.

Outrossim, falhamos, a todo sempre, até agora, como sociedade, a ponto de exigir que a seca deixasse de ser usada em retóricas vazias eleitoreiras, contaminadas sempre de promessas de erradicação da "tragédia nordestina".

Portanto foi a apolítica miúda e ao mesmo tempo macro que elegimos como compasso de "evolução social", para agora ver, diante de nossos narizes, estes pilares fragéis ruírem secos e molhados, a mercê das intempéries do clima.

domingo, 12 de abril de 2009

Contra o institucionalismo do diploma

As discussões sobre a obrigatoriedade do diploma retornaram a todo vapor. Quem se diz a favor dela argumenta que se para outras profissões, como médico e advogado, é necessário o diploma porque ser diferente para se exercer o jornalismo. Quem se diz contra, vale-se da democracia e da liberdade de expressão para reforçar a natureza abrangente da profissão.

Bem, como jornalista e cidadão, preciso deixar claro que não sou contra o diploma, sou contra a sua obrigatoriedade, sobretudo se usada como reserva de mercado. Qualquer pessoa sensata nunca vai defender que a existência de uma instituição de disseminação de conhecimentos e técnicas para qualificação de determinada profissão não serve de nada, é inócua. Como também qualquer pessoa coerente, mesmo aquela que defende o diploma obrigatório, admite que a formação universitária não garante um bom profissional, um jornalista competente. Caso contrário, não teríamos jornalistas excepcionais sem diploma no mercado e péssimos profissionais com o canudo embaixo do braço.

Seria leviano afirmar que o médico, o jornalista, o advogado, o biólogo, o administrador, e por aí vai, prescindem de conhecimentos. Acho que ninguém discorda disso. O entrave de toda a discussão é então o lugar onde se adquire conhecimento. Partem daí as peculiaridades de cada profissão. As especificidades do médico tornam bem mais complicadas - não digo impossível - a qualquer um ser um profissional da saúde autodidata, ou a um químico, um físico, e por aí vai. Não esqueci do advogado, é que as possibilidades são maiores ao estudante autônomo de Direito formar uma bagagem que o credencie para exercer a profissão.

Evidente que não estou argumentando em favor de uma erradicação das instituições de ensino e, grosso modo, de controle de qualidade, estou me empenhando contra o institucionalismo do diploma em detrimento de pessoas altamente capacitadas a se tornarem jornalistas, por terem bagagem cultural, experiência de vida, ética, por conhecerem a história do País e por aí vai. Sem sombras de dúvida, tal bagagem aliada a um conhecimento mais profundo das engrenagens do processo comunicacional enriquece quem se candidata à profissão, o que em seis meses de vivência cotidiana dentro de uma redação permite facilmente. Vale lembrar que o jornal impresso mais conceituado do País, a Folha de São Paulo, aceita em seus programas de trainee pessoas de qualquer área do conhecimento, desde que com nível superior.

Um prova de que, muito mais do que ligado a um conhecimento acadêmico, o jornalismo está relacionado a uma pragmática; não pode ser exercido aos moldes do conhecimento científico, tal a medicina, a química, a antropologia, etc, pois está no campo da intersubjetividade, onde interagem técnica (adquirida com a práxis) e sensibilidade (adquirida com a vida).

sábado, 4 de abril de 2009

Rubinho prega peça na história

Aprendi na escola com "n" professores que a história da humanidade é aquela dos vencedores. Claro! Primeiro, quem lança mão da pena histórica é quem chegou ao poder para usá-la. Segundo, ninguém se empolga com exemplos de fracassados. Pelo menos é o que se cogitava até Rubens Barrichello, nosso Rubinho, entrar para o pomposo circuito da Fórmula 1 como revelação e estar à beira da aposentadoria como, pasme, uma promessa.

Taí, Rubinho entrou para história como uma grande promessa de campeão, o possível sucessor de Senna. Chegou na equipe Jordan ainda novo, aos vinte e poucos anos. Correu uma, duas temporadas e nada de título. Que besteira, pensava o público brasileiro, ele ainda é novo, está pegando experiência, quando for para um carro veloz, o título virá. Chegou na Ferrari, e ainda me lembro de Galvão Bueno anunciando a contratação como quem grita um gol do Brasil em final de Copa.

Os anos se passaram e Schumacher fez de nosso Rubinho, aquela promessa, um eterno segundo lugar. Que besteira, ponderou o público brasileiro, ele não pode competir de igual para igual, não pode vencer, porque o contrato o impede. E ficou-se satisfeito com o vice-campeonato, com nossa revelação já esbranquiçando os ralos cabelos, depois de tantas frustações, motores quebrados, falta de combustível a poucos metros de cruzar a linha de chegada na primeira posição, entre outras surpresas, às quais atribuímos motivações sobrenaturais. "Ele é um bom piloto, mas é azarado, coitado!", cansaram de dizer aqueles espectadores mais otimistas.

Agora, aos 36 anos, ostentando o título de piloto mais experiente da história (com 259 grandes prêmios, 9 vitórias e dois vice-campeonatos), o paulista Rubinho viu apontar neste início de temporada talvez sua última chance de subir ao pódio mais alto da Fórmula 1. A sua atual equipe, a Brawn GP, tem até agora os melhores carros. Esperava-se que os longos anos de Barrichello nas pistas, somados a um carro rápido, sem Schumacher, o levassem naturalmente à posição de favorito, e foi assim que brotou uma nova esperança.

Nada que o famoso "azar" de Rubinho não destruísse em dois GPs. Na Austrália ficou atrás do companheiro Jenson Button. Por ironia, chegou em segundo, posição na qual largou, com um golpe de sorte. Na Malásia, viu Button ganhar mais uma e cruzou a linha de chegada em quinto, um bom lugar, se considerarmos que ele largou em nono, por ter sido punido em quatro posições, em função de ter trocado a caixa de marchas - pelas novas regras, isso só poder ser feito depois de duas corridas.

Advertidamente, foi Rubinho quem pregou uma peça na história e não o contrário. Quando a história, na sua contigência, fornece todos os subsídios para tornar a promessa enfim num grande campeão, Barrichelo se ocupa de lembrá-la que seu lugar já foi marcado históricamente: o de eterno segundo lugar, e é assim que ele a registrará, sem omissões. Pela primeira vez, um perdedor tomou a pena na mão, ou, tomara, eu queimarei minha língua, porque, por incrível que pareça, torço para nosso "pé de chinelo" chegar finalmente à grande glória de campeão.