domingo, 28 de março de 2010

Salvador em "guerra" II

A propaganda do governo baiano, vista por diversos outdoors na capital, atribuindo ao consumo de crack a causa de 80% dos homicídios na Bahia, tem recebido críticas severas de especialistas da área.  

No seminário da última sexta-feira, citado abaixo, o ex-secretário nacional de segurança pública José Vicente da Silva foi enfático. “Em São Paulo, existe uma região no centro da capital paulista, chamada Cracolândia, onde há o tráfico dessa droga e grande concentração de viciados, mas nem por isso há homicídios como vem acontecendo atualmente na Bahia”, afirmou com base nos dados comparativos das cidades de Salvador e São Paulo.

O psiquiatra Esdras Cabus Moreira, do Centro de Estudos e Terapias do Abuso de Drogas (Cetad), da Universidade Federal da Bahia, também critica a relação direta entre violência e consumo de crack. “Os homicídios não aumentam porque as pessoas estão usando crack. A violência está ligada ao contexto do tráfico de drogas em um sentido amplo, de um forte comércio envolvendo muito dinheiro. Ela não tem no crack uma causa interna“, afirmou a esse blogueiro no último dia 17.

Salvador em "guerra" I

Salvador é hoje mais violenta que São Paulo.  Em 2009, 2,2 mil pessoas foram assassinadas na capital e região metropolitana, número superior à quantidade de homicídios registrados em São Paulo no mesmo período – 1,2 mil. Nos últimos três anos, a capital paulista conseguiu reduzir sua taxa de homicídios em 39%. Por aqui, o crescimento foi de quase 90%. Os dados foram divulgados durante o seminário “Segurança pública, um desafio político na América Latina”, promovido em Salvador na última sexta-feira (26) pela Fundação Liberdade e Cidadania do (partido) Democratas e Fundação Konrad Adenaur.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Pense num absurdo, esse tem cheiro

Fotomontagem
Às 17h25 de ontem, recebo uma ligação de um amigo. Estava indignado. "Você já deve ter ouvido aquela frase: ´pense num absurdo, já aconteceu na Bahia`", disparou para início de conversa. Referia-se à frase do ex-governador da Bahia Otávio Mangabeira, que originalmente é "Pense num absurdo! Na Bahia tem precedente!".  Vamos à história.

O prezado amigo contava que comprou uma calça na loja Colombo, no Shopping Center Lapa, e após alguns dias de uso teve de colocá-la para consertar, devido a um defeito no zíper. Até aí tudo bem. Deixou o produto com um vendedor, que ficou de informar quando a roupa estivesse pronta. Passou uma semana, ele resolveu voltar à loja para cobrar o conserto. Veio a surpresa.

- "Senhor, infelizmente não pudemos fazer o reparo em sua calça porque o costureiro se recusou a fazer o serviço", afirmou um vendedor.

- "Como assim?", indagou incrédulo.

- "O costureiro disse que sua calça estava fedendo muito!".  

Transtornado, ele pediu para falar com o gerente. Não adiantou. O gerente ratificou a versão do costureiro. O jeito foi pegar a calça, levá-la até a casa da namorada e perguntar a ela e a irmã se a calça estava realmente fedida. As duas não sentiram qualquer odor.

Foi nesse momento em que ele me ligou. Queria botar a história no jornal. Eu, confesso, embora concordando com o absurdo do ocorrido, dei boas risadas com o caso e disse que se dependesse de mim a história iria parar nas bancas, mas o jornal dificilmente teria espaço para esse tipo de contratempo. 

E o aconselhei a procurar o Procon ou a entrar com uma ação no juizado de pequenas causas. Porque, risadas à parte, o caso tem lá sua seriedade. Pense no constrangimento que ele passou na loja ao ser informado de que sua calça estava fedendo. É como se dissessem que ele não tem higiene. 

Nunca comprei na Colombo, depois da história, dificilmente colocarei meus pés por lá, só pensando no risco de ser confundido com Cascão.

ERRAMOS: A LOJA COLOMBO FICA NO SHOPPING CENTER LAPA E NÃO NA BAIXA DOS SAPATEIROS, JÁ FOI CORRIGIDO NO TEXTO

terça-feira, 16 de março de 2010

O transtorno da segunda via telefônica


Operadora de telefonia móvel é mesmo um pé no saco. Há seis dias venceu minha conta do mês de março e até hoje a fatura não chegou na minha casa.

Acomodado, resolvi tardiamente entrar no site da minha operadora para imprimir a segunda via do boleto. Pois bem, até agora espero chegar na caixa de entrada do meu celular a senha necessária para ter acesso ao arquivo da fatura.

O usuário, que deveria receber a conta em casa, tem o trabalho de acessar a página da operadora, criar uma senha e ainda esperar a dita cuja ser disponibilizada para imprimir a fatura, gastanto tempo, tinta e papel. Ah, e dinheiro, é claro.

Oi, Zé, é simples assim! Embora o título da história soe um filme trash.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Sob a tônica da violência

O cartunista Glauco é assassinado no Rio Grande do Sul. Estudante de enfermagem morre ao cair de ônibus em Salvador. Adolescente baiano é barrado na Espanha. Mulher é morta a pauladas em Arempebe, no litoral norte. 

Depois de passar três dias num retiro natural como Morro de São Paulo, é duro e assustador voltar à esquizofrenia do nosso mundo, onde a violência, já banalizada, porque intrínseca ao funcionamento da sociedade moderna, dita sobre o que devemos colocar nossos olhos e depositar nossa atenção, mesmo que para retroalimentar um sistema vicioso, viciado e cíclico.

Enquanto isso, iludimo-nos ou nos deixamos iludir que as complexidades do desenvolvimento das instituições, políticas, sociais e sobretudo tecnológicas, é capaz e suficiente para organizar as coisas em tal medida e a tal ponto que possamos, um dia, nos livrar das mazelas que esse processo nos põe à frente. O exemplo mais gritante é a crença que o gigantismo do aparato repressivo consiga reverter os intintos e impulsos hostis rebelados.

Vejo o governo baiano anunciar orgulhoso a convocação e treinamento de 3,2 mil policiais militares e a aquisição de mais mil novas viaturas. Precisamos, na verdade, de menos pessoas que careçam de fiscalização das autoridades e não de mais fiscalizadores. Mas, diante da tragédia que nos cerca diariamente, o que fazer se não declarar guerra?

Eu gostaria mesmo é correr de volta a Morro, ou a outra reserva de mundo qualquer, onde o desenrolar da vida seja mais simples e mais saboroso, e, onde a liberdade reina com tons de paz.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Mais carros do que a Alemanha

O jornal da Globo de ontem me deixou assustado. Noticiou que o mercado automobilístico brasileiro superou o alemão, assumindo agora a quarta colocação no ranking do setor. E, pasme, há muito, mas muito mesmo, espaço para crescimento. O Brasil tem hoje um carro para cada sete habitantes, enquanto na Alemanha há dois automóveis para cada cidadão.

Imagine. Se hoje a maioria das capitais brasileiras, inclusive Salvador, já é um grande conglomerado de carros, que realidade teremos daqui a dez anos, quando possivelmente estivermos de um para um? Uma sociedade de automóveis e não mais de pessoas. E pensar que, há muito tempo, já se criticava que o homem passara a ser avaliado pela marca do seu carro. No futuro, seremos literalmente o próprio.

Arruda preso: prenúncio de uma mudança

A decisão dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), por nove votos a um, de negar o pedido de liberdade do governador do DF, José Roberto Arruda, que segue preso, anuncia um processo já em curso de mudança das instituições brasileiras.

Como disse o ministro Carlos Ayres Britto, "dói em cada um de nós, na alma e no coração, ver um governador sair do palácio para a cadeia", mas essa dor, necessária e salutar, mostra um salto de qualidade dos mecanismos nacionais de controle social e serve como mola propulsora para mudanças fundamentais nos modos de ver da sociedade brasileira frente às relações de poder político.

A percepção de que a impunidade é inerente à ascensão sociopolítica pode começar a ser destruída a partir desses casos, dando lugar a uma assimilação mais acurada dos papéis e funções públicas dentro de uma sociedade democrática.   

Cotas: "Não é questão pessoal, é de toda a sociedade"


Terminam hoje as audiências públicas no Supremo Tribunal Federal sobre a constitucionalidade do sistema de cotas. As discussões foram abertas depois de chegar à Suprema Corte duas ações direta de insconstitucionalidade (Adin) contra a reserva de vagas.

Conforme informações do jornal Estado de S. Paulo, em uma delas o DEM questiona os critérios raciais utilizados desde 2004 pela Universidade de Brasília (UnB) para a admissão de estudantes pelo sistema de cotas. A outra foi apresentada por um estudante que se sentiu prejudicado pelo mesmo sistema adotado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

É um Dia D para milhares de brasileiros por esse País afora. Só na Bahia, são mais de 20 mil cotistas, somados os alunos da Universidade Federal da Bahia (UFBa) e da Universidade do Estado da Bahia (Uneb). Isso porque se o STF julgar as Adins procedentes estará estendendo a decisão para todos os demais casos, resultando na extinção do sistema de cotas no Brasil.

A iminência de uma decisão tão vital me fez pensar na pedagoga que conheci ainda essa semana. Ela foi aluna da primeira turma de cotistas da UFBa, formou-se ano passado e hoje trabalha na coordenação pedagógica do Centro de Estudo Afro-Orientais da universidade, além de ensinar, em uma ONG, a meninas negras do ensino fundamental.

Diante de agurmentos pró e contra - por um lado de que o sistema de cotas é racista, e que de outro é emergencial enquanto não se qualifica nosso ensino médio e fundamental - as palavras dela foram iluminadoras. "Acho que as pessoas têm que se colocar no histórico de exclusão do Brasil. Elas devem execer seu papel de cidadão, de contribuir para diminuir a desigualdade. Não é uma questão pessoal, mas de toda a sociedade", disse.

Defendia, é claro, sua própria causa. Mas tomando-a como base, cabe a nós refletir sobre a nossa responsabilidade frente ao nosso legado histórico nas dimensões social, econômical e cultural. Vejo com frequência alunos que não conseguiram ingressar em uma universidade pública devido à reserva de vagas argumentarem que não podem pagar pela dívida histórica brasileira.

Olhando bem, é um pensamento extremamente elitista. De que a ordem socioeconômica em marcha nos últimos séculos, do mercantilismo incipiente à sua forma brutal neoliberalista, os colocou em posição de vantagem no processo de acumulação de riquezas, em consequência de aquisição dos materiais simbólicos. E isso, pensam os ingênuos jovens ricos e, na maioria, brancos, não pode ser  lhes retirado pelo mesmo Estado que os alçou a tal privilegiada posição.

Não vi e não vejo levantes das classes privilegiadas para exigir do Estado a melhora substancial da rede de ensino público brasileiro. Os alaridos só se fazem ouvir quando as políticas públicas atingem em cheio as benesses das elites. Concordo que devemos querer sim o fim do sistema de cotas, mas essa batalha não dever ser anterior à luta pelo resgate das escolas públicas. Que tal começarmos por matricular nossos filhos (futuros e existentes) na rede pública e fazer valer o peso de nosso poder aquisitivo em prol desse propósito?  


terça-feira, 2 de março de 2010

O kit do Brasileiro

Um amigo me passou por email uma daquelas mensagens de corrente. Não costumo lê-las, mas essa é desconcertante, toca na ferida, porque de forma sucinta e direta traz a verdade nua e crua. Ela segue abaixo, com algunas adaptações, pois não consegui transferir as imagens.

KIT DO BRASILEIRO



*Vai transar?*

O governo dá camisinha.

*Já transou?*

O governo dá a pílula do dia seguinte.

*Teve filho?*

O governo dá o Bolsa Família.

*Tá desempregado?*

O governo dá Bolsa Desemprego.

*Vai prestar vestibular?*

O governo dá o Bolsa Cota.

*Não tem terra?*

O governo dá o Bolsa Invasão e ainda te aposenta.

*Mas experimenta estudar e andar na linha pra ver o que é que te acontece!* 

Pagamento de IPVA, Imposto de Renda, ISS, IPTU, CPMF.

"Trabalhe duro, pois milhões de pessoas que vivem do Fome-Zero e do Bolsa-Família, sem trabalhar, dependem de você"