quinta-feira, 29 de abril de 2010

Coréia do Norte proíbe mulheres no volante

No Brasil, o nosso machismo, enraizado na nossa entranha cultural embora moderado pelas arestas do politicamente correto e do civilismo do bom senso, sempre cunhou às mulheres, mesmo que como pilhérias, a pecha de "barbeiras".

E fomos crescendo com tiradas nem sempre engraçadas como "mulher pilota fogão", "mulher no trânsito perigo constante" e por aí vai. Mas o que tem se passado na Coréia do Norte está longe de ser resquício machista travestido de senso de humor escrachado. Nada mais é que um atentado à condição humana, sujeita de direitos, considerados universais, das mulheres daquele país.

Lá o engraçado é trágico. Sob a alegação de que já causaram muitos acidentes no trânsito na capital Pyongyang, as autoridades simplesmente proíbiram as mulheres da cidade de dirigir carros e, pasme, bicicletas. E, lembre-se, elas já eram proibidas de fumar em público também. Veja mais aqui

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Coelba: Má comunicação alimenta crise

O recente caso da Coelba é o antípoda do papel de uma boa assessoria de comunicação frente a denúncias potencialmente desencadeadoras de crises. Há quase duas semanas, circulam na mídia baiana registros de seguidas e contundentes reclamações sobre o repentino aumento, em alguns casos de 700%, das contas de luz em Salvador.

Resposta da empresa pertencente à holding NeoEnergia, através do superintendente da Coelba, Ricardo Galindo: o aumento da temperatura fez com que os usuários consumissem mais energia. A explicação, estapafúrdia, foi dada a todos os órgãos de comunicação locais, inclusive em entrevista exclusiva gravada para a TV Bahia.  

A pressão foi tanta - o Ministério Público exigiu explicações razoáveis - que anteontem Ricardo Galindo recuou e admitiu ao jornal A Tarde a possibilidade de haver erros técnicos na contagem de luz e que cada reclamação seria estudada pontualmente para identificá-los.

Primeiro equívoco: é sabido que toda assessoria de comunicação deve orientar aos porta-vozes da empresa a qual assessora sempre a dizer a verdade, mostrando as causas técnicas dos problemas e enumerando e explicando as atitudes da empresa para saná-las. Mesmo se a assessoria de comunicação da Coelba chegou a fazer tal orientação ela não conseguiu ser ouvida, ou seja, não foi convincente o bastante para mostrar aos executivos as consequências de esconder os reais motivos do aumento das contas de luz. Se é este o caso, a assessoria não conseguiu fazer da comunicação parte integrante e vital na configuração estratégica da empresa.

Segundo equívoco: dentro de uma crise, mudanças de posição da empresa não podem ser drásticas. Se isso é inevitável, como é o caso, não podem ser escamoteadas. O superintendente admitiu haver a possibilidade de erros técnicos na cobrança, sem jogar  fora a hipótese estapafúrdia antes apresentada como verdade absoluta. Caberia à assessoria fazer valer um pedido de desculpas formal da empresa à sociedade, nem que fosse atribuindo à rídicula explicação uma falta de informação inicial.

Terceiro e maior equívoco: para piorar a crise, a empresa soltou ontem uma nota oficial à imprensa, insistindo na tese da elevação de temperatura atípica nesses últimos meses como causa do aumento repentino das contas de luz.

Conclusão: esse caso é exemplar de como uma assessoria de comunicação não apenas deixa de evitar uma crise como a alimenta e a agrava.

sábado, 10 de abril de 2010

Reféns da chuva

Fonte: Ingrid Dragone (maio de 2009)

Nenhuma cidade suporta - sem estragos, problemas e transtornos para a população - uma chuva forte e concentrada que atingiu o Rio de Janeiro nessa semana. Em um dia caiu 260 mm de chuva, quando estava previsto pelos centros de metereologia cerca de 70 mm. A grande questão, na verdade, é evitar mortes. E isso significa relocar a população moradora das áreas de risco e evitar novas ocupações indevidas, além de uma política de esgotamento e escoamento de água que amenize os alagamentos. 

Aqui, na nossa soterópolis, a prefeitura programou ano passado, logo após o período de chuvas fortes, em maio, quando houve sete mortes, uma série de obras de contenção de encostas. Foram previstas 52 intervenções, 32 foram concluídas. Outras 18 que estavam em andamento nos primeiros meses deste ano, foram interrompidas porque a empresa contratada para executar as obras alegou falta de recursos para dá prosseguimento ao empreendimento. 

Engraçado que a capital baiana recebeu o maior volume de recursos do programa de Apoio a Obras Preventivas de Desastres, do Ministério da Integração Nacional. Em 2009, recebeu R$ 40 milhões dos R$ 190,5 milhões destinados a prefeituras baianas. Lembremos que no mesmo ano, 51,3% da verba destinada à prevenção de desastres pelo ministério no País ficou com a Bahia, segundo constatou auditoria do Tribunal de Contas da União.  

A pergunta que pesa aos soteropolitanos é: como faltaram recursos para a empresa Nova Fucs então? O silêncio por enquanto na imprensa e das autoridades faz lembrar como os resultados podem ser positivos caso se invista o dinheiro em tecnologia preventiva. Caso dos Estados Unidos, onde é em Nova York, uma sala, espécie de "cérebro" da cidade, recebe informações via satélite com antecedência de até cinco dias sobre as mudanças climáticas.

No Brasil, os metereologistas chegam a ficar com "buracos" de informações climáticas de até três horas. Isso porque não contamos com satélite próprio. Usamos o dos americanos, que deixa de fazer a varredura no nosso território quando sobrecarregado. Além disso, o País tem carência de antenas receptoras dos sinais do satélite. Hoje são 20, quando deveriam ser uma centena, segundo o Centro de Previsão de Tempo e Estudo Climáticos (Cptec).


segunda-feira, 5 de abril de 2010

O que eram aqueles olhos?

Bairro de Castelo Branco, Salvador. Duas semanas atrás. Era uma tarde normal, embora uma mãe e seu filho houvessem sido assinados quando voltavam para casa na noite anterior. Maria de Lourdes, 40 anos, e L.V., 14, foram gravemente feridos por muitos tiros e tombaram na rua. Por quê? Por quem? Para quê? Quem eram aquelas vítimas?

A sociedade ainda não sabe. Como não sabe como era a vida de muitas outras vítimas da violência em Salvador. Isso pouco importa. A maioria das pessoas assassinadas na cidade não é importante, e a maioria dos crimes não é solucionada. Torna-se apenas estatísticas, como tudo. Na verdade, não é nossa culpa. Mas é nossa responsabilidade. Como jornalista, tenho coberto muitos assassinatos e sequer sei quantas matérias escrevi sobre isso. Significa que eu, (e, penso, meus colegas também), não estou ligando muito. Imagine as pessoas que jamais estiveram nas cenas dos crimes.

Então por que a história de Castelo Branco chamou tanto minha atenção? Somente porque ainda estou tentando esquecer aqueles pobres e silenciosos olhos. Daquela tarde, ainda lembro aquele garoto negro e magricela olhando fixamente para mim como estivesse sempre amendrontado por alguém ou alguma coisa. Provavelmente, ele sabia o que havia acontecido na noite anterior, mas não teve a coragem de pensar sobre isso, apenas sentia o clima pesado sob o qual se acostumou a viver. Daí, ao mesmo tempo que não dizia nada com a boca, contava tudo através dos olhos. Era uma espécie de medo e força misturados que faziam dele um misterioso, intrigante e amendrontador adolescente, ou homem, quem sabe. 

Como me colocar no lugar dele? Ainda não tenho a habilidade de compreendê-lo, embora eu tenha tentado. Honestamente. É muito difícil olhar em volta e perceber sua vida perder o sentido dia após dia. Acho que é assim o significado da vida dele. E desta maneira, ninguém pode enxergar o mundo com olhos iluminados, mas apenas com olhos tristes.