quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Aos bancos, estes cínicos

No lançamento da delegacia móvel e do novo sistema de telecomunicação digital da polícia baiana anteontem, o governador da Bahia Jaques Wagner fez um discurso forte e inflamado: "há uma certa hipocrisia hoje no mundo. Nós ficamos aqui tentando resolver na distribuição (de armas) quando todo mundo sabe que o problema está na produção". A frase destaca-se de um discurso que criticou veementemente o modelo capitalista, o qual o ex-sindicalista tachou de "cassino financeiro".

Aplaudo a ênfase verbal do governador, embora possa parecer ingenuamente ideológica. O cinismo do capitalismo permite por exemplo à Federação Nacional dos Bancos (Febraban) tentar justificar, sob o argumento de uma inadimplência alta, o absurdo spread (diferença entre o que paga os bancos para captar dinheiro e aquilo que cobram para emprestá-lo) que adota o sistema bancário brasileiro, isso porque opera com juros reais de 43,2%, média anual. Ou seja, em nenhum outro País do mundo é tão lucrativo ser um "agiota institucionalizado".

Não à toa o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, culpabilizou os bancos pelos juros altos brasileiros. Com toda razão. Nada adianta baixar a Selic, se os agiotas não deixam de cobrar caro para emprestar dinheiro ao consumidor. Muito cinismo dizer que a alta da inadimplência obriga juros altos, e o contrário, cara pálida, não parece mais razoável?

Bem, governador, no Brasil há uma certa hipocrisia. Quando os discursos exaltados socialistas apontam os bancos como o "mal maior do sistema capitalista" logo de prontidão existe uma legião de liberalistas econômicos, esses mesmos que ainda se arvoram nas premissas de Paul Krugmam ou Adam Smith, para subjulgar de radicalismo ingênuo e obsoleto as fabulações ditas de extrema esquerda.

Jamais negarei que cheguei a me inclinar a tal pensamento, mas cai em mim ao perceber que o mundo está de "ponta a cabeça", com as esquerdas de todas as origens - racial, proletária, sexual, ideológica - chegando ao topo da pirâmide política. Tem uma nova ordem mundial se apresentando, sinal de que é hora de caírem as máscaras.

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