As discussões sobre a obrigatoriedade do diploma retornaram a todo vapor. Quem se diz a favor dela argumenta que se para outras profissões, como médico e advogado, é necessário o diploma porque ser diferente para se exercer o jornalismo. Quem se diz contra, vale-se da democracia e da liberdade de expressão para reforçar a natureza abrangente da profissão.
Bem, como jornalista e cidadão, preciso deixar claro que não sou contra o diploma, sou contra a sua obrigatoriedade, sobretudo se usada como reserva de mercado. Qualquer pessoa sensata nunca vai defender que a existência de uma instituição de disseminação de conhecimentos e técnicas para qualificação de determinada profissão não serve de nada, é inócua. Como também qualquer pessoa coerente, mesmo aquela que defende o diploma obrigatório, admite que a formação universitária não garante um bom profissional, um jornalista competente. Caso contrário, não teríamos jornalistas excepcionais sem diploma no mercado e péssimos profissionais com o canudo embaixo do braço.
Seria leviano afirmar que o médico, o jornalista, o advogado, o biólogo, o administrador, e por aí vai, prescindem de conhecimentos. Acho que ninguém discorda disso. O entrave de toda a discussão é então o lugar onde se adquire conhecimento. Partem daí as peculiaridades de cada profissão. As especificidades do médico tornam bem mais complicadas - não digo impossível - a qualquer um ser um profissional da saúde autodidata, ou a um químico, um físico, e por aí vai. Não esqueci do advogado, é que as possibilidades são maiores ao estudante autônomo de Direito formar uma bagagem que o credencie para exercer a profissão.
Evidente que não estou argumentando em favor de uma erradicação das instituições de ensino e, grosso modo, de controle de qualidade, estou me empenhando contra o institucionalismo do diploma em detrimento de pessoas altamente capacitadas a se tornarem jornalistas, por terem bagagem cultural, experiência de vida, ética, por conhecerem a história do País e por aí vai. Sem sombras de dúvida, tal bagagem aliada a um conhecimento mais profundo das engrenagens do processo comunicacional enriquece quem se candidata à profissão, o que em seis meses de vivência cotidiana dentro de uma redação permite facilmente. Vale lembrar que o jornal impresso mais conceituado do País, a Folha de São Paulo, aceita em seus programas de trainee pessoas de qualquer área do conhecimento, desde que com nível superior.
Um prova de que, muito mais do que ligado a um conhecimento acadêmico, o jornalismo está relacionado a uma pragmática; não pode ser exercido aos moldes do conhecimento científico, tal a medicina, a química, a antropologia, etc, pois está no campo da intersubjetividade, onde interagem técnica (adquirida com a práxis) e sensibilidade (adquirida com a vida).
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