Aprendi na escola com "n" professores que a história da humanidade é aquela dos vencedores. Claro! Primeiro, quem lança mão da pena histórica é quem chegou ao poder para usá-la. Segundo, ninguém se empolga com exemplos de fracassados. Pelo menos é o que se cogitava até Rubens Barrichello, nosso Rubinho, entrar para o pomposo circuito da Fórmula 1 como revelação e estar à beira da aposentadoria como, pasme, uma promessa.
Taí, Rubinho entrou para história como uma grande promessa de campeão, o possível sucessor de Senna. Chegou na equipe Jordan ainda novo, aos vinte e poucos anos. Correu uma, duas temporadas e nada de título. Que besteira, pensava o público brasileiro, ele ainda é novo, está pegando experiência, quando for para um carro veloz, o título virá. Chegou na Ferrari, e ainda me lembro de Galvão Bueno anunciando a contratação como quem grita um gol do Brasil em final de Copa.
Os anos se passaram e Schumacher fez de nosso Rubinho, aquela promessa, um eterno segundo lugar. Que besteira, ponderou o público brasileiro, ele não pode competir de igual para igual, não pode vencer, porque o contrato o impede. E ficou-se satisfeito com o vice-campeonato, com nossa revelação já esbranquiçando os ralos cabelos, depois de tantas frustações, motores quebrados, falta de combustível a poucos metros de cruzar a linha de chegada na primeira posição, entre outras surpresas, às quais atribuímos motivações sobrenaturais. "Ele é um bom piloto, mas é azarado, coitado!", cansaram de dizer aqueles espectadores mais otimistas.
Agora, aos 36 anos, ostentando o título de piloto mais experiente da história (com 259 grandes prêmios, 9 vitórias e dois vice-campeonatos), o paulista Rubinho viu apontar neste início de temporada talvez sua última chance de subir ao pódio mais alto da Fórmula 1. A sua atual equipe, a Brawn GP, tem até agora os melhores carros. Esperava-se que os longos anos de Barrichello nas pistas, somados a um carro rápido, sem Schumacher, o levassem naturalmente à posição de favorito, e foi assim que brotou uma nova esperança.
Nada que o famoso "azar" de Rubinho não destruísse em dois GPs. Na Austrália ficou atrás do companheiro Jenson Button. Por ironia, chegou em segundo, posição na qual largou, com um golpe de sorte. Na Malásia, viu Button ganhar mais uma e cruzou a linha de chegada em quinto, um bom lugar, se considerarmos que ele largou em nono, por ter sido punido em quatro posições, em função de ter trocado a caixa de marchas - pelas novas regras, isso só poder ser feito depois de duas corridas.
Advertidamente, foi Rubinho quem pregou uma peça na história e não o contrário. Quando a história, na sua contigência, fornece todos os subsídios para tornar a promessa enfim num grande campeão, Barrichelo se ocupa de lembrá-la que seu lugar já foi marcado históricamente: o de eterno segundo lugar, e é assim que ele a registrará, sem omissões. Pela primeira vez, um perdedor tomou a pena na mão, ou, tomara, eu queimarei minha língua, porque, por incrível que pareça, torço para nosso "pé de chinelo" chegar finalmente à grande glória de campeão.
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