Se Sauípe Folia é sem dúvida um "feudo burguês" não esperem que seus escravos assinem a carta de alforria. Pelo contrário, eles vão pagar para acorrentar-se o tempo que possível nos pilares paradisíacos, ou melhor, afrodisíacos, daquele complexo hoteleiro que a cada ano, durante três dias, sustentam uma burguesia em polvorosa e em êxtase, alguns deles literalmente. E neste caso, desculpe-me Cazuza, a burguesia cheira muito bem. À mulher, digo, sem vícios...
A composição, acreditem os incautos, é bem assim: um conjunto de hotéis luxuosos à beira de uma natureza exuberante, música, bebida, e lindos corpos femininos com duas peças de roupa miúdas a desfilar diante de olhos masculinos atentos e às vezes incrédulos (sei, leitoras, que nas suas cabecinhas, a coisa é inversa, e trata-se de uma peça só, mas cada macaco no seu galho). Embebeda-se rindo à toa durante o dia na piscina, vê-se o anoitecer já dançando, e madruga-se ensadecido após trio elétrico e banda no palco. Neste percurso, conhece-se uma pessoa ou outra, mas, acredite, isso é um mero detalhe. A trajetória é exaustiva, mas seu quarto de frente para o mar está ali à sua espera, que besteira.
Por isso, desde de que voltei extasiado de lá, faço questão de gritar aos ouvidos dos socialistas, estes de discursos radicais, que se a burguesia é Sauípe Folia, quão encantador é ser burguês. E, creiam, que já acreditei em Cazuza, mas agora passei a sentir a fragância burguesa, sem pesares. Embora saiba que fora do "feudo" tudo ainda cheira a carnificina. Ora bolas, o que tem de mau em desfrutar das benfeitorias do dinheiro e da estrutura imponente do capitalismo?
Digo, sem modéstia, que me senti em Sauípe como Pero Vaz de Caminha, a descobrir uma nova terra, de lindas mulheres de "vergonhas" cheirosas e bem tratadas caminhando "ingênuas" sem qualquer pudor. E citando as palavras de Caminha, em letras estilizadas na recepção de um dos hotéis do complexo: " à vossa alteza a nova do achamento desta vossa terra nova que se ora nesta nau gaçom achou... a qual bem certo crea que por aformosear nem afear haja aqui de pôr mais aquilo que vi e me pareçeo".
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