quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

O trabalhador paga a conta

Ao abrir os jornais locais nesta manhã, deparo-me com a perspectiva dos empresários baianos e paulistas - Fieb e Fiesp - de reduzir a jornada de trabalho e realizar cortes nos salários dos trabalhadores, como uma das medidas de um pacote de solução para enfrentar a crise econômica e evitar um "mal maior".

Não sou dos melhores entendedores de política econômica, pelo contrário, mas fico aqui com meus botões: este corte vai ser baseado em que critérios, porque a redução do poder aquisitivo dos trabalhadores não pode colaborar para um mais rápido desaquecimento do mercado consumidor interno, este que segurou as pontas do Brasil, quando todos os outros países viam suas divisas irem pelo ralo?

Vejo o presidente Lula a todo momento instigando os brasileiros a comprarem e provocando os empresários a não serem covardes e apostarem, com criatividade. E nada menos que o economista Delfim Neto disse que Lula é "o maior economista do País". Na contramão deste otimismo - benéfico porque qualquer um sabe que o famigerado mercado financeiro, dito autorregulável (escrita à luz do novo acordo ortográfico) tem como um dos seus pilares o quesito subjetivo da confiança - os empresários já bateram pé firme e não vão considerar a contrapartida de manutenção dos postos de trabalho em troca das ações do Governo que beneficiaram as empresas neste momento de crise, como a desoneração de impostos e o aumento das linhas de crédito oferecidas pelo Banco do Brasil, Caixa e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.

Isso soa curioso. Lembremos que a redução da jornada de trabalho versus cortes de salários e benefícios é um das oposições cruciais da tão arrastada reforma trabalhista. Muito longe de ser um fator sazonal, este impasse é inerente ao modelo desenvolvimentista, este que por comodidade ou conveniência intelectual não se coloca em questionamento. A economia tem sempre a obrigação de gerar mais empregos, que se traduz em força de produção, pouco importa a que preço para o proletário - seja ele cognitivo ou ainda braçal.

Fico aqui visualizando milhares de trabalhadores cumprindo um expediente de seis, cinco, ou quatro horas , e ganhando, sei lá, 30% ou 40% menos. Estes asseclas do capitalismo vão ter que procurar um segundo emprego para manter sua vida, enquanto outros milhares vão se degladiar para conseguir ocupar as vagas deixadas pelos outros. Ou seja, um grande carrossel de desesperados girando à procura de um impulso econômico mentiroso. Enquanto isso um discurso chifrim tenta convencê-los que a redução do custo trabalhista às empresas é indispensável para o desenvolvimento do País. E a desoneração dos impostos, caras pálidas, não adianta de nada?

Frente a tal postura e ao cenário econômico atual minha conclusão é triste e para muitos superficial, porque pode parecer chavão dos guetos socialistas. A "aldeia global" capitalista move-se pela lógica da opressão às classes produtivas de base, embora esconda-se sob um discurso de desenvolvimento sustentável e de Estado de Bem Estar Social. A crise do mercado financeiro deixa isso bem claro e trouxe um lição: quando o Titanic capitalista começa a afundar, os botes salva-vidas são destinados aos donos dos dólares e as portas são fechadas para a plebe proletária. E quando as ondas do naufrágio chegarem às costas brasileiras, os empresários puxarão a prancha dos trabalhadores e deixarão a eles a conta da lancha.

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