quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Ponte Itaparica: visão apaixonada demoniza projetos

Até às 23h30 de ontem, o abaixo-assinado contra a construção da ponte Salvador-Itaparica registrava 343 assinaturas. Entre elas, as de jornalistas, arquitetos e urbanistas baianos, e intelectuais nacionais de peso como Chico Buarque de Holanda, Cacá Diegues e Luís Fernando Veríssimo, e também locais, como Ruy Espinheira Filho, André Setaro e Roberto Albergaria. Não concordo com eles, que saíram em defesa da causa de João Ubaldo Ribeiro, que no artigo "Adeus, Itaparica", publicado em A TARDE em 25 de janeiro de 2010, lamentou uma das propostas de projeto da ponte apresentado pelo governo do Estado.

Os argumentos, na maioria, são legítimos, de que a ponte vai levar à Ilha um progresso depredador e elitizante, que além de acabar com a beleza natural e tranquila do lugar, vai acentuar um processo já em curso de degradação socioeconômica para o mercado local e seus habitantes. Outros argumentos são radicais, como o de que a ponte vai acabar com a beleza da Baía de Todos os Santos. Bem, a imagem aí em cima do que poderia ser o empreendimento quando pronto, ao meu ver, traz um bom visual a mais para a nossa majestosa Baía.

Trata-se do projeto do arquiteto Ivan Smarcevscki , realizado para a empreiteira OAS.  A construtora, segundo seu diretor na Bahia, Manoel Ribeiro Filho, irmão do escritor João Ubaldo, pretende construir uma ponte de 12 km, com seis a oito pistas, e um vão central de 500 metros de comprimento por 90 metros de altura, para permitir a passagem de embarcações. Além disso, a OAS pretende uma preservação rigorosa da contracosta, a criação de um Parque Estadual no Distrito de Baiacu (reserva de mata atlântica) e condomínios fechados na parte central da ilha, que já estaria “degradada sob o aspecto ambiental”. Essas informações foram dadas por Manoel à repórter Katherine Funke, de A TARDE.

É, sem dúvida uma prova de um claro interesse de expansão imobiliária na Ilha. Mas essa é apenas uma das propostas, outras estão em análise, segundo o governo. Não deverão ser lá tão diferentes,  visto que a Camargo Correia também anunciou intenção de empreender a obra.

Mas a luta contra a sede capitalista não pode, no entanto, abortar de antemão a construção da ponte. Sou a favor dela, porque ela pode levar desenvolvimento ao lugar, hoje um paraíso natural esquecido,  de difícil acesso por um deficitário sistema de ferry-boat, e estradas longas, e cuja população e turistas sofrem com a insegurança. Lembremos que os nativos são a favor do empreendimento.

Os argumentos do governo também não podem ser esquecidos. Segundo o secretário de Infraestrutura da Bahia, João Leão (PP), a ponte será uma nova entrada para Salvador, pelo lado sul da capital. O governo estadual visa também o escoamento pela ponte da produção de algodão, soja e outros produtos agroindustriais da região oeste do Estado. 

A discussão é salutar, se colocada sem radicalismos, para os dois lados, tanto os defensores de um naturalismo sem mudanças infraestruturais, quanto os progressistas do lucro fácil. Não seria a hora de fazer uma ponte entre eles para pôr em voga o conceito mais caro hoje ao mundo, o tal do desenvolvimento sustentável (real e efetivo, não aquele de faixada)? É preciso discutir as propostas com seriedade, sem discursos apaixonados.

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