segunda-feira, 5 de abril de 2010

O que eram aqueles olhos?

Bairro de Castelo Branco, Salvador. Duas semanas atrás. Era uma tarde normal, embora uma mãe e seu filho houvessem sido assinados quando voltavam para casa na noite anterior. Maria de Lourdes, 40 anos, e L.V., 14, foram gravemente feridos por muitos tiros e tombaram na rua. Por quê? Por quem? Para quê? Quem eram aquelas vítimas?

A sociedade ainda não sabe. Como não sabe como era a vida de muitas outras vítimas da violência em Salvador. Isso pouco importa. A maioria das pessoas assassinadas na cidade não é importante, e a maioria dos crimes não é solucionada. Torna-se apenas estatísticas, como tudo. Na verdade, não é nossa culpa. Mas é nossa responsabilidade. Como jornalista, tenho coberto muitos assassinatos e sequer sei quantas matérias escrevi sobre isso. Significa que eu, (e, penso, meus colegas também), não estou ligando muito. Imagine as pessoas que jamais estiveram nas cenas dos crimes.

Então por que a história de Castelo Branco chamou tanto minha atenção? Somente porque ainda estou tentando esquecer aqueles pobres e silenciosos olhos. Daquela tarde, ainda lembro aquele garoto negro e magricela olhando fixamente para mim como estivesse sempre amendrontado por alguém ou alguma coisa. Provavelmente, ele sabia o que havia acontecido na noite anterior, mas não teve a coragem de pensar sobre isso, apenas sentia o clima pesado sob o qual se acostumou a viver. Daí, ao mesmo tempo que não dizia nada com a boca, contava tudo através dos olhos. Era uma espécie de medo e força misturados que faziam dele um misterioso, intrigante e amendrontador adolescente, ou homem, quem sabe. 

Como me colocar no lugar dele? Ainda não tenho a habilidade de compreendê-lo, embora eu tenha tentado. Honestamente. É muito difícil olhar em volta e perceber sua vida perder o sentido dia após dia. Acho que é assim o significado da vida dele. E desta maneira, ninguém pode enxergar o mundo com olhos iluminados, mas apenas com olhos tristes. 

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