sábado, 7 de agosto de 2010

Capa irreverente e ousada, bom para o jornalismo


Não sou Bahia nem Vitória, não torço, na verdade, para time algum. Por isso sobre a polêmica capa do Correio anunciando o vice-campeonato do Esporte Clube Vitória na última quinta-feira, 5, falo estritamente do ponto de vista jornalístico.

Uns, rubro-negros na maioria, estão indignados com a capa por acharem que ela desrespeita o time e a torcida, que lutaram e muito ansiaram pelo título inédito. Outros, muitos tricolores, evidentemente, acharam a capa superdivertida e criativa.

A direção do Esporte Clube Vitória ficou irritada com o jornal e disparou: "A diretoria do E.C.Vitória vem a público repudiar a capa do jornal Correio desta quinta-feira, dia 5 de agosto, que de forma jocosa tentou denegrir a imagem desta gloriosa agremiação, menosprezando o sentimento da imensa nação rubro-negra. Engana-se quem pensa que nós, torcedores do Vitória, sentimo-nos derrotados ou fracassados, pelo contrário. Após quatro anos saímos da Série C para fazermos uma final histórica em nosso santuário, o Barradão".

Como jornalista, acho que o Correio foi felizmente ousado e fugiu ao padrão da cobertura esportiva que monotoniza os jornais em manchetes do tipo "Vitória ganha, mas não leva". Vale lembrar que antes da final o Correio fez uma capa do mesmo estilo mostrando a estrela em cima do brasão do clube, simbolizando assim o desejo de milhares de torcedores baianos. 

O esporte dá margem ao senso de humor e foi disso que os editores do Correio lançaram mão, sem perder a qualidade informativa. Nada aí tem que ver com imparcialidade e ética. Só sentiu-se desrespeitado quem não tem espírito esportivo.

Em tempo, cabe lembrar à direção do Vitória que é politicamente e até eticamente incorreto fazer uso da palavra "denegrir", que também significa tornar negro, para alcançar o sentido de manchar, de macular uma reputação, uma pessoa, uma imagem, etc. Em uma cidade onde 80% da população é negra, esse cuidado se faz mais premente do que se indispor e criticar a liberdade criativa e bem-humorada de jornalistas.

2 comentários:

Brunão disse...

Primeiramente parabéns pelo Blog...sempre com textos de qualidade e muito informativos.

Contudo, quanto à este assunto tenho de discordar. Acho que o Correio errou feio com a capa, primeiro porque usou uma marca registrada de forma abusiva. Alterou o símbolo do Vitória sem autorização e expôs de forma desrespeitosa. Não acho que a liberdade de imprensa proporcione ao jornal alterar uma marca registrada da forma que bem entenda, manchando a imagem de uma pessoa jurídica.
Em minha opinião o Correio usou muito o Vitória enquanto o momento era bom, enquanto a marca era falada em todo Brasil. Após uma partida que foi elogiada em todo o Brasil o jornal quis tripudiar em cima do clube visando agradar ao lado tricolor da Bahia, que vive com dor de cotovelo em ver o rival tão em evidência. Inclusive conheço tricolores que reconhecem o mal gosto da capa, apesar de participar da gozação. Penso que isso seja coisa de torcedro e não de jornalista.

Acho ainda que seria cabível uma ação por danos morais, pois a honra objetiva da pessoa jurídica foi violada com a alteração de seu principal patrimônio imaterial. Contudo, tenho certeza que o Vitória não fará isso por ser um caminho muito desgastante.

Vale lembrar que há pouco tempo (em 2001, se não me engano) o mesmo correio fez uma matéria achincalhando o Barradão e dizendo que não tinha condição de receber uma final de campeonato baiano (não foi em 1999 quando o Bahia entrou com ação). Naquele ano a final ocorreu no Barradão e tudo saiu perfeitamente bem. Nessa final da Copa do Brasil mais uma vez a organização foi perfeita, apesar do gramado castigado pela chuva.
Enfim...essas são minhas considerações sobre o assunto. Até escreveria mais, mas acho que já até me empolguei demais. Abraços

Anônimo disse...

Minha leitura do episódio foi bem diferente. Dirigido por jornalistas de outros estados que desconhecem ou ignoraram as relações apaixonadas das torcidas locais, o Correio* deixou rolar uma capa que, pelo menos em teoria (embora não tenha como ser muito diferente na prática), afugentou 50% dos seus potenciais leitores. Aqui o povo ou é Vitória ou é Bahia... Isso ficou muito claro no dia seguinte, quando eles usaram justamente a palavrinha mágica ("polêmica") para tentar contornar a situação, já que até fogueira de exemplares do Correio* já estava sendo marcada para ser queimada em frente à sede da Rede Bahia. Procure ver quanto o Correio* vendeu naquele dia. Duvido que não tenha havido uma quebra brusca em relação ao padrão. Mas, claro, foi só uma "polêmica"... Ô palavrinha odiosa... Abraço! Sandro