segunda-feira, 18 de outubro de 2010

A democracia mostrou seu fígado

Minha opinião diverge de todos os discursos moralistas e assépticos sobre esse momento da política brasileira. A campanha eleitoral em nível abaixo da linha de cintura, para usar um jargão do boxe, expõe nosso fígado, quando digo nosso, estou falando da democracia brasileira. E serve para assustar os mais crédulos desse nome que é igual a picolé na boca de criança, uma vez com ele não se quer mais largar. Também serve para alertar os mais céticos, de que o veneno de cobra pode funcinar, em doses controladas e certeiras.

Em meio a essa sujeirada toda, levada a cabo por petistas e tucanos, ficamos atentos que era preciso aprimorar os mecanismos de guarda dos dados sigilosos da Receita Federal. Embora já fosse notório o vão do sistema, a mídia só na eleição jogou o problema à esfera pública na dimensão que carecia, embora por caminhos tortuosos e distorcidos, balizados pela disputa eleitoreira e não pelos certames da segurança jurídica e fiscal dos brasileiros.

Pelos mesmos subterfúgios, e aí devam-se, em parte, os louros à imprensa tupiniquim, desmascarou-se a Erenice Guerra e seus tentáculos na Casa Civil e lembraram-se os esquemas de um certo Paulo Preto e suas relações com o candidato José Serra, servindo para tirar de exclusivos do lulopetismo os atos mais suspeitos e escandalosos. Isso é saudável ao processo político, não estou blefando. A politica em nenhum momento serviu-se do altruísmo para fazer valer suas premissas, por mais humanitárias e justificáveis se apresentassem. E a imagem pudica a qualquer político profissional não pode corresponder sempre, nem ajudar, a uma democracia em construção, como a nossa.  

Mas não bastassem tantos suplementos à robustez do poder de nosso povo, veio a "tsunami" ou seria "marola" do engajamento e poder religiosos, travestido da questão sobre o aborto. Pronto. Expusemos nosso fígado, jogamos ele para fora. A política está condicionada a um pathos. A nada mais brasileiros estão tão assujeitados que suas próprias convicções de fé, e, portanto, também religiosas. Resumindo, nossa política é pessoal, personalista e patológica. 

Daí porque a polêmica serviu para escancarar que a democracia brasileira é tão racional quanto a laicidade do entendimento do povo, ainda que seu Estado, por definição, seja laico. Se o povo reza, ora e pede a Deus, não há democracia agnóstica que inverta a ordem das coisas. E, lembro, a religiosidade é a maior questão politica do mundo hoje, bem sabe a dita maior democracia do Mundo, com seu presidente negro, suas vítimas de atentado terrorista,  sua expansão imperialista belicista e seus discuros intramuros raivosos, racistas, protestantes e ultraconservadores de plantão.   

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