quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Ladrão virtual: sujeito inexistente

O mundo virtual tem umas peculiaridades um tanto excêntricas. Pode-se estreitar relações entre pessoas a priori conflituosas, como o jornalista Carlos Castilho noticiou recentemente (ver texto abaixo); pode-se encontrar amigos que há muito tempo não se via, como acontece no Orkut; pode-se expor ideias em potencial acessíveis a um mundo de espectadores inimaginável, em escala planetária, como se faz pelos blogs e pelas redes sociais. As possibilidades são incontáveis. Até aí nada de anormal.

Entretanto, confesso-lhes que tal dinâmica, constituída de uma fluidez informacional que suprime tempo e espaço, me tirou do sério hoje. Pela primeira vez, como milhares de outras pessoas, me apercebi que de um dia para outro um fulano, beltrano, ou, com devida licença, um filho da puta mesmo, levou-me cerca de R$ 800, simplesmente sacando meu rico dinheirinho da minha conta, do meu cofre virtual, como queiram. Ainda não tive a confirmação do banco, mas tudo indica que fui vítima de clonagem.

Disso resultam raiva, perplexidade, indignação e, sobretudo, impotência, diante de tamanha excentricidade. Nos tempos da era da informação digital, um inocente roubado perde absolutamente a oportunidade de conhecer o seu algoz, de ao menos suspeitar de quem ele seja, e em última instância ou, vá lá, de primeira mesmo, para os mais reativos, de sapecar-lhe uma boa surra.

Já ouço quem defenda, sustentando-se na natureza virtual de tal fenômeno, uma maior segurança dos vitimados, já que eles deixam de cair na tentação de brigar com o ladrão e acabar perdendo a vida. Na verdade, bons defensores, tenho de concordar com a análise. O larápio moderno, ou melhor, contemporâneo, pode ter a fineza de roubar sem nos machucar, sem nos constranger física e moralmente. Sou capaz de quase ouví-lo pedir licença antes de utilizar seu cartão, na verdade o meu, digitar calmamente a senha de seis dígitos, e assobiar tranquilo enquanto pensa no valor a ser sacado. De até imaginá-lo (mas quem?), após realizada a operação, sair calmamente da agência, sem pesares, com a grana no bolso.

Ele é esse não sei quem, esse sem nome, esse sujeito inexistente, esse humano virtual (no sentido de vir a ser) que nunca nos será atual, ao menos que tenhamos a sorte da câmera do caixa eletrônico ter o filmado, ter a chance de o banco nos permitir ver as imagens, e de a polícia um dia prendê-lo.  Cá pra nós, eu queria mesmo era ter podido dar-lhe um bons murros e pontapés, enquanto ele passava a mão na minha carteira.

Nenhum comentário: