Não ia escrever uma vírgula sobre o assassinato da garotinha Isabella Nardoni. Mas - enquanto a imprensa fazendo seu papel de informar acaba por contribuir para julgamentos antecipados - veio-me à mente uma grande interrogação: os advogados de defesa acreditam na inocência do casal?
É do senso comum condenar os advogados que defendem acusados de crimes cruéis e bárbaros, aqueles que comovem a opinião pública, do mesmo modo que a mesma antecipa julgamentos (todos da ordem moral) sobre os suspeitos que não raro são previamente levados à condição de "assassinos". Por isso Alexandre Nardoni e Ana Paula Jatobá já são culpados, seja qual for o veredicto do Tribunal do Júri no final de todo esse drama. Os "advogados" de Isabella Nardoni, o povo, não aceitarão outra sentença, que não a condenação.
O ponto é que advogados, assim como todas as pessoas, têm direito de acreditar na inocência e culpabilidade dos suspeitos, quaisquer que sejam eles, imagine se clientes seus. Mesmo ainda se todas as provas e indícios acusem o pai e madrasta de Isabella de terem a assassinado.
Claro que numa perspectiva ética indagaria-se a possibilidade dos advogados defenderem o casal mesmo que estejam inclinados a acreditar na sua culpa. Ora, as brechas de uma investigação policial mal feita e vários recursos jurídicos podem ser habilmente utilizados para conquistar um julgamento favorável, independentemente das crenças pessoais em jogo.
Já de um ponto de vista mais pragmático, indagaria-se até que ponto é válido ir até o fim na defesa de suspeitos sobre os quais caem todas as provas disponíveis sem que haja uma motivação concreta que possa refutá-las.
Não sei se pelo casal Nardoni advoga-se por uma causa perdida. Também não tenho mínima idéia se os advogados acreditam ou não na inocência dos dois.
Uma reflexão sobre a ética de tais advogados é inócua, porque é de foro íntimo deles escolher quem deve ou não defender. Se defendem, estão aparados pelo Estado de Direito que prevê que suspeitos de crimes perversos e imperdoáveis tenham a possibilidade de defesa perante à Justiça.
E a Justiça tarda sempre, às vezes falha como acerta, seja para o bem ou para o mal. Enquanto isso, é bom lembrar que Alexandre Nardoni e Ana Paula Jatobá são inocentes até que se prove o contrário. Melhor dizendo, advogados sempre defendem inocentes.
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