A civilização urbana é caótica. Prova disso é que estamos no Brasil desenvolvido a ponto do gargalo moderno: as grandes cidades não suportam o fluxo alucinante de carros, estão faltando ruas. No mundo todo, alcançamos a impressionante cifra de um bilhão de automóveis. Dariam para acomodar quase toda a população mundial, de 6,6 bilhões de pessoas. Uma utopia já que, apesar de poderem arbrigar até seis passageiros, os carros de passeio são usados normalmente por um egoísta motorista.
Os noticiários são inquestionáveis. São Paulo registrou ontem o maior engarrafamento de sua história, com 186 km de trânsito lento. Em Brasília, cidade referência de planejamento urbano, a frota de veículos aumentou 50% nos últimos oito anos e os congestionamentos viraram rotina na sua principal avenida, a dos três poderes. Problemas graves no trânsito também já são tônica em Belo Horizonte e aqui em Salvador.
Os atuais projetos para solucionar os transtornos do tráfego aparecem e parecem mirabolantes: infinitos viadutos, anéis rodoviários, vias portuárias, os famosos Rodoanel, etc. São buscas paliativas para amenizar o caos do trânsito, que sempre estão nos calcanhares do problema central, pois não alcançam o bojo da questão. Outras reais soluções como investimentos maciços em transporte público, a exemplo de redes extensas e sofisticadas de metrô, são consenso entre especialistas e autoridades, no entanto não surgem como propostas concretas e viáveis. Na capital baiana, o metrô virou um grande elefante branco.
Em suma, é nécessário que o expansionismo automotivo urbano desacelere, caso contrário é bom começar a pensar em cidades tais quais as ilustradas em Minority Report, com edifícios servindo também de ruas. Ia ser uma mão na roda, literalmente, unir a solvência dos congestionamentos à idéia de crescimento vertical, tão prestigiado no PDDU soteropolitano. Mas desacelerar produção de automóveis implicaria numa mudança de uma cultura consumista, que nutre a singularidade, a liberdade, esses valores, que distorcidos, fomentam posicionamentos indivulalistas.
Tal visão é tão predominante, que em palestra na Ufba, ano passado, o ativista da causa verde, o francês Paul Renier, foi tachado de antiquado ao pronunciar uma defesa radial desto modo capitalista de vida. Já este blogueiro, quando entrevistando a secretária municipal do planejamento, Kátia Carmelo, foi indagado incisivamente ao sugerir que era preciso políticas públicas com fins de frear este desenvolvimento automobilístico alucinante. "Como? Proibir as indústrias de produzirem?(risos)", rebateu a secretária.
Tempos de desenvolvimento sustentado. No horizonte, é assustador e paranóico parar de progredir. Loucos, quem pensem algo inverso. Como vou vender meu carro mesmo...
Nenhum comentário:
Postar um comentário