sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

"BBB 8": sexo é o interesse do público


Na pintura de Tamara de Lempicka, o nu é arte e revela beleza e mistério. O quadro é sugestivo para ilustrar que erotismo pode ser e é interessante, sem necessariamente ser banal e obsceno.


Em tempos que a presidente da TV pública brasileira, Tereza Cruvinel, discute o modelo e características da programação a ser adotada na Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), o Big Brother Brasil, símbolo de altos índices no Ibope, levanta uma correlação interessante entre audiência, corpos nus e interesse do público.

Os telespectadores e as revistas de nú artístico (com eufemismo assim chamadas, mas são aquelas de mulher pelada mesmo) estão decepcionados com os dotes físcos - as entrâncias e reentrâncias - das "sisters" do Grande Irmão* televisivo. Talvez venha daí a explicação para que a oitava edição do "BBB" não ter levantado vôos altos - até agora não ultrapassou 40 pontos do Ibope, como esperado.

A relação entre estímulos sexuais e sucessos de audiência é uma vertente já irreversível do programa, e mesmo da televisão brasileira. Em detrimento do conteúdo de qualidade, a predominância comercial dialoga com as expectativas "essenciais" do público, e nada mais natural e orgânico que satisfazer a libido. Novelas sempre se valem de cenas picantes para atrair mais olhares.

O prazer de observar belos corpos há muito não concorre com a satisfação e deleite do desafio e enriquecimento intelectual. A educação e cultura não são jogadores à altura do grande tabuleiro do entretenimento midiático. Em outros termos, quando belas bundas, calcinhas, seios empinados sem sutiã foram menos atrativos do que palavras inteligentes, belas e enigmáticas? O interesse do público se empolga com a "quintessência" das belezas femininas e masculinas em franca exibição, e se entedia com a inexpressividade de idéias inssossas, porque não sensíveis ao paladar que se pode degustar com os olhos e com a imaginação libertina.

A solução nem sempre poderá ser dá ao público o que ele deseja. No entanto, frustrações ao interesse público são arriscadas, se o não previsto é incapaz de fazer esquecer o previsível. A possibilidade da TV pública conquistar audiência - fator imprescindível como Cruvinel admitiu - é se fazer acontecer pela contradição entre os regimes da escassez e ambundância hoje postos na mídia.

Do excesso de entretenimento descartável e erótico da televisão comercial e da ausência quase plena da formação de cultura, nascerá a grande virtude da TV pública: a troca de corpos seminus malhados e pseudo-sensuais, por informação vestida e assexuada. A mesma estratégia não é válida para a Globo, muito menos no caso do Big Brother.

*Tradução em português de Big Brother. O termo foi cunhado pelo escritor Geroge Orwel no livro "1984"

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